- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.

quinta-feira, 18 de março de 2010

HÍPIAS MAIOR DE PLATÃO

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura


AGUSTAVO CAETANO DOS REIS







INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – FILOSOFIA E MÉTODO








LONDRINA
2009
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
Nº 161062






INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – FILOSOFIA E MÉTODO





Pensar a filosofia e o filosofar a partir do método intuitivo e do pensamento de Bérgson. Resumo do diálogo Hípias Maior de Platão destacando 10 definições de Belo acompanhadas de suas refutações.

Professor: João Epifânio Regis de Lima









LONDRINA
2009
SUMÁRIO


APRESENTAÇÃO..................................................................................................03


REFERÊNCIAS.......................................................................................................08



























APRESENTAÇÃO

O alimento da alma pode ser encontrado de diversas maneiras e também pode ser questionado profundamente e até mesmo irritantemente como o fez Sócrates com seu colega Hípias. A obra de Platão nos brinda com um jogo interessante do intelecto e ao mesmo tempo brinca com nossa razão a ponto de querer que ambos deem um nó. Sutis detalhes do diálogo em questão (PLATÃO) passam à margem do foco da conversa e ao mesmo tempo querem mostrar o quanto o estudo de um problema filosófico pode ser apresentado de formas distintas ao leitor atento.
Exemplificando o exposto, temos logo na primeira linha do texto uma exclamação de Sócrates em prol de Hípias: “Oh! O belo e sábio Hípias!”. Na página 06, 287 a, Sócrates exclama: “Por Hera! Belas palavras, Hípias, [...]”. Na página 10, 291, a, Sócrates responde a uma colocação de Hípias com o seguinte dizer: “[...] nem fica bem preocupar-se com nomes tão vulgares um indivíduo como tu, de vestes tão bonitas e com esses calçados, [...]. Infelizes quanto ao andamento do raciocínio, na página 14, 297, d, Sócrates reclama: “[...] é bem possível que nossa bela conclusão, [...]”. Falando em nome de seu inquisidor, Sócrates, à página 16, 299, c, interpreta: “Bela resposta, ele diria.” E assim segue sempre abordando questões do próprio belo entre as lisonjas e ironias, trocadas.
O diálogo trata de uma busca pela explicação do que seria “o belo”, mas o autor nos coloca diversas variantes do belo enquanto habilmente desloca a atenção do leitor do cerne do problema com o qual os protagonistas se debatem para uma conversa informal e mais suave, na qual o belo é sempre presente e implanta, subliminarmente, na psique do inadvertido leitor, intenções afáveis do que se poderia concluir em cumplicidade com os dois, o que seria efetivamente “o belo”.
Um outro exemplo que entendo importante apontar, antes de adentrar propriamente no resumo da obra com as indicações do belo e suas respectivas refutações, e que salta aos olhos podendo ser considerado uma formidável forma do belo, é o carinho e afeto que ambos buscam se tratar refletido no respeito mútuo. Senão vejamos: na página 2, 291, b, Sócrates jubila-se: “Isso sim, Hípias, é que é ser homem verdadeiramente sábio e perfeito!”. À altura final da página 6, 297, e, Hípias responde a uma posição de Sócrates com a seguinte frase: “Compreendo, bom homem, e vou responder [...]”. Página 10, 291, e, Sócrates exulta: “Oh, oh! Hípias! Isso é que é linguagem admirável, sublime e verdadeiramente digna de ti.” O mesmo praticamente ocorre à página 14, 297, b, com Hípias: “É muito certo, Sócrates, falaste admiravelmente.” Outro elogio se apresenta à página 16, 300, d, quando Hípias expõe a fraternidade entre ambos: “Ninguém, Sócrates, como tu, se acha em condições de saber se estou ou não brincando.” Sem contar os aspectos já primeiramente lançados e outros tantos que não merecem ser mencionados, não por não serem de valor, mas por amor à brevidade da apresentação, todavia não maculam em nada a idéia do diálogo Hípias Maior, onde dois grandes sábios se unem na esperança de que, juntos, possam desvendar o mistério de qual seria o critério para reconhecer o que é belo e o que é feio. A proposta, em princípio, apresenta-se como uma espécie de brincadeira elaborada por Sócrates onde imagina que um cidadão, ouvinte de suas palestras, o indagaria e o refutaria sucessivamente consoante já o teria feito. Sócrates tenta, assim, aquinhoar de seu amigo Hípias uma resposta fiel ao intelecto e lógica ao raciocínio.
Perquirido constantemente por Hípias quem seria tal cidadão, Sócrates apenas escapa dizendo que o homem é “[...] sem polimento nenhum, grosseirão e só preocupado com a verdade.” (Página 7, 288, d). Em outra oportunidade, o próprio Hípias, já cansado de tanto ser refutado em suas observações, acrescenta novamente sobre as qualidades do dito homem: “Porém uma coisa eu sei: que é um tipo ignorante.” Ao que Sócrates confirma: “É um sujeito terrível, Hípias.” (Página 8, 290, e). O que termina por complicar a conversa, pois Hípias demonstra querer findar o assunto com uma mera e singela resposta àquilo que lhe parecia fútil e tolo, mas, quando Sócrates mostrava que o “terrível” homem não passava de um indolente, mas que, apesar disso, buscava a verdade, Hípias não tinha recursos que não seguir encontrando novas respostas para as refutações concebidas por Sócrates fingindo ser seu algoz. Essa postura complicava-se diante do fato que Hípias desmerecia sempre o homem, sempre apoiado em outros tantos adjetivos pejorativos, mas quando ele, na pele de Sócrates, encontrava uma falha nas respostas apresentadas pelo sábio Hípias, um paradoxo se apresentava: Como poderia uma figura ignorante ser capaz de refutar tão sagazmente dois cérebros pensantes do porte de Hípias e de Sócrates? É somente mais adiante, quando seus questionamentos que sempre refutam as respostas do amigo já começam a tirá-lo de seu estado sério, é que ele (Sócrates) opta por trazer à lume a identidade do “questionador” como sendo Sócrates, filho de Sofronisco.
Assim, prosseguem o diálogo sempre encontrando pontos que são identificados como belos, mas que logo Sócrates derruba habilmente; senão vejamos agora uns dez desses itens analisados.
Sócrates apresenta algumas definições do belo em si e, dentre outros, dá o exemplo de uma bela jovem sendo a mesma por efeito o que deixa belo todas as coisas (página 7, 288, a). Hípias concorda de plano, mas Sócrates, fazendo-se por seu cruel interlocutor, expõe que ele diria que uma égua, por ser algo criado por Deus, também pode ser bela. Logo em seguida, explica que o belo poderia ser uma bela panela feita por um exímio oleiro, bem polida e redonda e devidamente cozida, e esse pensamento levou à conclusão de que as demais panelas seriam feias, ou uma égua, ou uma donzela, comparadas a ela e a todas as outras coisas verdadeiramente belas. Então, passa a existir um ponto para se avaliar o belo: a comparação!
Logo, a raça das virgens (considerada antes bela) passa a ser comparada com a dos deuses, e assim conclui-se que as virgens já não seriam belas, portanto, o parâmetro não havia sido alcançado, pois se comparassem a raça dos deuses com os homens, não estariam os homens no nível de belo.
Outro inciso que se levanta é que o belo então seria o que orna todas as coisas, e assim as faz parecerem belas; ao que Hípias alega ser então o ouro o próprio belo. Mas o inquisidor de Sócrates questiona então se uma escultura de Fídias seria menos bela por não ter ouro? Ao que, derrotados, compreendem que o ouro não seria o que torna bela as coisas.
Seguem, contudo encontrando que o que convém seria o que deixaria as coisas belas; logo Sócrates indaga o impaciente sábio se o que conviria para uma panela com alimentos: uma colher de pau ou uma de ouro? Ao que, derrotado um vez mais, percebem que o que convém nem sempre é o ouro que orna, por tal, a conveniência não faria belas as coisas. A colher de pau passa ser indicada para mexer o alimento, eis que a indicação do bem, da coisa adequada a um fim não pode ser comparada a outra similar em sua forma como sendo bela.
Hípias, sob aplausos animadores de Sócrates, busca nova resposta: “o que há de mais belo é ser rico, gozar saúde, ser honrado pelos Helenos, chegar à velhice e, assim como sepultou condignamente os pais, ser sepultado pelos filhos, por maneira bela e suntuosa.” Mas Sócrates lembra que buscam o belo em si, que confere beleza a todas as coisas a que se agrega, seja esta pedra, madeira, homem, deus, ação ou conhecimento e é deslocado quando Sócrates faz ruir a idéia imediatamente acima de que não seria belo então o mesmo ato realizado por um herói ou deus.
Sócrates conduz o amigo a crer que o belo seria então a conveniência em si mesma, por isso, o belo seria o que convém. Mas ele próprio refuta a sua idéia que parecia adequada para Hípias, quando mostra que a conveniência faz parecer belos os objetos a que se junta, ante isso, seria uma burla com relação à beleza, se alguém usasse manto ou calçados adequados e fosse ao mesmo tempo ridículo. Por isso, belo não seria o que faz as coisas apenas o parecerem, mas sim as que as deixa belas de verdade.
Caminhando para novas veredas mentais, Sócrates encontra novo pensamento de que não seriam belos os olhos que não enxergam, mas sim os que estejam aptos para esse fim, e acrescenta o mesmo com relação ao corpo que estaria apto a correr e lutar, bem como um cavalo, vasos, veículos, navios, instrumentos, ocupações e instituições, partindo do pressuposto que todos, nessas condições, sejam úteis e por assim ser, belos. Segundo o pensamento socrático exposto no diálogo, o que seria capaz de fazer alguma coisa útil, seria belo e feio o incapaz. Entusiasmado, Hípias valoriza o raciocínio, dando como exemplo de belo via capacidade, a política bem administrada.
Mas, para desespero de seu colega, Sócrates refuta o próprio pensamento, quando atribui à capacidade, poder aos homens de fazer o bem e/ou o mal, por isso, quando a capacidade dá poder ao homem de realizar uma maldade, tal gesto jamais poderia ser considerado belo.
Sem desistirem da incessante busca, ambos parte para novo juízo: os belos corpos, as belas instituições, a sabedoria e tudo o mais que se referiram até então, seriam belos por serem vantajosos. Em prol disso, o belo seria o vantajoso. Assim seguindo, encontraram que o vantajoso seria o que produz o bem, e mais, que produzir alguma coisa seria a causa dessa coisa, dessa forma, a causa do bem seria o belo. Mas concluem, depois de um grande esforço, que a causa não poderia ser efeito, tampouco o efeito a causa, ou seja, a causa não poderia ter como efeito o bem, por reflexo, a causa não poderia ser o belo e por conseguinte, o bom não pode ser o belo.
Incansavelmente partem para um novo prumo, de que seria belo aquilo que nos proporciona prazer, mas só aquele alcançado pelas vistas e pelo ouvido. O que nos deleita pela vista e pelo ouvido seria o belo. Caem em nova armadilha, quando o próprio Sócrates conclui que não fariam parte desse conceito alcançado, o alimento, a bebida, o amor, por não serem possíveis de serem vistos ou ouvidos, conquanto as demais sensações também proporcionam muito prazer. Sendo assim, todos os prazeres que existem, mas que não viessem dos ouvidos e da vista, não poderiam figurar como belos, assim, como um outro prazer qualquer sendo maior ou menor, não poderia ser considerado belo?
Negado o último encadeamento de juízo, chegam a outra reflexão, de que o belo seria o prazer útil, mas, já esgotados, percebem que o útil seria aquilo que produz o bem, mas o produtor e o produto são diferentes, por tal, voltavam ao ponto de partida já abordado, de que o bem não pode ser o belo, nem o belo pode ser o bom, se cada um deles for algo diferente.
Hípias, já parecendo exausto do infindável questionário e já percebendo não ter um fim aquela conversa, mostra, de forma um tanto rude, a Sócrates que seria belo poder alguém dizer bem um ótimo discurso num tribunal, num conselho, diante de um autoridade pública, a tal ponto de persuadi-la e que a mesma leve dali a salvação de si próprio, de seus haveres e de seus amigos, devendo Sócrates se aplicar a isso, abandonando as futilidades a que estava se dedicando, como tolices e palavrório vazio.
Calmo, mas sem deixar de mostrar que havia ficado um tanto quanto ressentido por ter sido maltratado com expressões rudes, Sócrates optou por concluir o diálogo, mas não sem antes deixar claro ao amigo Hípias, que era sim admirável realizar tais gestos com uma oratória e um discurso bem feito, mas que o filho de Sofronisco, lhe mostraria, finalmente, que Sócrates deveria se envergonhar de falar a respeito das belas maneiras de viver, sendo ignorante, visto Sócrates não saber até mesmo o que venha a ser beleza. De que modo poderia saber se um discurso está bem ou mal composto se sequer sabe o que é belo?
Assim, ainda respeitosamente, voltando-se ao seu amigo, alegou já ter ouvido diversas injúrias e repreensões dele, assim como acabara de ouvir do amigo, não sabendo se seria melhor morrer ou viver, numa espécie de premonição, mas concluiu que talvez fosse merecedor delas, mesmo sem saber se isso seria de alguma utilidade. Mas, sabiamente deu a volta por cima, quando optou por encerrar o diálogo com Hípias, dando conta de que terminaria pelo menos por compreender o significado de um provérbio, o de que “o belo é difícil”.
Assim Platão encerra esse episódio.

REFERÊNCIAS

PLATÃO. Hípias Maior. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná, 1980.

Um comentário:

  1. Belo texto ,de maneira bem clara e objetiva puder compreender melhor esse diálogo.

    ResponderExcluir