- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.

sábado, 30 de outubro de 2010

O PROBLEMA DO MAL NO MUNDO SEGUNDO O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO; LIVRE-ARBÍTRIO, GRAÇA E VONTADE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

FILOSOFIA - LICENCIATURA


RICARDO LUÍS DO PRADO
RODRIGO FONTOURA MASSI
VANDERLEI DOS SANTOS AMORIM
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS


PATRÍSTICA: O PROBLEMA DO MAL NO MUNDO SEGUNDO O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO; LIVRE-ARBÍTRIO, GRAÇA E VONTADE.


SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP
2010


RICARDO LUÍS DO PRADO – 163325
RODRIGO FONTOURA MASSI – 161094
VANDERLEI DOS SANTOS AMORIM – 161080
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS - 161062
PÓLO: LONDRINA - PR


PATRÍSTICA: O PROBLEMA DO MAL NO MUNDO SEGUNDO O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO; LIVRE-ARBÍTRIO, GRAÇA E VONTADE.


Este trabalho de cunho filosófico tem como objetivo abordar o tema referente desta disciplina; visando a devida análise de correção ao tutor do curso de Filosofia da Universidade Metodista de são Paulo.

Docente: Luís Fernando Weffort
Tutor: Hermiton de Oliveira Freitas



SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP
2010

Índice Sistemático




Introdução:...................................................................................................................... 3

1. Filosofia cristã:............................................................................................................. 5

1.2. O Problema do mal no mundo na filosofia Teológica de Santo Agostinho:........................................................................................................................ 5

Conclusão:....................................................................................................................... 9

Referências:................................................................................................................... 10


Introdução


Podemos dizer que, em Santo Agostinho a patrística alcança o seu ponto mais alto em se tratando de filosofia cristã. Santo Agostinho consegue chegar com as suas elaborações filosófico-cristãs, aonde o pensamento Patrístico do antes e do depois dele, não tinha conseguido chegar até então. Neste trabalho, apresentaremos de forma breve, o que este autor, tão estudado na história da filosofia e da teologia mundial, nos apresenta sobre as inquietações a respeito do mal no mundo. Quem nunca se perguntou: O porquê do sofrimento humano, se Deus é a própria essência da bondade? Veremos como Santo Agostinho elabora em sua obra: Confissões, uma filosofia que tem sua influência em Plotino, e que engendrou um pensamento que nos deu um modo novo de olhar a criação como sendo aparentemente, digo, quando olhamos de forma superficial a criação, - não percebemos que tudo concorre para a harmonia e tudo tem uma razão de ser. Como poderemos observar neste trabalho, em Santo Agostinho encontramos três formas de examinar o mal no mundo; a primeira seria o mal metafísico-ontológico; depois temos o mal moral; e por último o mal físico.

Santo Agostinho acrescenta ainda que, existem graus inferiores de ser no mundo em comparação ao Ser Supremo que é o próprio Deus. E o homem, com o seu livre-arbítrio, muitas vezes escolhe pela má vontade as coisas inferiores do que as superiores, voltando-se assim, para a criatura ao invés do criador. Para Santo Agostinho, o mal não é entendido como um ser substancial, como entende o pensamento maniqueísta ao qual ele pertencia antes de sua conversão; pois se o mal fosse uma substância, ele se igualaria a Deus, porque, substância é entendida por Santo Agostinho e sua tradição filosófica anterior a ele, como sendo a plenitude das coisas criadas. Isso remete Santo Agostinho a dizer que, é incabível e impensável o mal ser originado do Bem, pois se fosse assim, o bem não seria bem, mas seria mal. O pecado original que enfraqueceu o conceito de verdade no mundo, fez com que Deus oferecesse a graça santificante para que o homem arrependido de suas faltas e debilitado pela culpa original, pudesse alcançar o perdão. Veremos que o ser humano não pode andar só, mas a graça divina é necessária para que o homem possa tomar suas decisões em fazer o bem. Pois quando o homem quer fazer o bem com suas próprias forças, dependendo somente de si mesmo, ele é vencido pelo pecado e fracassa em seu engendro.


1. Filosofia Cristã

1.2. O Problema do mal no mundo na filosofia teológica de Santo Agostinho



Quem nunca se perguntou: porque há o mal no mundo? E esta questão nos remete a uma outra correlativa à anterior; se Deus criou o mundo, como afirma os cristãos e religiosos, e se este Deus é o Bem Supremo, pois a sua criação não deveria ser desprovida de sofrimentos? Em meados do século IV d.C., houve um filósofo que se debruçou sobre esta questão, e não somente esta, mas de outras pertinentes a essa, questões que acompanharam toda a trajetória da trama da existência humana; estamos falando de: Aurélio Agostinho, mais conhecido como: Santo Agostinho de Hipona, que foi o expoente mais estudado e influente e influenciado da Era Patrística. Apesar de Santo Agostinho não ser o único a tratar deste tema tão feroz que rasga o coração humano durante séculos de história, somente iremos nos prender ao que este homem tem para nos dizer sobre esse assunto tão importante e obscuro de nossas vidas.

Para início de diálogo, em Santo Agostinho, o problema do mal está totalmente ligado ao problema da criação, e como a entendemos. Vamos entender melhor o que Santo Agostinho quer dizer com isso, partindo do princípio de que se toda a criação, ou melhor, dizendo, se tudo o que existe na criação (as coisas criadas) provém de um Deus que é o Bem Supremo, de onde vem o mal que encontramos no mundo que é obra de Suas mãos? Para resolver essa questão, Santo Agostinho encontrou em Plotino a argumentação necessária para sanar essa dúvida inquietante e latente do coração do homem. Segundo Santo Agostinho, “o mal não é um ser, mas deficiência e privação de ser”. (REALE/ANTISERE; p. 455, 2007). O que o nosso filósofo quis dizer com essa afirmação? Vejamos então, o mal para Santo Agostinho não é entendido como uma “substância”, assim como é ensinado no pensamento maniqueísta - ao qual Santo Agostinho pertencia antes de se converter ao cristianismo - não, mas, uma transgressão à Substância Suprema (Deus). Isso porque, se o mal fosse uma substância, então o mal seria pleno e perfeito, porque é assim que o conceito de Substância era entendido no mundo grego; lembremos do conceito de substância em Platão: é plena, imutável e originador. Devido a este conceito de substância, se o mal fosse substancial, o mal teria os mesmos adjetivos que possui Deus que é a Substância Suprema ou o Bem Supremo. Então o mal não seria mal, mas, ao contrário, seria um bem. E é incabível no pensamento de um filósofo, principalmente da época anterior à época contemporânea de Santo Agostinho, conceber que do bem possa originar o mal, pois se assim fosse, o bem não seria bem e nem Deus seria Deus, porque não seria pleno e perfeito.

Ainda tratando do problema do mal, Santo Agostinho prossegue dizendo que, o mal deve ser examinado na criação em três níveis; a) metafísico-ontológico; b) moral; c) físico. O primeiro seria que: não existe o mal no cosmos, mas o que existe de fato são graus inferiores de ser em relação ao Ser Supremo. O que existe é o ser Supremo in-criado e infinito, e existe ser criado e dependente, e por isso, finito. Este modo de ser inferior depende de sua finitude e dos níveis diferentes dessa finitude. A condição finita pode ser considerada aqui como um defeito na criação, então um mal. Mas somente temos esta noção de mal em relação à finitude, se olharmos as coisas de forma superficial ou individualmente, pois se olharmos com uma ótica universal e em conjunto tais seres inferiores, eles deixam de ser finitos e inferiores, isso ocorre porque ao olharmos as coisas em conjunto, então se revela momentos de um grande conjunto harmonioso. Por mais que pareça, segundo Santo Agostinho, um defeito (mal) na criação, o fato de existir animais nocivos que podem levar um homem a óbito, isso não significa que seja um mal de fato, pois se olharmos em conjunto essa realidade, veremos que cada animal possui uma função específica e necessária na criação. “Medida com o metro do todo, cada coisa, mesmo aquela aparentemente mais insignificante, tem o seu sentido e a sua razão de ser e, portanto constituí algo positivo”. (REALE/ANTISERE; p. 455, 2007).

Em se tratando do segundo modo de observação, o mal moral, seria o pecado. E o pecado depende da má vontade do sujeito para ser praticado. Mas a má vontade, segundo Santo Agostinho, depende daquilo que ele chama de: causa deficiente. “A má vontade não tem uma causa eficiente, mas, muito mais, uma causa deficiente”. (REALE/ANTISERE; p. 455, 2007). A vontade humana em sua natureza, Santo Agostinho a entende que sempre deveria tender ao Bem Supremo, isto é, deveria ser vontade de fazer e se inclinar sempre a Deus (Bem). Mas como já vimos que existem na criação as formas de ser finitas e inferiores, a nossa vontade velada pela nossa liberdade pode tender aos bens criados e finitos ao Ser infinito e Supremo. Com esta atitude o sujeito escolhe a criatura ao criador. Então o pecado é realização da má vontade inclinada as formas de ser inferiores, que essas, por sua vez, são necessárias na criação. Para Santo Agostinho, escolher os bens inferiores ao Bem Supremo é realizar uma escolha incoerente entre esses bens. “Com efeito, afastar-se daquilo que é o bem Supremo para aproximar-se daquilo que possui o ser em grau inferior significa começar a ter má vontade”. (REALE/ANTISERE; pp. 456-457, 2007). Mesmo que um indivíduo tenha recebido de Deus uma vontade livre, isto é, um enorme bem, então o mal seria o mau uso deste bem. “O Bem em mim é obra tua, é dom; o mal em mim é o meu pecado”. (REALE/ANTISERE; p. 456, 2007).

Por fim, o terceiro nível se refere ao mal físico. Assim como as doenças; os tormentos da alma, os sofrimentos e até mesmo a morte, são entendidos por Santo Agostinho como consequência do pecado original que por sua vez, é consequência do mal moral que já mencionamos acima. O pecado original, diz Santo Agostinho, foi o pecado da soberba, que protagonizou e iniciou o primeiro desvio da vontade Suprema.

Os dois primeiros homens devem ter começado a ser maus interiormente, antes de caírem na rebelião aberta, pois não se pode chegar a cometer uma obra má se não houver antes a má vontade. (REALE/ANTISERE; p. 457, 2007).

A verdadeira liberdade para Santo Agostinho consiste em que, a liberdade deve sempre aderir ao bem Supremo, e, todavia, se trata de liberdade sempre livre. Portanto quando o espírito abandona o princípio ao qual deve sempre aderir, acreditando, tal o homem, ser principio de si mesmo, se torna auto-suficiente (soberba). Tendemos pela má vontade, voltar-se o espírito a nós mesmos do que ao bem supremo.

Mas devido o surgimento do pecado original, a verdade se enfraqueceu, e por causa disso, torna-se necessária a graça divina. Esta graça se torna necessária para toda e qualquer ação reta visando o bem. Mas quando o ser humano pensa poder viver de maneira “reta” por suas próprias forças, ou seja, sem o auxilio da graça divina que é libertadora, tal homem fracassa e é vencido pelo pecado. Portanto, todo ser humano tem “a capacidade de crer com o seu exercício de livre vontade e no seu libertador, acolhendo a graça”. (REALE/ANTISERE; p. 457, 2007). Fazer o bem é dom de Deus por sua graça e o homem acolhe pelo livre – arbítrio.

Conclusão


Em suma, podemos concluir que Santo Agostinho, entende o mal como “uma ausência do bem no mundo”. Quando tomamos decisões pela má vontade, inclinando o nosso coração as coisas finitas, desviamo-nos do Bem Supremo, e as consequências de tais atos, não alcançam as realizações em plenitude e excelênciariedade. Realizações estas, que, só encontramos em Deus. O mal é pura privação do bem, assim como as trevas é pura ausência da luz. De forma semelhante o mal aparece onde o bem é deixado de lado. Vimos também que o homem não pode viver só em si mesmo, se arrogando ser o suficiente para as suas realizações. Pois sem a graça divina, tudo o que ele faz, fracassa; porque acaba sendo vencido pelo pecado das más inclinações às coisas finitas que são modos de ser inferiores ao Ser Supremo que é o próprio Deus.

(...) este pecado não é apenas o primeiro pecado cometido nas origens, quando Adão e Eva viviam no paraíso. Ele é original no sentido de que designa o estado de pecado que marca a natureza humana em consequência de sua origem, ou seja, de um membro de um gênero de seres (o gênero humano) cuja origem encontra-se no pecado cometido pelo ancestral, pois o pecado do primeiro homem e da primeira mulher foi o pecado dos pais e poluiu para sempre toda a descendência humana. (CHAUÍ; pp. 260-261, 2009).

Deus, em Santo Agostinho, é princípio sem princípio, criador das coisas visíveis e invisíveis. O Bem, a realização de todos os homens, seus filhos. É o caminho seguro para alcançar a felicidade plena. Deus que enviou seu Filho único para que todos possam, através dele, entrar em comunhão profunda com o Criador e partilhar da felicidade que Deus tem para cada pessoa. Cristo é a graça em pessoa do Pai. A graça tão necessária para que o homem possa realizar suas atividades no mundo com êxito. Graça, quer dizer; inclinação de Deus para com os seus amados é um dedicar-se cuidadosamente aos que lhe buscam e contam com o auxilio Dele. O Amor amou primeiro. Antes da criação, Ele já existia, e também já sabia da queda do homem pelo pecado, devido ao mau uso de seu livre-arbítrio, mas, todavia, Deus de antemão, tinha um projeto de salvação ao qual seu Filho fazia parte e era o ápice deste projeto salvífico.

REFERÊNCIAS

CHAUÍ, Marilena; Convite à filosofia; Ed. Ática, 13ª edição São Paulo – SP – 2009.

REALE, Giovanni e ANTISERE, Dario: História da filosofia; volumes: I, II e III, Editora Paulus, São Paulo – 2007.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

ABBUD, Luiz Nelson: Filosofar é perguntar; Editora Rosograf, Londrina PR, 2ª edição – 2008.

AGOSTINHO; Confissões. São Paulo: Abril Cultural; 1980 (Os Pensadores).

Dicionário de filosofia de Cambridge; Editora Paulus, SP – 2006.

Guia de Estudos: Metafísica, epistemologia e linguagem; Universidade Metodista, São Bernardo do Campo SP, 2ª edição – 2010.

LENZENWEGER; Josef/ STOCKMEIER; Peter/ BAUER; Johannes B./ AMON; Karl e ZINHOBLER; Rudolf: História da Igreja Católica, Ed. Loyola – 1995.

PECORARO, Rossano (org.); Os filósofos clássicos da filosofia; Volumes I e II, Ed. Vozes Petrópolis e PUC Rio – 2008.

PIERRARD; Pierre; História da Igreja, Ed. Paulus, 5ª edição – 2008.

domingo, 10 de outubro de 2010

FILOSOFIA MEDIEVAL

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD – LONDRINA-PR
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura

AGUSTAVO CAETANO DOS REIS

FILOSOFIA
RELIGIÃO E FILOSOFIA MEDIEVAL

SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2010
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS - Nº 161062

FILOSOFIA
RELIGIÃO E FILOSOFIA MEDIEVAL


Trabalho apresentado ao módulo Religião e Filosofia Medieval, à atividade: Portfolio. Em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Polo Londrina.

Professor: Luís Fernando Weffort

SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2010
SUMÁRIO


1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................03

2 – APRESENTAÇÃO.......................................................................................04

3 – CONCLUSÃO...............................................................................................06

4 - REFERÊNCIAS.............................................................................................07


INTRODUÇÃO
“Na Idade Média, a teologia toma em mãos as rédeas da ciência:
perigosa época de emancipação.”
Friedrich Nietzsche

- PROPOSTA

Ler o livro “O que é Filosofia Medieval”, de Carlos Arthur Nascimento

Produzir um breve texto discutindo: de que maneira filosofia medieval comprometeu-se tanto com a tradição filosófica grega quanto com as exigências da fé cristã.

A chance que um aluno tem de se aprofundar no universo do conhecimento é grande e entendo que não depende unicamente dele, eis que o Professor, com todo seu manancial de conhecimento, é que possui o condão de surtir seus discípulos de material rico e vasto para a realização de seus estudos.
Assim ocorre neste caso, quando nos dispomos a fazer uma breve análise da Filosofia Medieval abordando comparações com a tradições filosófica grega com as exigências da fé cristã que se desenvolvia à época.
De maneira rudimentar e com breves traços tentar-se-á delinear, não apenas com o livro em questão sugerido, mas também com mais dois textos apresentados para leitura e que servirão para ilustrar a presente atividade.


APRESENTAÇÃO

Quando se busca fazer uma análise de um período histórico, prescinde-se, evidentemente, de um cabedal apropriado para se aquilatar e formar opinião. Isso já é difícil por si só, a começar ainda por um período em que foi considerado como “Idade das Trevas”, ou, como é mais salutarmente conhecido: Idade Média. Mas o material ofertado é de bom cunho.
A obra do Professor Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento O que é filosofia medieval, mais parece um estudo das origens do próprio cristianismo em si do que um aprofundamento no campo medieval e filosófico, talvez por que ambos se confundam numa amálgama, ou, para ser mais gentil, num manancial de busca pela luz.
Pode-se chegar da análise da histórica a nós legada, que a Europa buscava uma identidade própria, após a queda do Império Romano pelos bárbaros e precisava urgentemente manter o poder que escorregava pelos dedos com a crucificação do Nazareno. Mas como borrar o registro de nascimento e imprimir uma nova identidade quando os poderosos da lei e do clero dependiam diretamente dos pagãos, da plebe, dos escravos?
Constantino pode ser considerado o precursor de um projeto audacioso que culminou na miscigenação de crenças pagãs (gregas) com as novas ofertas de liberdade espiritual que se apresentava via discípulos do Cristo. Assim, uma estrutura fenomenal foi construída, conforme bem destaca Gilda Naécia Maciel de Barros, quando nos lembra que as interpretações da bíblia precisavam satisfazer públicos mais exigentes, mais críticos, o que caminhou para o que ela denomina de “filosofia cristã”. (BARROS, 1975).
Entre caminhos tortuosos tais como os trilhados por Pedro Abelardo, em que o Professor Nascimento faz ressaltar que Abelardo apanhava textos de padres e objetivava levar às pessoas, através de leituras contraditórias exatamente uma forma de chocar a consciência acostumada ao quadrado firmado pelo tempo, a novas reflexões que pudessem conduzir à verdade. (NASCIMENTO, p. 33, 1992).
Os pontífices do cristianismo precisavam de uma base para que seu cristianismo construído, tido até então como pagão, fosse bem aceito e compreendido, para depois poderem empurrar sua forma pessoal de pensamento goela abaixo dos povos. Como fizeram isso? Buscaram na tradição da filosofia grega “a segurança de sua própria universalidade” (BARROS, 1975), beberam da fonte de Platão e principalmente de seu discípulo Aristóteles, especialmente o complexo conceito de logos da tradição filosófica grega, muito embora Aristóteles e suas análises da natureza tenham sido posteriormente expurgadas pela própria autoridade eclesiástica (NASCIMENTO, p. 56, 1992), mas também buscaram entre os hebreus, do saber árabe, e assim caminharam por uma meta que vai se ajustando e se moldando às próprias necessidades, sem escrúpulos, definem novos tipos de comentários, destancando-se a dialética, codificam-se a retórica, redescobrem a natureza como horizonte da razão entendendo-a em seus processos e suas leis, acentuando-se o valor da experiência que emerge a Filosofia natural, demarcando-se, enfim, os limites entre sagrado e profano. (PACHECO).
Não podemos esquecer os aspectos que forçaram a aceitação plena da nova fé, tais como os de Galileu Galilei, “as coisas foram mais complicadas e que os interlocutores e adversários de Galileu estavam longe de ser sempre burros, ignorantes e cabeçudos.” (Grifo meu). (NASCIMENTO, p. 79, 1992), ou seja, sabiam bem o que queriam, haja vista a “santa” inquisição.
Muito embora a fonte fosse a filosofia grega, precisavam limpá-la de acordo com as exigências da fé cristã; já que não podiam escapar do pensamento em si, eis que muitos aliados da arte de pensar foram amealhados, era preciso permitir, talvez, uma filosofia medieval. A construção do deus cristão, afinal, não poderia estar corrompida pela tradição pagã – que reviravolta! – e uma das preocupações maiores era “dissociar o Deus judaico-cristão do necessitarismo grego. [...] não submeter o Deus onipotente aos limites das essências ou naturezas e da lógica da não-contradição.” (NASCIMENTO, p. 68, 1992).
E mais,

Muitos cristãos do século XIV estavam simplesmente fartos de todo este negócio. Eles não tinham o que fazer com a teologia especulativa, eles não se perderiam nos obscuros e inseguros mistérios da união mística; o que eles precisavam era de vida cristã prática direta e de mais nada. (Grifos meus). (Étienne Gilson, citado por NASCIMENTO, p. 73, 1992).

E assim se valeram, os progenitores do cristianismo, de pensadores imortais, que deixaram sob o berço da humanidade, seus esforços e conciliar e trazer à lume maneiras e estruturas distintas que nos possibilitassem trilhar, talvez, solitários, as veredas do saber. Mas não esperavam que esse trabalho humanitário fosse um dia utilizado de maneira tal que se encaixasse em exigências interesseiras de uma fé construída.

CONCLUSÃO

Nietzsche acreditava que sem a teologia normativa os gregos antigos tinham o direito de acrescentar o que quiser e acreditar no que quiser. (NIETZSCHE, p. 37 (72), 2007). Com o advento ocidental do cristianismo esse direito à liberdade foi tolhido. Creia no quadrado dogmático concebido pela mente humana voltado para o poder e dominação e não acresça nem tire uma vírgula, nem tente fugir disso. Terror puro. Nós “homens de deus”, assim o concebemos, assim deve ser.
Os filósofos, os teólogos, os cientistas procuram respostas às suas perguntas através da lógica, da metafísica, dos métodos. Como explicar as coisas da natureza (physis) com a natureza humana usando parâmetros e esquadros concebidos por mentes humanas? Todos sabemos plantar uma flor, mas sabemos construí-la? Urge irmos além do “cérebro de pato”.
Acaba-se colocando certa parcialidade no texto que se apresenta. Portanto, volto-me humildemente ao material ofertado pelo Professor e relembro que “Seria inteiramente equivocado supor que [...] qualquer outro teólogo do século XIII pudesse encontrar em Aristóteles, Avicena, Averróis, [...] ou onde quer que fosse uma filosofia pronta para ser utilizada [...].” (NASCIMENTO, p. 60, 1992). O que importa é a força que a filosofia tem em si de fazer pensar, gerar questionamentos, propor experimentos, o que não podemos é permitir a corrupção e a manipulação de uma paixão tão sublime, como o ato de filosofar, por mãos abomináveis que tergiversam e distorcem à seu favor a formação de opiniões como fonte dogmática da verdade. Ou você também se sentira livre para escrever deus e bíblia com letras minúsculas sem pensar em algum tipo de pecado?


REFERÊNCIAS

BARROS, Gilda Naécia Maciel de Barros. Cristianismo primitivo e paideia grega. Faculdade de Educação da USP. Artigo publicado em “O Estado de São Paulo”, em 21 set 1975. Texto ofertado pelo Professor Luís Fernando Weffort.

NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro do. O que é filosofia medieval. Coleção Primeiros Passos. Ed. Brasiliense. 1992. . Texto ofertado pelo Professor Luís Fernando Weffort.

NIETZSCHE, Friedrich. O livro do filósofo. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal-76. Ed. Escala Tradutor: Antônio Carlos Braga. P. 37 (72). 2007.

PACHECO, Maria Cândida Monteiro. A filosofia e a questão da interpretação. A palavra e os textos – entre a Letra e o Espírito. Faculdade de Letras da Universidade do Porto-Portugal. Texto ofertado pelo Professor Luís Fernando Weffort.
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1 Friecrich Nietzsche. O livro do filósofo. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal-76. Ed. Escala Tradutor: Antônio Carlos Braga. P. 18 (32). 2007.