- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.
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sábado, 14 de agosto de 2021

A AFIRMAÇÃO DA VONTADE, O SOFRIMENTO E O SUICÍDIO

Universidade Estadual de Londrina - Departamento de filosofia

Texto para Seminário - Ética e Política em Schopenhauer

Título: A afirmação da Vontade, o sofrimento e o suicídio.

Professor: Dr. Aguinaldo Pavão

Aluno: Agustavo Caetano dos Reis

Data: 25 de março de 2021.

A AFIRMAÇÃO DA VONTADE, O SOFRIMENTO E O SUICÍDIO

 

PREÂMBULO

Para que possamos iniciar de maneira um tanto quanto mais abrangente, importa que conheçamos algumas particularidades do filósofo Arthur Schopenhauer para entendermos as raízes do sofrimento, suas ideias sobre suicídio, a consolidação de seu pensamento sobre ética, moral, política e sobre a afirmação da Vontade no mundo diante do concurso das próprias experiências do mesmo. A construção de sua obra é profunda, densa, um legítimo tratado que mapeia o caminho que conduz à subjetividade de sua própria expressão que quer tirar o leitor das ilusões conceituais construídas para tolher a liberdade de conhecer e ser atuante no mundo.

Schopenhauer, nascido em Danzig (Polônia), aos 22 de fevereiro de 1788 e falecido em Frankfurt (Alemanha), aos 21 de setembro de 1860, de certa forma foi um privilegiado desde a adolescência, tendo viajado o mundo à custa de oferta de seu pai para aprendizado de negócios, coletou dados sobre a dor que as pessoas sentem com a vida, o que pode tê-lo iniciado ao sentido de pessimista. Aos 17 anos seu pai morreu talvez por suicídio (o que nos importa no presente texto). E assim, pôde deixar de fazer uma atividade que não gostava (negociante) e se dedicar aos estudos indo cursar medicina. Em Berlim se doutora em filosofia, em cuja tese, entendia que para tudo no mundo existe uma razão, todos os aspectos da realidade estão vinculados ao empírico, ao abstrato, às verdades matemáticas e ao Eu, o que lhe proporcionou analisar porque as coisas acontecem baseados nesses 4 princípios racionais. Ao não ter boa avaliação pela crítica, apesar de boa nota, coleciona um rol de frustrações acadêmicas seguidas por sua mãe que considerava sua tese um tratado farmacológico. Teve a oportunidade de conhecer Johann Wolfgang von Goethe, uma das mais importantes figuras da literatura alemã, bem como o orientalista Friedrich Majer que o colocou por dentro do mundo da antiguidade indiana e o pensamento oriental. E foi então que na casa dos 30 anos escreveu O mundo como vontade e como representação. Depois conhece nova frustração dentro da Universidade de Berlim, junto a Hegel, ao lecionar sobre o tema: O ensino do mundo e o espírito humano onde obteve parcos alunos fazendo-o desistir do intento. Então depois de mais dissabores, problemas de saúde, medo do cólera, opta por ir para Frankfurt vivendo por 27 anos até o final da existência, ali foi considerado o filósofo de Frankfurt, por ter se dedicado efetivamente a escrever. Filosofava não apenas com a razão, mas também com o corpo chegando a inspirar Nietzsche, Freud, Richard Wagner, Thomas Mann, dentre outros. Produziu ali, outras obras, textos aforísticos que intitulou Parerga e Paralipomena com abordagem mais simples onde conseguiu sucesso e também a obra Sobre o fundamento da moral[1].

 

OBJETIVO

Assim sendo, esse breve e sucinto apanhado sobre a vida do filósofo Arthur Schopenhauer nos coloca diante dos três livros acima referidos cujos trechos sobre o tema Vontade, suicídio e o sofrimento serão aqui analisados.

Através do presente texto, busca-se apresentar uma parte dos argumentos do filósofo sobre o suicídio, o sofrimento do ser humano, da atuação da Vontade no mundo e usando o corpo como objetivação de seu agir, reconstruindo e analisando suas argumentações nas seguintes passagens de suas obras que se apresentam: Mundo como Vontade e como representação-T-I; § 69; Sobre o fundamento da moral; § 5º e 7º e Parerga e paralipomena II; capítulo 13.

Para isso, importa ainda antes, destacar que não se pretende colocar uma ideologia sobre a opinião de Schopenhauer no que concerne particularmente à sua abordagem em especial sobre o suicídio, ainda mais pelo fato de se ter em análise apenas os escritos acima elencados, que podem parecer, em um precipitado momento, que o filósofo defenda a subtração da existência por considerar o mundo um ambiente de sofrer e que o melhor seria não ter nascido.

Precisa-se levar em conta que o livro O mundo como vontade e como representação é uma obra vasta, possuindo dois Tomos, sendo que o Tomo 1, ele o divide em 4 Livros: Do mundo como representação; Do mundo como Vontade; Do mundo como representação e Do mundo como Vontade, (primeiras e segundas considerações) e que o capítulo que abordamos desse livro pertence às segundas considerações do Livro 4.

Sabemos que em outras passagens que não estas, ele demonstra exatamente o oposto, rejeitando o suicídio por conta de sua conexão particular com sua metafísica, onde considera ser o suicídio um erro, mas não um crime, o que começa a preparar o leitor para entender a distância da averiguação que ele faz do ato em si para as questões mundanas e espirituais associadas ao problema, até mesmo como um viés psicológico.

Para ilustrar rapidamente o que dissemos, vejamos o que o próprio autor apresenta quando ao se pretender negar a Vontade aniquila-se exatamente a possibilidade de negar a Vontade sendo o suicídio “um ato inútil e insensato.” (MVR, p. 358, T-I), pois “Se o querer viver existe, ele não pode, em sua qualidade de coisa puramente metafísica [...] ser destruído por potência alguma (Vontade); apenas o fenômeno pode ser aniquilado em tal ponto do espaço e do tempo” (MVR, p. 502, T-I) (Parêntese nosso).

 A necessidade de explicar a sua tônica de expressão da vida ao negar a Vontade, através do suicídio, seria então tal atitude – matar-se - um equívoco ao destruir o corpo que apenas é um fenômeno da Vontade e não a Vontade em si. A Vontade segue incólume, o corpo se vai.

Schopenhauer, como veremos, demonstra alguns pontos a favor da liberdade de se colocar fim ao sofrimento do corpo no mundo, como expressão da Vontade. Apresenta identificações de sofrimentos; mostra o suicídio comum por motivos outros que não o conhecer libertador; e então oferece para esse exercício amplo de sua filosofia, a possibilidade que busca demonstrar nesses tópicos à parte, um suicídio como caminho natural dessa mesma expressão vital. E não como um ato egóico ou inconsciente calcado numa ilusão ou em conceitos dogmáticos. Demonstra em outros momentos sua visão do direito e da liberdade ética e moral de dar fim ao sofrer, sofrimento este que ilustra através da negação da Vontade ou, por fim, de sua afirmação como um ente maior atuante sobre a objetivação no mundo através do veículo humano; problematizações essas que queremos apresentar com este material fazendo-nos valer de trechos escritos em suas obras.

As arguições de Schopenhauer nos tópicos que serão abordados, podem nos levar a entender, ou conduzirem o leitor a perceber que ele passa a investigar que o cessar do sofrimento do corpo que se expressa no mundo como manifestação fenomênica da Vontade, pode ter seu fim na livre escolha de interromper a existência mediante uma ascese superior advinda do conhecimento. Portanto, adiante serão elencados os seus pontos de vista que defendem a livre ideia do suicídio como termo do sofrer nestes excertos.

Buscaremos detalhar cada passo argumentativo dado por Schopenhauer evitando-se acrescentar comentários pessoais durante os mesmos, expondo-os como diamantes brutos ao olhar do leitor.

 

ANÁLISE

Assim sendo, iniciamos a análise na sequência indicada acima, partindo do § 69, na p. 504 de O mundo como vontade e como representação - Tomo-I, que transcreveremos como – MVR por amor à celeridade do texto.

Ao que o filósofo entende dentro de seus limites e considerações, que negar a Vontade da vida é um ato de liberdade, mais que isso, uma mudança transcendental a partir do instante em que se efetiva o suicídio, suprimindo a fenomenologia individual da Vontade. Em seguida, recoloca o acontecimento do suicídio como algo que não nega a Vontade, mas a afirma. (Linha 6/7, §69, p. 504, T-I).

Atesta que os prazeres são repugnantes. Há insatisfação com a vida e assim renuncia não a Vontade de viver, mas à vida. Todavia, o corpo oferece obstáculos como exemplo, sua defesa maior: o sofrer. (Linha 8/13, §69, p. 504, T-I).

Schopenhauer diz que a vida não é livre e está travada no próprio esforço de se viver com os obstáculos do corpo, além da razão e em sendo a essência de vida de tudo, está intocada pela razão, nascer e perecer eis que à Vontade não falta o fenômeno, também não faltaria o suicídio. (Linha 13/22, §69, p. 504, T-I).

Pela certeza de a Vontade permanecer viva na fenomênica da própria vida, teria o suicídio motivo e suporte (Linha 19/20, §69, p. 504, T-I).

Tendo em conta que pela visão schopenhauriana na Unidade Trimurti – hindu -, de que a vida se manifesta tanto no suicídio, como no viver e na procriação, não seria para ele incorreto pensá-lo como uma expressão fenomênica de vida no próprio suicídio. (Linha 22/27, §69, p. 504, T-I).

Defende que o suicídio não interfere na espécie, apenas no indivíduo. Mas há uma ressalva discreta no citado hinduísmo que é apenas a Unidade do Trimurti que CADA homem É por inteiro. (Grifos nossos). (Linha 24/25, §69, p. 504, T-I).

O filósofo busca destacar para respaldar suas palavras, através de sua concepção, que a vida é algo permanente, mas associa à vida algo de essencial e nisso seria o sofrer. (Linha 28/30, §69, p. 504, T-I). Portanto, voluntariamente se matar não faz diferença para a vida, seria um fenômeno individual que não interferiria no fluxo da própria vida no mundo.

Ressalta que Maia (ilusão no hinduísmo) teria no suicídio sua obra-prima de contradição da Vontade de viver na luta constante das forças naturais, uma revolta contra a travação da vida, ou seja, o sofrimento. (Linha 01/11, §69, p. 505, T-I).

Para Schopenhauer, o suicida não tem como deixar de querer, mas parar de viver ele consegue. Insiste que a Vontade se afirma justamente tendo o corpo morto. (Linha 14/15, §69, p. 505, T-I). Reforça que a Vontade permanece inquebrantável a partir do instante que o sofrimento se aproxima do corpo abrindo possibilidade para a própria negação da Vontade, ao rejeitá-la (a Vontade) ele destrói apenas o fenômeno dela que é o corpo. (Linha 21/23, §69, p. 505, T-I).

Argumenta de forma profunda, que se houvesse um motivo moral puro, a pessoa poderia guardar-se do suicídio, não evitando o sofrer, eis que o sofrimento o conduziria para a supressão da Vontade de vida. (Linha 26/31, §69, p. 505, T-I).

Dá o exemplo do pai que mata seus filhos e em seguida a si, pelo fato de que está enredado na ilusão de que o fenômeno seja a essência e isso o abala a ponto de querer evitar o padecimento aos filhos no futuro e a si no agora das penúrias. (Linha 07/13, §69, p. 506, T-I). Schopenhauer sugere a castidade como saída para se evitar esse tipo de mortandade filial, eis que a Vontade não pode quebrar por atos de violência, apenas se quebra sua expressão fenomênica no mundo, neste tempo. (Linha 18/21, §69, p. 505, T-I).

Defende que o CONHECIMENTO seria a única forma de se suprimir a Vontade, pois ao aparecer livremente (a Vontade) através do fenômeno conhece a sua essência, eis que somente à luz do caminho ofertado pela natureza se encontra a redenção da Vontade. (Linha 22/28, §69, p. 506, T-I).

Falando da ascese como uma forma elevada de suicídio isola-a dos fanáticos que a obscurecem, no entendimento de Schopenhauer a completa negação da Vontade através do ascetismo (um jejum por exemplo) cessa de viver simplesmente por deixar inteiramente de o querer. (Linha 31/34, e 2/7 §69, p. 505-6, T-I).

Compara a morte do asceta por inanição com superstição e conclui que os dogmas tomam sua razão fazendo crer que um SER superior o ordena o jejum fatal, mera ilusão. (Linha 07/12, §69, p. 507, T-I).

Dá parecer que se entristece ao notar que todos os diversos relatos elencados em seu texto da página 507 atestem ser a morte por ascese um ato de loucura. Apresenta por fim neste parágrafo um último relato buscando nele a inserção no contexto da morte voluntária. (§69, p. 507-8, T-I). Nesse relato consta “ter sido (o pretenso asceta suicida) impelido ao ermo pelo espírito de Deus”. E, apesar de todos os dados coletados, em particular a não-causa da morte, o filósofo afirma ter essa sido uma “morte voluntária”. (Linha 05/12, §69, p. 508, T-I).

Na busca por mais detalhamentos sobre o tema estudado por Schopenhauer, debruçamo-nos na coleta de material junto à sua obra Sobre o fundamento da moral no § 5º. Outorgaremo-nos a liberdade de tratar esse livro por SFM para facilitar a dinâmica. Assim seguimos.

Para levar ao tema do suicídio, o filósofo aborda o dever e afirma que o dever em relação ao indivíduo não procede por ser equiparado ao dever de direito, onde ninguém faz nada sem o querer (p. 31, SFM). Assim quanto ao amor, isso seria fácil, pois o amor próprio já é algo – segundo Schopenhauer – sem obrigação de direito, mas de dever, muito pouco. Aponta seu precursor (Immanuel Kant) para ilustrar o dever de autopreservação ligado ao amor próprio (p. 32, SFM). Levanta a memória do medo que tira a razão para não se cometer suicídio e reforça que um ser humano esclarecido, não animalescamente limitado ou preso à dor espiritual de uma futura punição ou castigo do passado, tem na natureza a liberdade de se matar, se assim o quiser. (P. 32, SFM).

Parece brincar com Kant na convicção de que reflexões não evitam tal morte (suicídio). Menos ainda a ética.

Schopenhauer nesse § 5º, coloca três exemplos de ética ou condutas que poderiam ser amorais ou imorais, o onanismo, pederastia e bestialidade enquadrando-as em nichos outros que não a moral. Tudo para desconstruir o autodever como força maior a evitar o querer do suicida. (P. 33, SFM).

Existem ainda considerações sobre ética, moral, justiça, caridade, abordados no § 7º de O Fundamento da moral (pp. 67-75), onde o filósofo avalia os conceitos formulados por Imannuel Kant em particular a “uma máxima que possas ao mesmo tempo querer que valha para todo ser racional” onde todos possam agir segundo ela como um verdadeiro princípio moral.

Questiona o que se pode ou não querer (p. 68, SFM), consoante um regulamento de moral sem que haja influência do egoísmo, o que poderia viciar a moral pelo direito do ocupante no ato de decidir pela justiça e pela caridade (p. 69, SFM).

Insiste que o egoísmo seria o “interprete oculto” da fundamentação do princípio supremo da moral em Kant (p. 72, SFM).

Reforça, para chegar ao tema do suicídio, a questão onde Kant argui sobre a repartição dos deveres e deveres de direito e de virtude (p. 73, SFM), levando em conta que os Deveres de direito não pudessem sequer serem pensados sem contradição e a de Virtude, seria impossível o querer.

E aqui enlaça o tema do suicídio para pontuar sua opinião, com os exemplos dados por Kant, onde em “primeiro lugar, os deveres de direito, por meio do assim chamado dever para consigo mesmo, o de não se poder dar cabo da própria vida livremente” (p. 74, SFM). Não sendo possível, para Schopenhauer que essa máxima seja sequer possível de pensar como Lei Universal da Natureza.

Afirma que o homem “se agarra ao suicídio logo que (...) subjugado pelo tamanho do sofrimento”, como experiência de todos os dias mostra contrário a proposta de Kant. Essa força é tamanha que sequer o medo da morte a segura.

Fecha a observação lembrando que os argumentos de Kant não foram capazes de segurar até hoje ninguém cansado da vida e é categórico ao dizer que, “Portanto, uma lei natural que incontestavelmente existe como fato e é ativa no dia-a-dia é explicada (...) como impossível mesmo de ser pensada sem contradição”. (P. 74, SFM).

Ato contínuo seguimos a investigação das considerações de Schopenhauer sobre o suicídio em Parerga e paralipomena II; capítulo 13, onde ele nos introduz a um pensar diante de novo ambiente, onde justiça e dogma religioso são avaliados como entraves sofísticos para anular quaisquer tentativas de romper o sofrimento valendo-se da liberdade de pôr fim à existência.

Logo de início o filósofo questiona o judaísmo que teria como filosofia própria a condenação do suicídio como ato covarde ou injusto (L.1/14, cap. 13, p. 321). Nesse meio tempo destaca a dor dos que ficam sem herança ou com a pecha de ter um parente criminoso ao se suicidar (L.18/25, cap. 13, p. 321 e L. 1/14 p. 322).

Schopenhauer entende que não há que imputar penas contra o suicídio, pois o cometedor do ato já se puniu com o ato em si. (L.12/16, cap. 13, p. 322).

Cita na nota-2 da página 322 dos Parerga, Plínio e sua “morte oportuna”, ou seja, que cada um possa se dar a si mesmo uma morte adequada.

Menciona as defesas feitas ao suicídio como uma escolha argumentativa, não injusta ao indivíduo; compara a desgraça com a fortuna (L1/15, cap. 13, p. 323), ação nobre e heroica entre os estóicos; hindus como hábito cultural (L.17, cap. 13, p. 323).

Schopenhauer ainda levanta uma dúvida em Hamlet, na certeza de ser absolutamente aniquilado na morte a elegeria a vista de índole no mundo. (Grifo nosso) (L.1/4, cap. 13, p. 324).

Acusa a Inglaterra de ter se unido ao clero e num ato de vergonha refutarem a obra de Hume – Essay on suicide (L.8/22, cap. 13, p. 324).

Diz Schopenhauer nesse capítulo que a única razão contrária ao suicídio seria moral, pelo entendimento que não há prova de substituir um mundo de miséria por outro diferente. Mas que não concorda que isso (o suicídio) seja um crime visto pelos eclesiásticos (L.23/29, cap. 13, p. 324).

Argumenta que o único ponto de vista elevado, ético e superior ao suicídio é o ascetismo que o honrava (L.30/36, cap. 13, p. 324). Levanta a hipótese de as religiões temerem o suicídio como uma denúncia contra elas (L.1/6, cap. 13, p. 325).

Parece espantar-se com o fenômeno do corpo como Vontade de viver (L.13/15, cap. 13, p. 325). Quando o corpo sofre nada mais importa que não seja o restabelecimento, assim como os espirituais acima dos corporais. A facilidade do suicídio está na pausa dessas dores (grifo nosso), pois não há autosuperação a quem está enfermo de melancolia. (L. 19/31, cap. 13, p. 325).

Poetiza comparando a vida a um sonho que se é obrigada a interromper por força da angústia. (L.3/4, cap. 13, p. 326).

Filosoficamente traz a ideia que o suicídio seria aceito ainda como experimento sobre qual mudança a existência experimentaria e que conhecimento a humanidade teria com a morte. Mas o experimentador perde a identidade da consciência com a capacidade de ouvir a resposta. (L.5/10, cap. 13, p. 326).

 

OBSERVAÇÕES

É através de outros capítulos ainda em O mundo como vontade e como representação (p. 500 Tomo-I) que se pode observar a forma como Schopenhauer tem a Vontade se afirmando no suicídio “pela supressão mesma do fenômeno, pois ela já não pode se afirmar de outra maneira”. Negar a Vontade que se expressa fenomenicamente no mundo tirando dela a substância pela destruição do corpo, não a anula. O que se quer é anular o sofrimento, eis que a Vontade seria a precursora do sofrer, por isso não há um suicídio absoluto, ainda mais por se tratar de um ato individual e não global, ou até mesmo universal.

Ainda temos em conta a proposta da via do ascetismo para demonstrar que o filósofo não pretende com seus argumentos negar a Vontade, mas afirmá-la, primeiro identificando que entende por ascetismo “propriamente aquela aniquilação refletida do querer que se obtém pela renúncia aos prazeres e pela busca do sofrimento”. (P. 491, MVR-T-II). Para chegarmos a “Longe de ser uma negação da Vontade, o suicídio é uma marca de intensa afirmação da Vontade”. (P. 499, MVR-T-II). Isso conduziria à libertação, sem injustiça religiosa ou estatal, tampouco contrária à natureza, sem um ato de astúcia ou egoísmo escondido no véu de uma ilusão; talvez um erro, mas não um crime.

A Vontade permaneceria inquebrantável ao instante que o querer cesse com o suicídio cessando também o fenômeno, mas não sua afirmação exata no ato da opção do asceta pela morte pelo corpo. Uma ação consciente acima do querer.

 

ENCERRAMENTO

Percebemos da leitura “seca”, que propositadamente quisemos trazer de trechos garimpados desses capítulos, que Schopenhauer parece querer nos mostrar que para sermos totalmente livres precisamos entender detalhadamente os conceitos formais de ideologias construídas por humanos com interesses subjetivos e egoístas, criando ilusões que disseminam o medo de dano (político, ético ou moral com sanções aos familiares) e o medo metafísico (com os dogmas religiosos de pecado) ao não se poder ter direito sobre o próprio querer, seja ele inclusive dar cabo da vida.

Também esclarece que matar-se por motivos outros que não seja o conhecimento de si como expressão de uma Vontade livre, pode ser um erro.

Dúvidas podem ser lançadas, como por exemplo estar puramente desobstruído de uma ascese viciada por pensamentos egoístas ou ainda a necessidade de redenção da Vontade, a partir do instante em que essa mesma Vontade seria uma força acima do querer humano, portanto, deveria ser redimida de quê?

Pontos que deixamos em aberto a serem melhor analisados futuramente no oceano profundo e didático do trabalho de Arthur Schopenhauer.

Assim, encerra-se este micro apanhado sobre a visão desse filósofo e sua contribuição para o crescimento do indivíduo, não dando por concluído o assunto pela enorme gama de aprofundamentos que se pode continuar de seus estudos.

 

Referências

 

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. Tomo I.

Tradução, apresentação, notas e índices de Jair Barboza. 2ª ed. São Paulo. Editora

Unesp, 2015.

 

SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre o fundamento da moral. Tradução de Maria Lúcia Mello Oliveira Cacciola. 2ª ed. São Paulo. Editora Martins Fontes. 2001.

 

SCHOPENHAUER, Arthur. Parerga y paralipómena. Tomo II – Traducción introducción y notas de Pilar López de Santa María. Volumen II. Clássicos de la cultura. Madrid. Editorial Trotta S/A. 2009.

 

Bibliografias utilizadas

 

BÉZIAU, Jean-Yves. O suicídio segundo Arthur Schopenhauer. Discurso (28), 1997: pp. 127-143.

 

SANTOS, Élcio José dos. Algumas considerações sobre a questão do suicídio na filosofia de Arthur Schopenhauer. Revista Voluntas: 2º Semestre 2010. Vol. 1, Nº 2.

 

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. Tomo II.

Tradução, apresentação, notas e índices de Jair Barboza. 2ª ed. São Paulo. Editora

Unesp, 2015.



[1] Schopenhauer: Só a arte nos livra da dor. João Luiz Muzinatti.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

AOS PESQUISADORES

Estamos concluindo aqui, com esta última postagem, a função do Blog FAZENDO PENSAR (FIAT PENSARE) certos de que estamos colaborando com o grande fluxo de pesquisadores, investigadores, curiosos, alunos, instrutores, pedagogos, orientadores, monitores, e afins.
O Blog é um retrato temporal do primeiro dia de Curso de Filosofia do autor até o último dia, passando pelas atividades curriculares, presenciais, atividades extraordinárias, complementares, estágios, pesquisas, entrevistas, trabalhos, resumos e com o corolário que ora se apresenta: o Trabalho de Conclusão de Curso.
Como poder-se-á notar, trata-se de um trabalho inédito que gerou muita polêmica em função de sua própria temática que foge um tanto da norma dita acadêmica. Mas por tal motivo mesmo ele é um fator revolucionário como poderá ser observado no corpo do mesmo.
Deixamos o alerta trivial a respeito do PLÁGIO.
Dar os créditos é certeza de sono tranquilo e paz de espírito com seus instrutores.

Abraços e sucesso a todos!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

AOS PESQUISADORES

Outro colega capaz e interessado em auxiliar este Blog e aos pesquisadores dos profundos e apaixonantes estudos filosofais é RICARDO LUÍS DO PRADO, o qual também formou-se junto conosco e aderiu à proposta de tornar público a todos o resultado de seu esforço para aqueles que buscam aprender com o exemplo bem-sucedido dos demais.

Abraços a todos e seguem as mesmas advertências sobre o plágio sempre colocadas para os incautos. Dêem os respectivos créditos e durmam tranquilos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A CONCEPÇÃO DE DEUS SOB ÓTICA CARTESIANA: ANÁLISE HISTÓRICA E DA OBRA MEDITAÇÕES

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO





LICENCIATURA EM FILOSOFIA





LETÍCIA REGINA DOS SANTOS RODRIGUES


A CONCEPÇÃO DE DEUS SOB ÓTICA CARTESIANA:

ANÁLISE HISTÓRICA E DA OBRA MEDITAÇÕES


SÃO BERNARDO DO CAMPO

2011

LETÍCIA REGINA DOS SANTOS RODRIGUES - 161072


A CONCEPÇÃO DE DEUS SOB ÓTICA CARTESIANA:

ANÁLISE HISTÓRICA E DA OBRA MEDITAÇÕES



Artigo de Conclusão apresentado ao curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo – Pólo Londrina-PR.

Linha de pesquisa: História da Filosofia.

Orientação: Profa. Dra. Suze Piza



LONDRINA-PR. - 2011

LETÍCIA REGINA DOS SANTOS RODRIGUES



A CONCEPÇÃO DE DEUS SOB ÓTICA CARTESIANA:

ANÁLISE HISTÓRICA E DA OBRA MEDITAÇÕES



Artigo de Conclusão apresentado ao curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo – Pólo Londrina-PR.

Linha de pesquisa: História da Filosofia.

Orientação: Profa. Dra. Suze Piza.



Data de defesa: ____/____/________.

Resultado: _____________________.







BANCA EXAMINADORA





Prof. Dr. ___________________________________________________________

Universidade Metodista de São Paulo





Prof. Dr. ___________________________________________________________

Universidade Metodista de São Paulo





Prof. Dr. ___________________________________________________________

Universidade Metodista de São Paulo




Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois o meu desejo é que tudo o que eu faça, seja por Ele e para Ele;



Dedico também, este trabalho aos meus queridos alunos, filósofos em potencial; para que compreendam que até a filosofia, aponta para Deus;



Em especial, dedico este trabalho a minha mãe América, que tanto se orgulha dos meus estudos e de minha fé!



Agradeço a pessoa de Jesus Cristo, presença constante em cada momento, sempre me dando a força e a inspiração necessária para que eu nunca desista! E também por enviar as seguintes pessoas para que fosse possível a conclusão deste sonho:



Sou grata a minha querida mãe, América, que não somente pagou o curso, mas juntamente com meu pai Paulo (em memória), sempre me incentivou a estudar, pensar, ler, fazer palavras cruzadas e desenvolver o caráter e o conhecimento que possuo hoje, que tornou possível a conclusão do curso;



Agradeço a minha querida colega (veterana) e amiga Eleanor Teruya, que me emprestou livros, corrigiu e me mostrou que era possível escrever sobre o tema escolhido, e por cada conversa que sempre me leva a uma útil descoberta filosófico, teológica ou historiólogica;



Sou grata ao querido colega (veterano) José Matias, que compartilhou comigo seu vasto conhecimento tecnológico, peça fundamental na formatação deste trabalho;



Agradeço a orientadora Profa. Dra. Suze Piza, pela indicação de leitura, disposição e principalmente pelas respostas imediatas e pelos e-mails lembrando que o tempo de entrega estava chegando;



E agradeço a todos os meus colegas e professores, pois aprendi com cada um de vocês! Nossa turma possui grandes filósofos!


“Se um tal poder residisse em mim, decerto eu deveria ao menos pensá-lo e ter conhecimento dele: mas não sinto nenhum poder em mim e por isso reconheço evidentemente que dependo de algum ser diferente de mim.”



(René Descartes, Meditações. Meditação Terceira).





RESUMO


O presente artigo visa expor a visão de René Descartes sobre a ótica divina, partindo de uma análise histórica e de uma releitura sobre a obra cartesiana Meditações. O filósofo René Descartes é conhecido como racionalista que marcou a história da filosofia no século XVII, inaugurando a Filosofia Moderna. Apesar de muito estudado e conceituado na filosofia contemporânea, há quem duvide da interpretação de suas teorias e considerações acerca da existência de Deus, pois segundo o próprio filósofo era necessário duvidar de tudo. Posteriormente ele irá concluir que é impossível a razão sem uma substância imutável criadora. E o presente trabalho parte em busca da análise específica desta temática cartesiana, onde pela razão, Descartes busca comprovar a existência de Deus.

Palavras-chave: Deus, Cartesiana, Ótica Divina, Existência de Deus, René Descartes.


ABSTRACT



This article to expose the view of René Descartes on a divine perspective, from a historical analysis and a new reading of the cartesian Meditations work from the philosopher René Descartes, who is known as a rationalist who marked the history of philosophy in the seventeenth century, ushering in the Modern Philosophy, Descartes is studied and conceptualized in contemporary philosophy, there´s debate about the interpretation of his theories and thoughts about the existence of God, because according to the philosopher himself was necessary to doubt everything. Later he will conclude that it is impossible to reason without a creator unchanging substance. And this work góes in search the specific analysis of this issue cartesian, where by reason, Descartes tries to prove God´s existence.


Keywords: God, Cartesian, Optics Divine Presence of God, René Descartes.



SUMÁRIO





INTRODUÇÃO 9



1 A ÓTICA DIVINA CARTESIANA NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA 11

1.1 O FILÓSOFO RENÉ DESCARTES 11

1.2 A ÓTICA DIVINA NA MODERNIDADE SEGUNDO DESCARTES 14



2 DEUS NA OBRA DE RENÉ DESCARTES 18

2.1 DEUS NA OBRA CARTESIANA DISCURSO DO MÉTODO 18

2.2 DEUS NA OBRA CARTESIANA MEDITAÇÕES 21



3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 28

4 REFERÊNCIAS 30







INTRODUÇÃO



A existência de Deus é uma temática debatida há muitos séculos, sendo um assunto cada vez mais discutido e questionado. O filósofo francês René Descartes no início da Modernidade ocupou-se em escrever sobre o assunto. Mas há quem duvide dos motivos que o levaram a abordar a existência de Deus, deixando dúvidas como: O que René Descartes realmente pensava sobre Deus? É possível pensar que a história comprova o fato de que Descartes não tinha algum motivo político ou que ameaçasse sua vida a ponto de escrever uma obra assumindo uma fé que não tinha; também é possível pensar que as próprias obras cartesianas são capazes de esclarecer se sua crença em Deus é verdadeira. Assim, torna-se relevante elaborar uma pesquisa histórica e filosófica da transição da era medieval para a modernidade vivenciada por Descartes; e uma releitura das principais obras cartesianas; em especial, da obra Meditações; em busca da concepção de Deus na ótica cartesiana.



Primeiramente, para se compreender a ótica divina de Descartes; é fundamental observar o contexto ao qual o filósofo estava inserido, compreendendo a modernidade. Partiremos do conhecimento biográfico do autor, compreendendo sua história e influências. Posteriormente, serão analisados os escritos e a história do filósofo inserido na idade moderna, compreendendo a ótica medieval acerca de Deus, e sua transição para o pensamento moderno em contrapartida com o pensamento de Descartes sobre Deus.



No segundo capítulo, Deus será compreendido a partir da obra de René Descartes. Será realizada uma releitura das obras principais que abordam o tema. Primeiramente, a ótica que o filósofo possui da pessoa divina é analisada na obra Discurso do Método, onde ele discorre sobre o pensar e o existir, chegando a questão da existência de Deus. Posteriormente, a compreensão de quem é Deus, será analisada segundo a obra cartesiana Meditações, aonde chega a separar um capítulo para discorrer sobre o tema “a existência de Deus”, abordando também em toda a obra sobre a influência divina no que concerne ao homem.



Conforme o teólogo Juan Antônio Estrada, escreve em sua obra Deus nas tradições filosóficas:

Se podemos postular racionalmente a existência de Deus e relativizar nossos conceitos sobre ele, como esperamos demonstrar, só nos resta oferecer nossas interpretações como convicções bem argumentadas e razoáveis, quer dizer, consistentes e plausíveis, o que implica submetê-las a uma reflexão crítica e argumentativa e mantê-las como afirmação deficiente, fragmentária e provisória.” (ESTRADA, 2003, p. 20).



É esta proposta que o presente trabalho visa evidenciar no pensamento de Descartes, principalmente na obra Meditações, o fato da existência de Deus ser lida sob a ótica e análise profunda da razão, com o método cartesiano, elaborada por ele mesmo. Assim, o objetivo principal deste artigo, é evidenciar a fé em Deus como uma temática que pode ser pautada na razão.



1 A ÓTICA DIVINA CARTESIANA NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA



Deus é um assunto debatido desde o início da história da Filosofia. Após a idade média, o assunto e a especulação sobre a existência de Deus não iria cessar. Surge o filósofo René Descartes inaugurando a modernidade com sua contribuição acerca de Deus.

1.1 O FILÓSOFO RENÉ DESCARTES

Primeiramente, é preciso definir quem é o filósofo em questão. René Descartes, também conhecido por seu nome latino Renato Cartesius, foi um francês nascido em La Haye em Toraine, no dia 31 de março de 1596 e morto com 53 anos em 11 de fevereiro de 1650, em Estocolmo, na Suécia. “Muitas vezes é chamado de “pai da filosofia moderna”, e é ainda hoje considerado o maior filósofo francês de todos os tempos e um dos mais importantes do pensamento e da cultura ocidental” (MARÇAL, 2009, p. 143). Seu pensamento é chamado de Cartesiano. Desde jovem, o filósofo interessou-se por matemática , geometria e álgebra; desenvolveu a geometria analítica e as chamadas coordenadas cartesianas. Conhecedor da ciência de seu tempo, criticou a educação que teve com os jesuítas. Viveu em um período conturbado e, por temor da Inquisição após a condenação de Galileu, aceitou o convite da rainha Cristina para morar na Suécia, onde veio a falecer de pneumonia, devido ao rigoroso inverno. Escreveu Discurso do Método, Meditações Metafísicas, Regras para a direção do Espírito, Tratado do Mundo, Princípios de Filosofia, Tratado das Paixões da alma, além de inúmeras cartas. (ARANHA & MARTINS, 2009, p. 169).



O mestre em filosofia Jairo Marçal, escritor de Antologia dos textos filosóficos, narra a história de René Descartes. Conta que em 1606 aproximadamente, até 1615, estudou em Royal de La Flètche, um colégio jesuíta, recebendo a educação escolástica combinada com um saber emergente. Ele apreciava seus professores e o ensino rigoroso, mas criticou a educação jesuíta em sua obra Discurso do Método. Em 1618 vai para Holanda, se alista como voluntário no exército do príncipe Maurício de Nassau. Conheceu Isaac Beeckman, que teve grande influência em sua carreira, discutiam questões científicas sobre física, matemática, medicina e música. E assim, passa a pensar na importância de um método que conectasse as ciências. Em novembro de 1619, terá sonhos que para ele significava que teria que executar tal projeto, e assim, cria um programa de pesquisa para a unificação do saber. Descartes abandona a carreira militar e viaja pela Europa. Em Paris, de 1625 a 1629, quando sua pesquisa avança rapidamente, se une ao Pe. Mersenne e o grupo de pensadores, passando a escrever Regras para a direção do espírito, que trata da unidade da ciência, uma reflexão de seu método e questões do conhecimento, mas não chega a publicar. A partir de 1628, volta para Holanda, passando a investigar a metafísica e a física, em 1629 começa a elaborar suas primeiras meditações, que englobam até física, mecânica, anatomia e medicina dando origem ao projeto do Mundo, que ele vai trabalhar até meados de 1633. Mas este trabalho não será publicado ao saber da condenação de Galileu. (MARÇAL, 2009, p. 143-144).



Contudo, deste projeto original, surgirá várias obras. O Mundo ou Tratado da Luz e o Homem correspondem a suas partes centrais. Suas obras até então, são publicadas postumamente. Em 1637, Descartes publica sua primeira obra: o Discurso do Método e os ensaios que o ilustram (Dióptrica, Meteoros, Geometria), que reúnem suas investigações feitas até então. No final da década, Descartes começa a trabalhar em Meditações, publicadas em 1641, com seis Objeções e respostas, a sétima sendo incluída na edição de 1642. Em 1644, publica os Princípios da Filosofia, que é a “expressão final de seu programa de filosofia natural”. Em 1643, passa a se corresponder com a Princesa Elisabeth de Boêmia, com a qual discute questões como a união entre corpo e alma e assim surge as Paixões da alma, publicado em 1649. Mas antes disso, são publicadas as Meditações e os Princípios, ambos em francês, 1647. No início de 1649, Descartes viaja para a Suécia a pedido da Rainha Christina, que culminará em sua morte. (MARÇAL, 2009, p. 145-146).



Conforme Jostein Gaarder, teólogo e filósofo norueguês, escritor de O Mundo de Sofia, Descartes durante sua vida viajou pela Europa em busca de conhecer a natureza do homem e do universo. Depois de estudar filosofia, conscientizou-se sobre sua própria ignorância, duvidou do que lia nos livros, no conhecimento herdado da idade média e até dos próprios sentidos. Era um racionalista, acreditava que a razão era a única fonte segura de conhecimento. Em sua obra Discurso do Método, explica que não devemos considerar nada verdadeiro enquanto não tivermos reconhecido por si só algo como verdadeiro e que é necessário decompor um problema em diversas partes, começando pelos pensamentos mais simples. Cada pensamento devia ser “pesado e medido” até chegar à conclusões filosóficas. Assim, aplicava o método matemático à reflexão filosófica, de forma que razão fosse o único capaz de levar a um conhecimento seguro. “Descartes achava importante descartar primeiro todo o conhecimento constituído antes dele, para só então começar a trabalhar em seu projeto filosófico”. E assim, se era possível obter a certeza de que nada sabia, o que era um bom sinal para Descartes; pois se pensava, existia, era um ser pensante, em suas palavras: “Cogito, ergo sum”; isto é; “Penso, logo existo”. Desta forma, é possível pensar na idéia de um Ser perfeito só pode surgir de outro ser perfeito: Deus. “Pois um ser perfeito não seria perfeito senão existisse (...) não teríamos a idéia do que seja um ser perfeito se tal ser não existisse. Isto porque somos imperfeitos e (...) pensar em Deus é uma idéia inata (...) como a marca que o artista coloca em sua obra” (GAARDER, 1995, p. 252 a 258).



Para o filósofo italiano Nicola Abbagnano, o Cartesianismo pode ser resumido em:



1Q caráter originário do cogito como auto-evidência do sujeito pensante e princípio de todas as outras evidências; 2-presença das idéias no pensamento, como únicos objetos passíveis de conhecimento imediato; 3a caráter universal e absoluto da razão que, partindo do cogito e valendo-se das idéias, pode chegar a descobrir todas as verdades possíveis; 4Q função subordinada, em relação à razão, da experiência (isto é, da observação e do experimento), que só é útil para decidir nos casos em que a razão apresenta alternativas equivalentes; 5e dualismo de substância pensante e substância extensa, pelo qual cada uma delas se comporta segundo lei própria: a liberdade é a lei da substância espiritual; o mecanismo é a lei da substância extensa. (ABBAGNANO, 2008, p. 127).





Existe, portanto, o dualismo de Descartes, onde existem duas substâncias ou formas de realidade: Um pensamento ou alma que não ocupa lugar no espaço e não pode ser decomposta; e a matéria que não possui consciência, mas pode ser decomposta em partes menores. E para Descartes, ambas provém de Deus, pois existem independentes de qualquer outra coisa. (GAARDER, 1995, p. 259). Assim o homem é concebido como ser dual, dotado de corpo e alma, o que engloba a razão.



Alguns dos jesuítas mais jovens na França, acolheram ao trabalho do antigo aluno. "Princípios de Filosofia" apareceu traduzido do latim para o francês em 1647, enquanto Descartes passava pela França, Ele esperava que um relato mais formalizado da totalidade do seu pensamento científico poderia receber o apoio dos círculos católicos especialmente entre os jesuítas, mas os jesuítas inicialmente rejeitaram o cartesianismo. Seu trabalho foi colocado no índex, uma lista católica dos livros proibidos. Mas ainda assim, recebeu do rei, por iniciativa do ministro Mazarino, regente na menoridade de Luís XIII, uma pensão vitalícia em honra de suas descobertas matemáticas, a qual ele não se empenhou em receber.



René Descartes foi um filósofo além de seu tempo, que se propôs a pensar em áreas nunca antes questionadas, criando o método cartesiano conhecido e aceito até os dias de hoje, inaugurando o pensamento racionalista na modernidade. Sobre sua obra Meditações, onde conclui a existência de um Deus, é possível afirmar que ela foi escrita quase uma década após a condenação de Galileu.



1.2 A ÓTICA DIVINA NA MODERNIDADE SEGUNDO DESCARTES



O período Moderno inicia com um novo pensamento, conforme o filósofo e escritor inglês Sthephen Law, depois do período Escolástico, de domínio cultural puramente religioso, surge o Renascimento das artes e ciência. No início do século XVII, a filosofia estava livre do dogma religioso para retornar ao espírito filosófico da Grécia antiga. Dentre estes filósofos, se destaca René Descartes (1596-1650). Ele foi inspirado pelas obras científicas de Galileu, estendendo o método matemático a todas as áreas de conhecimento, construindo um conhecimento sobre as verdades através da razão pura. Assim, Descartes inaugura um novo alicerce intelectual e social na Europa, que teve seu auge no século XVIII, com o iluminismo. (LAW, 2009, p. 36,37). Descartes inaugura a idade moderna, com uma linha de pensamento que iria marcar a história da Filosofia.



Os racionalistas sugerem que é possível saber verdades de forma inata, intuitiva, rejeitando a idéia empirista de saber pelas experiências sensoriais. René Descartes era claramente um racionalista, como demonstram suas provas da existência de Deus (LAW, 2009, p.68). Ele afirma que “As coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras.” (DESCARTES, op. Cit. LAW, 2009, p. 67). Para ele, aquilo que a razão conseguia conceber, só poderia ser real. Assim, ele nos fornece duas provas da existência de Deus, uma é um argumento ontológico, que tenta provar a existência de Deus a priori, isto é; do que vem antes. A segunda é a prova da marca impressa, que busca provar a existência de Deus pelo simples fato de ser possível obter uma idéia Dele. Chega a afirmar que “Não seria possível... eu ter em mim a idéia de um Deus, se Deus não existisse realmente” (DESCARTES, op. Cit. LAW, 2009, p. 69).



Sobre Descartes, Law argumenta que toda idéia deve ter uma causa,





(...) e se a experiência ou nossas próprias mentes não são esta causa, então ela deve ser “inata”. Idéias inatas não são idéias a que podemos necessariamente ter acesso desde o nascimento, mas já estão presentes em nós de algum modo. Ele afirma que a causa da idéia de Deus só pode ser Deus. (LAW, 2009, p. 69).





Para Descartes, a idéia da existência de Deus já nasce latente no homem, e ele não seria capaz de pensar em algo tão perfeito, se tal perfeição não se revelasse a pessoa, somente Deus poderia criar a idéia de sua existência. Conforme afirma o filósofo britânico Stephen Law sobre Descartes, “é como se, ao imprimir uma idéia de si em nossas mentes, Deus deixasse sua “marca”, um sinal revelador de que somos Sua criação.” (LAW, 2009, p. 69). Assim, para Descartes, podemos saber a priori, que Deus existe.



Abbagnano, observa que para Descartes, “se Deus parasse de criar o mundo, o mundo deixaria de existir” e que "a existência necessária está contida na natureza ou no conceito de D., de tal modo que é verdade dizer que a existência necessária está em D. ou que D. existe" (ABBAGNANO, 1998, p. 263. “D” refere-se à Deus). Conclui portanto que "Se algo existe, deve existir um ser necessário. Mas algo existe (p. ex., eu mesmo), logo existe o ser necessário". E assim, para Abbagnano, Descartes prova a existência de Deus pela razão. (ABBAGNANO, 1998, p. 272).



O filósofo catalão José Ferrater Mora, observa que Descartes retoma a tradição de Santo Agostinho, em que a alma apreende diretamente Deus e o mundo somente através do próprio Deus sob a fórmula “vemos todas as coisas em Deus”, e diz que é próprio da idade moderna o exame das relações entre alma e corpo. (MORA, 1978, p. 13).



O teólogo e filósofo brasileiro Urbano Zilles, observa que a filosofia moderna do ocidente foi marcada pelo cristianismo católico. No século XIV, a filosofia escolástica começou a decair, dando espaço para a nova racionalidade, já não era mais o velho mundo feudal, mas a razão como forma de investigação, conhecimento e ciência. O império e o catolicismo medieval (como instituição organizadora da vida social, política, ideológica) foram questionados.





Para a Igreja católica houve três grandes catástrofes no campo da fé: o cisma entre Oriente-Ocidente (1054); a Reforma (século XVI) e a condenação de Galileu. Desde então aprofundou-se o abismo entre a igreja e a cultura moderna. Quanto ao mau uso da Bíblia, Descartes escrevera de maneira magistral: “É usar a Bíblia para um fim para o qual Deus não a deu e, portan-to, abusar dela quando se quer extrair o conhecimento de verdades que só pertencem às ciências humanas e não servem para a nossa salvação” (carta de 1638). (sic) (ZILLES, apud. DESCARTES, 1991, p. 23).


E assim, Zilles observa ainda que “a filosofia moderna substitui o tema Deus, central na filosofia medieval, pelo tema homem.” (Ibid.). Mas aponta Descartes que retorna ao pensamento dos antigos filósofos gregos. Para Zilles, Descartes rompeu com as tradições, “procedeu como se a história do pensamento começasse com ele. Tentou uma fundamentação radicalmente nova da filosofia e do saber humano em geral” (ZILLES, 1991, p. 24), “mas tenta harmonizar fé e razão” (ZILLES, 1991, p. 31).



A jornalista, filósofa e doutora em sociologia Verônica Aravena Cortes, observa que o mundo em que Descartes vivia, passava por transformações, onde as verdades conhecidas até então, eram questionadas pelos pensadores que foram condenados. E estas incertezas fizeram com que o filósofo se preocupasse com os fundamentos destes novos pensamentos, ele desejava discernir entre o verdadeiro e o falso, alcançando um conhecimento seguro para conduzir a vida, a existência, em busca de “uma física que faz uma metafísica; e se volta para Deus” (CORTES, 2008, p. 71-72).



É possível perceber que Descartes não escreve para eternizar as doutrinas da igreja católica, pois não cita nenhum dogma. Muito menos, parece que escreveu por obrigação ou por temor a própria vida, visto que possuía diversos lugares para se refugiar. Contudo, ele descarta todo conhecimento velho para usar a razão, e acaba concluindo a existência de Deus como sendo o responsável pelo pensamento da humanidade e da própria idéia divina.


2 DEUS NA OBRA DE RENÉ DESCARTES



A melhor maneira de se conhecer o pensamento de Descartes acerca de Deus, é observando suas próprias obras. Iniciaremos com a análise da obra Discurso do Método, onde o filósofo inclui algumas referências sobre Deus. Mas a análise mais profunda é a da obra Meditações, onde Descartes aborda sobre o pensamento até concluir pela razão que Deus é o criador até da própria idéia divina.



2.1 DEUS NA OBRA CARTESIANA DISCURSO DO MÉTODO



A obra cartesiana Discurso do método, ou ainda Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência (do francês: Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences), é um tratado filosófico e matemático, publicado primeiramente em 1637, em língua vernácula e não em latin como era o costume. Foi escrito como prefácio de ensaios científicos, pois o autor buscava apresentar um método que seria exposto nos textos seguintes (CORTES, 2008, p.74). Neste discurso, Descartes escreveu uma das mais conhecidas frases Je pense, donc je suis (no latin cogito ergo sum; penso, logo existo), onde o pensar e o existir estavam inteiramente dependentes um do outro. E deste pensamento, ele prova a existência de Deus, partindo da razão).



O Método apresentado neste discurso, pode ser resumido em quatro regras. Primeiro ele busca uma clareza que descarta toda dúvida pré concebida anteriormente. Em segundo lugar, irá fazer uma análise, dividir os problemas em partes pequenas para poder resolvê-lo, partindo do simples para o complexo. Em terceiro lugar, irá ordenar os pensamentos, começando dos objetos mais simples e de fácil compreensão (que foram decompostos anteriormente). E finalmente, em quarto lugar ele passa a enumerar e revisar os dados, observando-os e revisando-os para que nada seja omitido. Utilizando este método, ele acredita ser possível alcançar um conhecimento verdadeiro e real.

Ele critica o conhecimento de seu tempo, no auge da ilusão com a perfeição das máquinas, para mostrar que o homem é como uma máquina que funciona perfeitamente, por ter sido criada por um Ser perfeito.


O que não parecerá de maneira alguma estranho a quem, sabendo quão diversos autômatos, ou máquinas móveis, a indústria dos homens pode produzir, sem aplicar nisso senão pouquíssimas peças, em comparação à grande quantidade de ossos, músculos, nervos, artérias, veias e todas as outras partes existentes no corpo de cada animal, considerará esse corpo uma máquina que, tendo sido feita pelas mãos de Deus, é incomparavelmente mais bem organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das que possam ser criadas pelos homens. (DESCARTES, 2011, p.31).


 

Descartes discorre sobre uma dúvida Metafísica. Ele vai supor que Deus é enganador, como se fosse um gênio maligno, que compromete verdades. Tal suposição é somente um método, para seguir um percurso de pensamento que culminará em uma base segura científica, pois ele vai concluir que não há como duvidar do que se é, se existe um Deus que engana, pois assim nada seria (nem um ser pensante). Enquanto se pensa, se é, um ser imperfeito e finito que possui a idéia de um Ser perfeito e infinito, e assim se instaura a primeira prova da existência de Deus, um passo decisivo ao conferir verdade ao fato de pensar. “(...) é pelo menos tão certo que Deus, que é esse Ser perfeito, é ou existe quanto seria qualquer demonstração de geometria.” (DESCARTES, 2011, p. 21). Para Descartes, até sonhos ou idéias perfeitas são provenientes de Deus, pois uma idéia clara só pode ser concebida de forma divina, e assim ser tida por verdadeira e real.





Afinal, se ainda há homens que não estejam totalmente convencidos da existência de Deus e da alma, com as razões que apresentei, quero que saibam que todas as outras coisas, a respeito das quais se consideram talvez certificados, como a de possuírem um corpo, existirem astros e a Terra, e coisas parecidas, são ainda menos certas. Pois, apesar de se ter dessas coisas uma certeza moral, que é de tal ordem que, salvo sendo-se extravagante, parece impossível colocá-la em dúvida; contudo, ao que concerne à certeza metafísica, não se pode negar, a não ser que não tenhamos bom senso, que é motivo suficiente para não possuirmos total segurança a respeito, o fato de observarmos que podemos da mesma maneira imaginar, ao estarmos dormindo, que temos outro corpo, que vemos outros astros e outra Terra, sem que isso seja verdade. Pois, de onde sabemos que os pensamentos que nos surgem em sonhos são menos verdadeiros do que os outros, se muitos, com freqüência, não são menos vivos e nítidos? E, mesmo que os melhores espíritos estudem o caso tanto quanto lhes agradar, não acredito que possam oferecer alguma razão que seja suficiente para dirimir essa dúvida, se não presumirem a existência de Deus. Pois, em princípio, aquilo mesmo que há pouco tomei como regra, ou seja, que as coisas que concebemos bastante evidente e distintamente são todas verdadeiras, não é correto a não ser porque Deus é ou existe, e é um ser perfeito, e porque tudo o que existe em nós se origina dele. De onde se conclui que as nossas idéias ou noções, por serem coisas reais e oriundas de Deus em tudo em que são evidentes e distintas, só podem por isso ser verdadeiras. (DESCARTES, 2011, p. 22).





Como racionalista, Descartes estabelece a existência de Deus partindo da razão, pois só pela razão ele acredita ser possível concluir que Deus existe. (...) pois a razão não nos sugere que tudo quanto vemos ou imaginamos seja verdadeiro, mas nos sugere realmente que todas as nossas idéias ou noções devem conter algum fundamento de verdade; pois não seria possível que Deus, que é todo perfeito e verídico, as tivesse colocado em nós sem isso (DESCARTES, 2011, p. 23). Deus não criaria seres que não fossem dotados de uma razão que os fizesse crer em uma idéia perfeita como Ele. O filósofo sustenta que em si próprio não há uma idéia perfeita, ainda que seja um ser pensante. Mas que em Deus é possível se conceber uma idéia perfeita.





Pois, se eu fosse sozinho e independente de qualquer outro, de maneira que tivesse recebido, de mim próprio, todo esse pouco mediante o qual participava do Ser perfeito, poderia receber de mim, pelo mesmo motivo, todo o restante que sabia faltar-me, e ser assim eu próprio infinito, eterno, imutável, onisciente, todo-poderoso, e enfim ter todas as perfeições que podia perceber existirem em Deus. Pois, de acordo com os raciocínios que acabo de fazer, para conhecer a natureza de Deus, tanto quanto a minha o era capaz, era suficiente considerar, a respeito de todas as coisas de que encontrava em mim qualquer idéia, se era ou não perfeição possuí-las, e tinha certeza de que nenhuma das que eram marcadas por alguma imperfeição existia nele, mas que todas as outras existiam. Dessa forma, eu notava que a dúvida, a inconstância, a tristeza e coisas parecidas não podiam existir nele, porque eu mesmo apreciaria muito ser desprovido delas. (DESCARTES, 2011, p.21).

Para Descartes, negar a Deus é um erro, “Afinal de contas, eu me estendi um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais importantes; pois, após o erro dos que negam Deus, que penso haver refutado suficientemente mais acima (...)” (DESCARTES, 2011, p.33).



Descartes conclui o Discurso do Método apresentando Deus como autor de seu ser, da própria alma e que Ele não é enganador, pois tal idéia seria contrária a idéia de Deus como sendo perfeito, imutável e bom. Uma idéia perfeita, vinda de seres imperfeitos só é possível se ela existir. E somente por esta idéia que culmina em Deus, é possível se pensar e organizar as idéias. Assim, o pensar humano evidencia a existência humana, que não pode vir de si mesmo, mas de um Deus perfeito que revela Sua própria existência aos seres criados por Ele.



2.2 DEUS NA OBRA CARTESIANA MEDITAÇÕES



As Meditações são a principal obra filosófica de Descartes e uma das mais importantes na história da Filosofia sendo dividida em seis meditações. A obra faz parte do conjunto de textos centrais da filosofia cartesiana, redigida no final da década de 1630 até o início de 1640, são publicadas em francês e latim, juntamente com Discurso do Método, Princípios da filosofia, Objeções de respostas e Paixões da alma. Descartes define a obra Meditações como Concernentes à primeira filosofia nas quais a existência de Deus e a distinção do real entre a alma e o corpo do homem são demonstradas. O próprio título já indica uma tendência espiritual de meditação sobre Deus, ela apresenta a ontologia cartesiana (teoria sobre diferentes seres existentes: Infinitos como Deus; pensantes finitos como pessoas; e a matéria). Contudo ele não trata diretamente destas coisas, pois para ele, não se pode ter certeza do que não se pode conhecer. Ele inicia a obra com um ceticismo, no qual a dúvida de tudo é o pressuposto, contudo seu objetivo é conhecer o que se pode ter como real, através da lógica (MARÇAL, 2009, p. 146 a 153).



Na primeira meditação, Das coisas que se podem colocar em dúvida, Descartes percebe que “recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras” (DESCARTES, 1983, p. 93), que até os sentidos o enganam. Mas sustenta que “Todavia, há muito que tenho no meu espírito certa opinião de que há um Deus que tudo pode e por quem fui produzido tal como sou” (DESCARTES, 1983, p.95). Ele inicia declarando um conhecimento pessoal antigo de que ele sabe da existência de um Deus.



Contudo, Descartes também vai questionar se este Deus não faria com que ele enxergasse de uma maneira diferente da realidade, será que Deus desejaria que ele se enganasse? Na busca pela resposta, questiona:



Mas pode ser que Deus não tenha querido que eu seja decepcionado desta maneira, pois ele é considerado soberanamente bom. (...) Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é soberano da verdade, mas um certo um gênio maligno (...) que empregou toda sua indústria em enganar-me (...) todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade (DESCARTES, 1983, p. 95,96).



Descartes parte de uma suposição de que Deus possa ser uma fábula, e que tudo que sustentava sua crença; agora vê com a dúvida. Pensa na possibilidade de que Deus seja um gênio maligno e enganador. Mas tais questionamentos, não passam de suposições que darão continuidade ao seu pensamento nas meditações seguintes.



Na segunda Meditação, trata-se da Natureza do Espírito Humano; de como ele é mais fácil de conhecer do que o Corpo. O filósofo se dá conta de que por mais que duvidamos de tudo, uma certeza é justamente a que duvidamos, e que isto é sinal de que pensamos e existimos. Questiona se “(...) Não haverá algum Deus, ou alguma outra potência, que me ponha no espírito tais pensamentos?”. Assim, o fato dele conseguir pensar até mesmo se existe um Deus, passa a ser uma referência de que o fato de que pensa, poderia levar a razão de que existe um Deus. Assim conclui que “Eu sou, eu existo” (DESCARTES, 1983, p. 99 a 100).



O filósofo passa a questionar sobre o que seria um homem. Seria um ser racional, que entende que nada é. Ele se define como “eu sou uma coisa verdadeira existente (...) eu não sou essa reunião de membros que se chama o corpo humano; não sou um ar tênue e penetrante, disseminado por todos esses membros (...) Não sou eu próprio esse mesmo que duvida de quase tudo? (...)” (DESCARTES, 1983, p. 103). Ele entende que é um ser que pensa sobre várias coisas. E do pensamento sobre ser um ser que pensa, ele passa a tirar conclusões sobre quem o faz existir.



Na Meditação Terceira, De Deus; que Ele existe, resolve o problema que surge da possibilidade de existir um Deus que engana. Descartes parte de duas provas: A de que deve haver um ser perfeito como a idéia de Deus, e logo, esta idéia foi dada por ele; e a prova de que reflete o fato de cada um possuir uma idéia de Deus. A partir da conclusão de que é uma coisa que “duvida, que afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente (...) e todas as coisas que concebemos mui clara e mui distintamente são todas verdadeiras” (DESCARTES, 1983, p. 107 a 108).



Assim, a idéia tão clara de Deus; só pode existir. Ele percebe que algumas idéias parecem ter nascido com ele, outras vem de fora e outras são inventadas por ele, mas que na verdade, ele ainda não descobriu a verdadeira origem. Supõe que exista uma luz, algo que imprime sua semelhança nele, que se forma nele até enquanto dorme. Entende que há algo que existe fora dele, diferente de seu ser que lhe imprime as semelhanças e que acaba parecendo que estas idéias vem de si mesmo. Finalmente ele conclui que “(...) Aquela (idéia) pela qual eu concebo um Deus soberano, eterno, infinito, imutável, onisciente, onipotente e criador universal de todas as coisas que estão fora dele; aquela digo, tem certamente em si mais realidade objetiva do que aquelas pelas quais as substâncias finitas me são representadas.” (DESCARTES, 1983, p. 109 a 111). Para o filósofo, uma idéia objetiva, não pode ter sido tirada do nada:





(...) é preciso chegar ao fim a uma primeira idéia, cuja causa seja um como padrão ou original, na qual toda a realidade ou perfeição esteja contida formalmente e em efeito, a qual só se encontre objetivamente ou por representação nessas idéias. De sorte que a luz natural me faz conhecer evidentemente que as idéias são em mim como quadros, ou imagens, que podem na verdade facilmente não conservar a perfeição das coisas de onde foram tiradas, mas que jamais podem conter algo de maior ou de mais perfeito (DESCARTES, 1983, p. 112).





É possível compreender que para Descartes, pensar em Deus é como um conceito universal, que em qualquer cultura se chega a idéia de um Deus perfeito. E que isso não vem do nada, mas da própria idéia perfeita que se manifesta ao imperfeito de sua existência. A própria luz natural que se faz conhecida, ele conclui que “há ainda algo que existe e que é a causa desta idéia” (DESCARTES, 1983, p. 113). E assim, resta tão-somente a idéia de Deus.





(...) Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável, independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são (se é verdade que há coisas que existem) foram criadas e produzidas. Ora, essas vantagens são tão grandes e tão eminentes que, quanto mais atentamente as considero, menos me persuado de que essa idéia possa tirar sua origem de mim tão-somente. E por conseguinte, é preciso necessariamente concluir, de tudo o que foi dito antes, que Deus existe; pois, ainda que a idéia da substância esteja em mim, pelo próprio fato de ser eu uma substância, eu não teria, todavia, a idéia de uma substância infinita, eu que sou um ser finito, se ela não tivesse sido colocada em mim por alguma substância que fosse verdadeiramente infinita. (DESCARTES, 1983, p.115).





Descartes define seu pensamento a respeito de Deus como sendo uma substância perfeita e o homem uma substância imperfeita criada pelo perfeito. E que só por Ele podemos ter a idéia perfeita Dele. E depois de descartar o pensamento antigo, a idéia de Deus é o que permanece, não se trata aqui dos dogmas escolásticos, mas da idéia da existência de Deus, que para ele; permanece mesmo após ser lida a luz da razão.



Para ele, não se pode fingir que a idéia de Deus não seja real. Pois “tudo o que meu espírito concebe clara e distintamente de real e de verdadeiro, e que contém em si alguma perfeição, está contido e encerrado inteiramente nesta idéia”, ainda que não se compreenda completamente o infinito. (DESCARTES, 1983, p. 116). Sua concepção de Deus parte da idéia de que existe um ser mais perfeito do que o pensamento de imperfeito que pensa:



Mas concebo Deus atualmente infinito em tão alto grau que nada se pode acrescentar à soberana perfeição que ele possui. E, enfim, compreendo muito bem que o ser objetivo de uma idéia não pode ser produzido por um ser que existe apenas em potência (...) mas somente por um ser formal ou atual. (...) a idéia que tenho de um ser mais perfeito que o meu deva ser necessariamente ter sido colocada em mim por um ser que seja de fato mais perfeito. (DESCARTES, 1983, p. 117).





O Ser da idéia Deus é algo tão objetivo, que não pode existir só em potência, mas de forma real. E como seres humanos, somos completamente dependentes deste ser perfeito, como o próprio filósofo afirma: “Ora, se eu fosse independente de outro ser, e fosse eu próprio o autor de meu ser (...), não me faltaria perfeição alguma; pois eu (...) seria Deus.” E para Descartes, para o imperfeito existir, é necessário um perfeito como autor, pois somos somente uma coisa pensante “(...) e não deixo de conhecer que é necessário que Deus seja o autor de minha existência (...) já que sou apenas uma coisa pensante (...) não sinto nenhum poder em mim e por isso reconheço evidentemente que dependo de algum ser diferente de mim.” (DESCARTES, 1983, p. 117 a 118). Descartes sabe que não possui vocação para Deus, assim como nenhum ser humano, e que Deus é um requisito e necessidade para se existir.



A clara idéia de Deus para Descartes não poderia ser conseguida pelos sentidos, nem por uma produção própria, mas por algo concebido na existência humana, ele afirma que “(...) um ser soberanamente perfeito, isto é, Deus, é em mim, a existência de Deus está mui evidentemente demonstrada”. Ele se pergunta como adquiriu esta idéia? “não a recebi dos sentidos” e “não é também uma pura produção ou ficção de meu espírito”; “ela nasceu e foi produzida comigo desde o momento em que fui criado”. “Deus, ao me criar, haja posto em mim esta idéia para ser como a marca do operário impressa em sua obra; e não é tampouco necessário que essa marca seja algo diferente da própria obra (...) produzido à sua imagem e semelhança e que eu conceba esta semelhança.” (DESCARTES, 1983, p. 120). Para ele, Deus é um artista que imprimiu sua marca no homem, para que assumamos a semelhança com o divino. A idéia de Deus só pode ter sido criada por Deus em nós, Ele existe, é bom e não é um enganador.



Na Meditação quarta, ele trata Do verdadeiro e do falso, onde reforça seu reconhecimento de que Deus não o engana jamais e que ele próprio experimenta a capacidade de julgar, recebida de Deus e que ainda que seja “sujeito a uma infinidade de erros”, deve a Deus tudo o que possui. (DESCARTES, 1983, p. 124). Aqui introduz o conceito do livre-arbítrio, onde a graça divina concede liberdade ainda que seja para o homem errar. (DESCARTES, 1983, p. 125 a 127).



Descartes não culpa a Deus pelos erros do homem, decorrentes ao livre-arbítrio, ele afirma “(...) não tenho certamente nenhum motivo de me lastimar pelo fato de que Deus não me deu uma inteligência mais capaz, ou uma luz natural maior do que aquela que dele recebi”. Para ele isso não acusa Deus de uma imperfeição que Ele não tem, simplesmente mostra a liberdade a qual Deus concede ao homem, afirma que “não é uma imperfeição de Deus o fato de ele me haver concedido a liberdade de dar meu juízo ou de não o dar certas coisas, a cujo respeito ele não pôs um claro e distinto saber em meu entendimento; mas, sem dúvida, é em mim uma imperfeição o fato de eu não a usar corretamente e de dar temerariamente meu juízo sobre coisas que eu concebo apenas com obscuridade e confusão.” (DESCARTES, 1983, p. 128 a 129).



Para ele, Deus é perfeito e nele não há erro algum (DESCARTES, 1983, p. 130), o homem que faz escolhas e mau uso da razão concedida por Deus. Descartes inocenta Deus da culpa de sermos limitados apontando para o fato de sermos perfeitos, por sermos capazes de efetuar o porquê fomos criados. O erro para ele acontece quando nossa vontade extrapola os limites de nosso entendimento e afirma algo que não é claro e distinto.



Na quinta Meditação, escreve Da essência das coisas materiais; e, novamente, de Deus, que Ele Existe. Descartes busca reforçar a temática Deus, “(...) a existência de Deus deve apresentar-se em meu espírito ao menos como tão certa quanto considerei até agora todas as verdades das matemáticas. (...) a existência não pode ser separada da essência de Deus, tanto quanto da essência de um triângulo retilíneo não pode ser separada a grandeza de seus três ângulos iguais a dois retos (...) (DESCARTES, 1983, p. 133).



Sobre a matéria, quando afirma que “se meu pensamento não se encontrasse distraído pela presença contínua das imagens das coisas sensíveis, não haveria coisa alguma que eu conhecesse melhor nem mais facilmente do que ele.” (DESCARTES, 1983, p. 135). Assim, é possível compreender que a matéria distrai o homem da razão que o capacita a pensar; que provém de Deus.



Aqui ele reconstrói o conhecimento, usando as verdades matemáticas mostrando que elas correspondem às essências das coisas materiais, pois os corpos só existem com propriedades geométricas. E assim, surge a prova ontológica, a priori, que consiste em afirmar que a existência é própria de Deus. Assim, Deus precisa existir, pois a existência é a perfeição.



Na sexta Meditação, fala Da Existência das coisas materiais e da distinção real entre a alma e o corpo do homem. Onde afirma que tudo, qualquer experiência e os sentidos provém de Deus: “Ora, a experiência nos leva a conhecer que todos os sentidos que a natureza nos deu são tais como acabo de dizer; e, portanto, nada se encontra neles que não torne patentes o poder e a bondade de Deus, que os produziu”. E que o conhecimento é seguro pelo fato de Deus não ser enganador, quando conclui “Pois, do fato de que Deus não é enganador segue-se necessariamente que nisso não sou enganado (...) a vida do homem está sujeita a falhar muito frequentemente nas coisas particulares; e, enfim, é preciso reconhecer a imperfeição e a fraqueza de nossa natureza.” (DESCARTES, 1983, p. 149 a 150). Para Descartes o limite da razão não é Deus, que a deu; mas o próprio homem. Neste capítulo ele apresenta diversas conclusões, enfocando a distinção real entre corpo e alma, assim, admite a possibilidade da existência das coisas materiais da meditação anterior afirmando que a imaginação oferece a probabilidade de nossas idéias sensíveis, sua certeza.



De toda a obra Meditações, se conclui que Descartes rejeita o conhecimento religioso medieval, descartando todo conhecimento adquirido até então, para organizar suas idéias pela razão que o leva a crer que ele existe, pensa justamente porque foi criado por um ser perfeito. E assim, retorna a crença antiga de que Deus existe e nos deu o livre arbítrio para fazer bom uso da própria razão. Assim, Deus é aquele do qual o homem é dependente, pois o homem não pode ser o próprio Deus, pois se pensa e existe é porque um Ser perfeito o criou e imprimiu no homem uma semelhança divina, pela qual o próprio Deus se revela, tornando possível o homem pensar em Deus.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS



Após uma análise histórica do contexto ao qual o filósofo René Descartes estava inserido e de uma releitura de suas obras principais que tratam de discorrer o assunto sobre a existência de Deus; é possível obter algumas conclusões na tentativa de responder o que o filósofo realmente pensava sobre a existência de Deus.



Ao analisar a biografia do autor e o fundo histórico, social, religioso e político em que estava inserido, é possível observar que a história comprova o fato de que Descartes não tinha algum motivo que ameaçasse sua vida a ponto de escrever uma obra assumindo uma fé que não tinha; ainda que outros tivessem sidos condenados, ele poderia simplesmente não ter dito nada sobre a existência de Deus, mas optou por abordar o assunto. René Descartes foi um filósofo além de seu tempo, que se propôs a pensar em áreas nunca antes questionadas, criando o método cartesiano conhecido e aceito até os dias de hoje, inaugurando o pensamento racionalista na modernidade. Sobre sua obra Meditações, onde conclui a existência de um Deus, é possível afirmar que ela foi escrita quase uma década após a condenação de Galileu. Descartes também não escreve para eternizar as doutrinas da igreja católica, pois não cita nenhum dogma. Muito menos, parece que escreveu obrigado ou por temor a própria vida, visto que possuía diversos lugares para se refugiar devido as suas viagens e contatos. Contudo, ele descarta todo conhecimento velho para usar a razão, inclusive a religião católica, mas acaba concluindo a existência de Deus como sendo o responsável pelo pensamento da humanidade e da própria idéia divina.



Outro fator que evidencia a crença na existência de Deus em Descartes são as próprias obras cartesianas. Descartes conclui o Discurso do Método apresentando Deus como autor de seu ser, da própria alma e que Ele não é enganador, pois tal idéia seria contrária a idéia de Deus como sendo perfeito, imutável e bom. E uma idéia perfeita, vinda de seres imperfeitos só é possível se ela existir. E somente por esta idéia que culmina em Deus, é possível se pensar e organizar as idéias. Assim, o pensar humano evidencia a existência humana, que não pode vir de si mesmo, mas de um Deus perfeito que revela Sua própria existência aos seres criados por Ele. De toda a obra Meditações, se conclui que Descartes rejeita o conhecimento religioso medieval, descartando todo conhecimento adquirido até então, para organizar suas idéias pela razão que o leva a crer que ele existe e pensa, justamente porque foi criado por um ser perfeito. E assim, retorna a crença antiga de que Deus existe e nos deu o livre arbítrio para fazer bom uso da própria razão. Assim, Deus é aquele do qual o homem é dependente, pois o homem não pode ser o próprio Deus, pois se pensa e existe é porque um Ser perfeito o criou e imprimiu no homem uma semelhança divina, pela qual o próprio Deus se revela, tornando possível o homem pensar em Deus.



É possível concluir portanto, que Descartes não pretende escrever um tratado religioso para propagar a fé católica, mas simplesmente usar a razão para desenvolver seu método. E pautado nesta razão, ele conclui que existe e que pensa porque Deus o criou e imprimiu nele esta razão que duvida e que crê em Deus na medida em que o próprio Deus se revela e o homem faz bom uso de sua razão. Assim, Descartes não aponta simplesmente para a existência de Deus, mas para o homem como criação divina, para o livre-arbítrio e para a total dependência que o homem possui de Deus, onde o homem só existe por e em Deus.



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SITES:

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