- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO, ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES

Realizar uma dissertação sobre o trabalho de alguém já não é tarefa grata para pessoas devidamente habilitadas. Realizar uma dissertação sobre o trabalho de um alguém do vulto do grande Aristóteles não é tarefa grata para muitos, em especial para incipentes neófitos à Filosofia... Como lançar uma opinião sobre temas tão profundos e de ordem social tão importantes quanto razão, ética e política? Necessário se faz ter uma base e minha base é singela e pífia para querer demonstrar conhecimento sobre a temática. Todavia, procurarei esboçar uma opinião fundada em textos me ofertados e pesquisas realizadas.
Aristóteles precisava sair do mundo das ideias para o mundo concreto, onde pessoas de carne e osso viviam, sentiam, amavam, guerreavam, comercializavam. A polis crescia e com ela a necessidade de uma vida em comum a necessidade de reger a vida do cidadão para que o cosmos pudesse reinar era imprescindível. Para tal a mente brilhante de Aristóteles fremia de pensamentos que trouxessem a ordem e evitasse um caos.
Par isso não bastava unicamente nascer e ser um fruto do divino, mas sim manter-se reto e dedicado em um foco, uma meta, cujo objetivo era ser o exemplo vivo de sua obra viva. Como postular aos demais que compreendessem suas posturas e seus ensinamentos se ele mesmo não vivesse de modo a corroborar suas colocações? Ora, se não nascemos virtuosos, tal capacidade necessita unicamente de nossa postura, pois, segundo destaca o Professor Paulo Ferreira da Cunha em seu texto “Aristóteles – Filosofia do Homem, Ética e Política”, “As virtudes estão assim nos homens [...] em potência”. Ou seja, é colocando em prática a própria virtude que se alcança cada vez mais e mais os degraus da mesma. Isto, porém, só pode ocorrer quando se sabe o que faz e para tal é necessário valer-se do uso da razão! Um exemplo do Professor que abrilhanta seu texto é o do paciente que não pode se curar apenas e tão somente concordando com o diagnóstico médico sem dar conta das receitas lhe indicadas para o tratamento.
É por isso que Aristóteles foi considerado o primeiro sistematizador das coisas políticas (dentre outras, como um estimável pedagogo sociólogo, fundador do direito constitucional com seus diferentes ramos, histórico, nacional, geral e comparativo; que criou a ciência política no sentido de que, estabelecendo a dinâmica e medindo o rendimento das instituições, ela ultrapasse o direito). (http://ateus.net/ebooks/geral/aristoteles_a_politica.pdf. Acesso em 17/05/2009). Sua visão era a de que a natureza humana era exclusiva, senão necessariamente uma natureza social e política, com dimensões irrecusavelmente jurídicas. O Homem é um ser da cidade, um animal político.
Aristóteles raciocinou concluindo que cidadão, em suma, seria o homem, mas não apenas por sê-lo, mas sim o politicamente ativo. E diferenciava essa condição ativa dos demais trabalhadores. Por exemplo, um artesão não poderia ser um autêntico cidadão, eis que não poderia ser um político ativo, ou melhor, não encontrava tempo suficiente para dedicar-se à cidadania política, tendo em conta que precisava cuidar de suas tarefas profissionais.
Mas o que conduziria uma pessoa à rumar para as questões de ordem ética e política? A mola propulsora seria a felicidade! Essa felicidade que Aristóteles não compreendia no acúmulo de riquezas ou bens externos – muito embora os considerasse úteis – mas sim o que realmente valia: a inteligência, costumes excelentes, os bens da alma. Ora, a felicidade pública não difere da felicidade privada, em assim sendo, conclui-se que na política, o homem deve encontrar-se feliz, mesmo sem riquezas, apenas com “os bens da alma”. Que exemplo para os políticos de hoje! E isso fica claro em sua “Ética a Nicômaco” quando ele destaca que “[...] a política utiliza as demais ciências e [...] legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano”. (Grifo meu).
De nada vale teorizar sobre isso sem a razão, base para os frutos a serem colhidos – ou o único fruto: felicidade. Cito outro trecho da obra “Ética a Nicômaco” que traz luz ao exposto:
[...] o defeito não depende da idade, mas do modo de viver e de seguir um após outro cada objetivo que lhe depara a paixão. A tais pessoas, [...] a ciência não traz proveito algum; mas aos que desejam e agem de acordo com um princípio racional o conhecimento desses assuntos fará grande vantagem. (Grifo meu).
Nesse sucinto e brevíssimo trecho encontra-se a alma de dois dos pontos necessários à vida na polis politizada: “princípio” e “racional”. A ética e a razão espelham-se no Homem da polis, no homem da política que busca o bem do próximo sem pensar em extrair proveitos de sua atividade. Outros confiam no legislador e querem o melhor para si e para os seus, por tal imagina-se que os que elaboram leis para serem cumpridas sejam exímios conhecedores de virtudes e praticantes das mesmas. Hesíodo já dizia: “Ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas; bom, o que escuta os conselhos dos homens judiciosos. Mas o que por si não
pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, esse é, em verdade, uma criatura inútil.” (ARISTÓTELES, p. 51). A virtude, para Aristóteles estava acima da própria honra e ela em si mesma seria a finalidade da vida política. Nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Esse era o conceito que ele fazia da felicidade, a auto-suficiência, aquilo que em si mesmo torna a vida desejável e carente de nada e a finalidade da ação, do Homem de ação, do animal político, da Política em si.
Mas isso é um objeto de escolha, da ética, do princípio inato. A política não pode - e não deveria – se converter em objeto de prazer, não poderia se tornar mais desejável do que o bem comum; não que não se possa encontrar prazer no ato de politicar, mas esse prazer então deveria ser completo, em todo e qualquer momento, pois assim esse prazer seria cabal e perfeito na “atividade”. Infelizmente o próprio Aristóteles concorda que “todos os seres humanos são incapazes de uma atividade contínua, e essa é a razão de não ser contínuo também o prazer, pois ele acompanha a atividade”. (ARISTÓTELES, p. 224).
O Professor Cunha tem sua própria posição à respeito e, ao que parece, Aristóteles também chega a esse corolário: “[...] a vida virtuosa pode ser mais ativa ou mais contemplativa. E aí não há unanimidade entre os que louvam a virtude em geral”. Por isso há diferenças, e ele completa com Aristóteles:
Uns não dão nenhuma importância aos cargos políticos e consideram a vida de um homem livre muito superior à que se leva na confusão do governo; outros preferem a vida política, não acreditando que seja possível não fazer nada, nem portanto ser feliz quando não se faz nada, nem, que se possa conceber a felicidade na inação. [...] Uns e outros têm razão até certo ponto e se enganam sobre o resto.
Penso humildemente que se o homem é um animal político, não importa se um artesão, um militar, ou um filósofo, todos somos e temos o direito de politizar, diria mais, a obrigação, eis que todos esses elementos estão envolvidos numa busca, seja essa busca contemplativa ou ativa, consciente ou não: a felicidade, que é, na ótica de Cunha “tanto nos particulares como nas sociedades políticas, fruto de uma ação ponderada, previamente refletida. De uma ação fruto da virtude, e de uma virtude pensada.” (Grifos meus).
Façamos um jogo de palavras para fechar esse trecho.
Se a felicidade é a expressão do bem e o bem é a finalidade de todas as coisas, então a felicidade é o fim de todas as coisas. Bem, se a razão é o caminho para o bem (felicidade), logo a razão é o caminho para a felicidade e todas as coisas. E, o homem tem como função dele mesmo o caminho para o fim de todas as coisas. Se a felicidade, ou seja, o fim de todas as coisas, tem sua excelência no intelecto e o homem é o intelecto, logo a felicidade está no homem!

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