- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.
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terça-feira, 18 de maio de 2010

ÉTICA, POLÍTICA E MODERNIDADE





CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA







RICARDO LUIS DO PRADO
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
RODRIGO FONTOURA MASSI






MÓDULO: ÉTICA E POLÍTICA. POLÍTICA E MODERNIDADE
DISSOCIAÇÃO ENTRE ÉTICA E POLÍTICA NO PENSAMENTO DE NICOLAU MAQUIAVEL












SÃO BERNARDO DO CAMPO
2009


RICARDO LUIS DO PRADO
REGISTRO ACADÊMICO: 163325

AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
REGISTRO ACADÊMICO: 161062

RODRIGO FONTOURA MASSI
REGISTRO ACADÊMICO: 161094





POLÍTICA E MODERNIDADE: DISSOCIAÇÃO ENTRE ÉTICA E POLÍTICA NO PENSAMENTO DE NICOLAU MAQUIAVEL








Este trabalho acadêmico de cunho filosófico tem a intencionalidade de explanar os conhecimentos a respeito da política em Maquiavel bem como as ideias apresentadas no texto de Lebrun; em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Pólo Londrina.


Professora: Suze de Oliveira Piza








SUMÁRIO






INTRODUÇÃO:..................................................................................................03

PRÓLOGO:........................................................................................................05

1.0. DISSOCIAÇÃO ENTRE ÉTICA E POLÍTICA NO PENSAMENTO DE
NICOLAU MAQUIAVEL:..................................................................................08

2.0. POLÍTICA E PODER, TOMADA E MANUTENÇÃO DE PODER:.............11

CONCLUSÃO:...................................................................................................13

REFERÊNCIAS:................................................................................................15

ICONOGRAFIAS:..............................................................................................17















INTRODUÇÃO

O filósofo francês Augusto Comte, jamais poderia imaginar como uma nação como o Brasil, na adolescente América Latina, poderia se encontrar hoje, em princípios de século XXI, quando proferiu sua sentença maior sobre ordem e progresso, a qual veio imortalizar nossa bandeira pátria. Sua visão otimista na Europa atribuía o progresso ao desenvolvimento das ciências positivas, ciências estas que permitiriam ao ser humano “saber para prever, prever para prover”, de modo que o desenvolvimento social se fizesse por aumento do conhecimento científico e do controle científico da sociedade. (CHAUÍ, 1999, p. 49). Passado mais de um século desde Comte, a política e a moralidade parecem continuar a se chocarem na ânsia desse “controle científico da sociedade”.
O dogma da ética implantado no cérebro da humanidade desde os primórdios dos tempos dita uma consciência, consciência esta criticada dura e constantemente por Nietzsche em suas obras. O ser humano vive como se fosse um existencialista precoce, sabendo ser finito, busca encontrar o sentido de sua existência o mais breve possível, de preferência de posse de uma boa quantia de dinheiro.
A razão passa a ser uma ilusão, a falsificação da realidade a serviço da exploração do homem para dominar seus semelhantes.
Em seu “Discurso do Método”, Descartes sonhava: “E eu sempre tive imenso desejo de aprender a distinguir o verdadeiro do falso, para ver claro nas minhas ações e caminhar com segurança nesta vida.” (DESCARTES, parte I).
Lebenswelt é citado por Arcângelo Buzzi, em sua obra: Introdução ao Pensar nos seguintes termos: “O pensamento, na atividade teórica, luta por alcançar o conhecimento da atividade prática, o mundo da vida.” (BUZZI, 1972, p. 16).
Espremidos por necessidades de toda sorte, determinamos as coisas, impomos-lhes um sentido de interesse, recolhemo-las sob o teto de fins particulares, Todas as substância estão no devir, todas se transformam. Na transformação não perdem a identidade porque são ato e potência. Isto quer dizer que cada substância, embora seja atual, se abre a mudanças imprevisíveis. Todos esses pensadores de outrora (e também os contemporâneos) tiveram sua observação em determinado momento de suas vidas, voltada para o homem como indivíduo governante e governável. O poder do Rei, o poder do César, o poder do troglodita das cavernas, o poder da religião, do mito, sempre o poder envolto por um manto místico e misterioso repleto de nuances egóicas e individualistas. Sócrates foi assassinado sob o pálio desse mesmo poder; Jesus foi assassinado sob o pálio desse mesmo poder; Tiradentes foi assassinado sob o pálio desse mesmo poder. Quem estava eticamente correto e quem estava moralmente errado?
Seria o “poder” algo dotado de vida própria programado ou com onisciente que rege a tudo e a todos com intenções únicas de sua manutenção no status de “poder”?
É com base nessas premissas que abordamos alguns pontos interessantes que marcaram a história da humanidade; aspectos de ética, moral, política e, claro, poder assombram e encantam até hoje. Maquiavel foi um dos precursores dessa libertação ética e moral nos bastidores do poder, tanto que foi abertamente criticado e ocultamente adorado.
Não nos olvidemos, todavia, de que nossa vontade de poder produz a ciência e todos os efeitos que ela venha causar.



Prólogo


Existe uma brincadeira de tom pejorativo que quando uma pessoa demonstra ser muito egoísta eles recitam a introdução da oração do pai nosso de uma forma jocosa: “Vem a nós o seu reino, seja feita a minha vontade.” Quando se fala de poder, egoísmo, moral, ética, com certeza os vigilantes de plantão estão prontos a criticar, mas quando esses mesmos vigilantes precisam inventar uma mentira para se ausentar do trabalho ou convencer um cliente a adquirir um produto no comércio, não hesitam em fazê-lo sem o menor escrúpulo, repousando tranquilamente suas cabeças em seus travesseiros à noite.
É frequente referir duas dimensões da moral: o seu caráter social, a intimidade, a consciência crítica do sujeito moral. Argumenta-se a favor de uma dupla dimensão com as ideias de que: a) sem a liberdade individual não há moralidade (só pode ser moralmente obrigado o sujeito livre); b) o homem é um ser social e qualquer dos seus atos afetam, de algum modo, os que com ele vivem. Contudo, não é pacífico o modo de entender a relação entre essas dimensões. Segundo alguns, existe uma teoria chamada “teoria do egoísmo ético”, ou melhor, a pessoa deve agir em função do seu interesse pessoal não importando os meios para tal; o único compromisso de um indivíduo consiste em agir de tal forma que, de sua ação, resulte sempre um número maior de benefícios do que de prejuízos para si mesmo. Ao agir, o indivíduo deve sempre refletir sobre as vantagens que sua ação poderá lhe trazer e deverá sempre optar pela ação que lhe traga mais benefícios, mesmo que ela implique em prejuízos para os outros. Como já ficou popular entre nós, para o egoísta o importante é “levar vantagem em tudo”.
Gerson (o ex-jogador que fez o comercial que tinha esse slogan) não esperava essa repercussão tão sombria nos dias vindouros, tampouco o próprio Maquiavel, ter seu nome associado a termos malévolos, ambos não queriam o mal, mas eles conseguiram abrir a caixa de pandora da antieticidade, e assim, muitos passaram a crer que os fins justificam os meios, e por assim dizer, a manutenção do poder a qualquer custo, olvidando-se o bem comum como fim social e humano.
Essa mesma “ética” pode ser considerada a moral do amor próprio expressão esta mais amena que "egoísmo", uma pseudo-forma de se justificar perante a sociedade e ante os olhos que tudo vê. Observa-se que nenhuma ética laica nos impõe a renúncia ao que somos, antes pretende a melhor realização do que somos. Chamamos de valor e concedemos valor àquilo que mais nos interessa: isto é válido tanto para a ética como para o direito, a política, o comércio, o amor. E assim é o ser humano! Como é que uma moral caracteristicamente antiegoísta como a kantiana pode, no entanto, centrar-se no lema de que cada homem é um fim em si mesmo e preconizar a autonomia moral do sujeito e de todos?
O “eu” que sabe o que lhe convém, de onde provém e como durar mais e melhor não só não é antisocial, como pelo contrário, interioriza e reforça as razões da sociabilidade, mesmo que de forma vedada. Esse “eu” que tenta conservar e potenciar não é nada sem o reconhecimento humano, sem a vinculação social, sem a garantia de seus direitos de cidadão.
Savater, Espinosa, Hobbes, todos esses filósofos modernos teorizaram sobre a fundamentação dos valores sobre o amor próprio, tal como Maquiavel à sua maneira revolucionária.
Espinosa, assim como Maquiavel, enxergava os seres humanos como eles são: passionais e racionais, bondosos e perversos. Se a razão e a emoção estão sempre em confronto em nossa natureza, isso não nos deve servir de pretexto para renunciar à racionalidade, pois vivemos em sociedade. Hobbes atribuiu o nome de conatus à energia que impulsiona o homem a vencer sempre, a agir, a viver. Todos temos conatus e, segundo Maquiavel, todos querem o poder e se manter nele, claro, pois assim defendemos nossos próprios interesses sob o argumento de defender o de todos; o egoísmo moral já citado: um viver para preservar a si mesmo. A “virtuosidade”; o agir pensando na felicidade do amado, assim, não aparece como condição para a felicidade platônica, eis que tal amado é o si próprio.
O Professor Ribeiro entende que no trabalho de Maquiavel existe uma problemática: “Como passar da força bruta ou da violência ao poder, que depende do consentimento dos dominados?” (RIBEIRO, 2009). Ele mesmo encontra a resposta: Maquiavel analisava a história, a experiência, pois “sempre venceu quem mais pensou no êxito do que na moral ou na salvação da alma.” Assim foram os grandes conquistadores, os grandes estadistas. O interessante é que se vislumbra, segundo o mesmo Professor, duas éticas na obra de Maquiavel, uma cristã, preza a salvação da alma, e outra a pagã (O Príncipe), que valoriza a polis, a cidade, este mundo. Observa-se que houve uma contaminação e uma desvirtuação desde então, em cima da justificativa “revolucionária” e antimoralista que Maquiavel defenderia. Ou melhor, cada um torceu sua obra da melhor forma que lhe convinha.


1.0. Dissociação entre ética e política no pensamento de Nicolau Maquiavel




Para entendermos o pensamento político na obra o “O Príncipe” de Maquiavel, se faz necessário que se mergulhe no contexto ao qual o filósofo estava inserido em sua época. Maquiavel viveu na época da renascença na Itália. Nesta época reinava grandes conflitos internos no poder interno entre os principados. A tirania reinava em pequenos principados, até mesmo casas sem possuir a dinastia devida, entravam no poder despoticamente. Devido à ilegitimidade do poder, gerou crises e instabilidades permanentes, onde somente o pensamento político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra os adversários, eram capazes de manter o príncipe. De 1498 a 1512 foi secretário da segunda chancelaria da República de Florença, com responsabilidades pelas relações exteriores e a renovação da milícia cívica doméstica. Seu cargo envolvia numerosas missões diplomáticas dentro e fora da Itália.
O pensamento de Maquiavel entrou para a história de maneira caricatural e deturpada, tendo o seu nome servido à criação do adjetivo “maquiavélico”, sinônimo de dissimulação, falta de escrúpulos e oportunismo. Devido a isso, foi-lhe atribuído a seguinte máxima: os fins justificam os meios.
Seu pensamento expressa, pela primeira vez na história da filosofia, a compreensão de uma ética que não se encontra fundada em valores supremos, mas que possui como solo as necessidades políticas de cada nação. Se há um bem, posto como finalidade na obra de Maquiavel, este não possui caráter absoluto: antes, o bem é imposto pela contingência histórica da ética em um determinado momento de seu percurso. Ele vê um mundo concreto com seus conflitos, não se deve pensar em um ideal a ser seguido. Na compreensão deste autor, o bem a ser procurado em sua época é a construção de uma nação italiana unificada, regida por um só governo, possuindo uma só lei e um só exército.
O bem não pode ser buscado na natureza humana tomada em seu aspecto individual, pois é da natureza humana buscar, por princípio, o prazer individual imediato, cuidando cada um sem seus próprios interesses. Se o bem pode ser identificado com a ordem harmônica de um Estado fortemente constituído, não há, no entanto, uma forma ideal que este deva alcançar. A excelência de um modo de organização depende da constituição do povo governado, a das relações entre estes e seus governantes. È preciso sempre observar qual é o melhor modelo a adotar em cada situação particular. A liberdade é assim oriunda das relações dinâmicas entre governantes e governados.
A excelência política de um governante se funda na posse da virtù. Essa é compreendida como a capacidade de entrar em sintonia com a fortuna, que designa, por sua vez, os percalços da história, compreendida como sucessão de desdobramento cíclico e retornos. O homem de virtù é aquele capaz de agir conforme o momento propiciado pela fortuna, ou seja, a sorte de momento no desdobramento das circunstâncias. No sentido grego, a virtus significa a força do guerreiro, a capacidade de perceber o jogo político em sua volta, portanto a possibilidade de interferir nos rumos da história sempre a seu favor. Neste sentido, os valores éticos são submetidos a sua aplicabilidade prática. Será designado “bom” o governante capaz de cometer o mal tanto quanto o bem, na manutenção de um Estado forte e coeso. Manter o poder é fundamental para Maquiavel. Por isso Maquiavel afirma que é mais vantajoso que o príncipe seja temido do que amado. É muito mais difícil que alguém tente enganar outro alguém que lhe provoque temor do que alguém que o ama.
Um outro ponto a se ressaltar é que a intenção do filósofo nessa obra “O Príncipe” não é a de estabelecer diretrizes de ética e bom caráter que um rei ou governante deveria seguir em uma sociedade ideal. Maquiavel deixa claro que não está falando de um reino ou principado existente apenas na imaginação dos homens. Segundo ele, teorizar sobre uma sociedade que não existe na realidade não faz sentido, pois o que é pensado para ela nunca vai encontrar condições de se realizar em um país de verdade.


2.0. POLÍTICA É PODER, TOMADA E MANUTENÇÃO DE PODER.

A política é e sempre foi poder. A política pode exercer sua capacidade de autoridade de diversas formas, inclusive quando se determina a tomada de manutenção desse mesmo poder pela força, mas de modo preciso e adequado, conforme as circunstâncias do regime, sob o pálio de que tudo que é ordenado para o domínio da sociedade deve ser cumprido e avaliado (pelo governo).
O domínio do poder pode obscurecer as relações de quem o opera, e até mesmo de quem o cumpre, considerando-se que estão em um sistema entrelaçado de ordem de imposição, ou sistema institucionalizado, com uma observação que outros tipos de sistemas também ditam a ordem social, a cultura local, os conceitos, os preconceitos, a religião, a crença, instituições privadas, ONG (s), paixões coletivas, etc., o que leva uma análise específica de cada caso gestor do comando, a fim de se aquilatar o grau de obscuridade eventual. Mas assim esbarra-se numa nova problemática: a quem competiria essa análise e possível correção?
O exercício de uma voz de mando não pode ser imposto contra a vontade do povo, haverá resistência; a política democrática elege cidadãos que por eleições detém esse poder, o Estado deve reger esse poder lhe outorgado para fins comuns e/ou coletivos, a repressão somente deve ocorrer em casos onde já se perdeu os limites impostos pelo controle da moral sob qual a sociedade se conduz; a sociedade respeita a tomada de poder, desde que legítimo, sua infração impõe uma punição prevista em Constituição, afinal, em uma “democracia política” não se pode ter organização, sem dominação, sem liberdade expressa em lei para governar. Em si, a sociedade avalia esse sistema de regimento do poder político verificando os prós e os contras. O poder não é uma coisa, ou objeto, é uma ideologia da sociedade, e a sociedade é quem decide quem é empossado por este poder, quem pode ser o político e quanto pode até receber de salário; teoricamente a sociedade decide a vida política de todos os políticos.
Infelizmente as minúsculas parcelas da sociedade, que são os políticos “profissionais”, democraticamente eleitos agentes da vontade popular, trabalham com todos seus poderes plenos para que a sociedade perca sua tomada de decisão, e que façam esta pensar que o poder de um governante se torne uma condição natural, e isto causa na sociedade relações de injustiça e desigualdade, colocando a culpa até em Deus, que todos se tornem dependentes da “providência Divina”, é a cultura do “analfabetismo político”, onde escola, saúde, emprego, e até a sua base salarial, dependem desta política de poder, ou melhor, deste poder político. Culmina-se na frase: “cada povo tem o governo que merece.”
O poder é tão gigantesco, que o político não precisa nem suplicar o voto para o eleitor, é o eleitor quem dá o voto ao político, é preciso que os pensadores, filósofos, formadores de opinião, ingressem numa grande cruzada a fim de transmutar o “analfabeto político” em “consciente político”, isto é um tentar mudar a história e a sociedade do futuro; o poder da razão impera sobre todo corpo social, afinal todo poder emana do povo, pelo povo e para o povo. A política decide a nossa vida, de nossos filhos de nossos netos, e se voltarmos nossos olhos observaremos que decidia a vida de nossos pais, avós, e toda uma árvore genealógica que se vai longe... O verdadeiro poder é nosso, e ignoramos isso.
Gerard Lebrun, em seu artigo “O que é poder?” demonstra claramente que o poder, a força não significa a posse de meios violentos, coercitivos, não é subverter as informações para adquiri-lo, a força é a canalização da potência, uma potência de agir no corpo com determinação e consciência voltada para o bem comum, a partir do momento em que continuemos a viver em sociedade como cidadãos “civilizados”. Fica claro em seu curto texto que os partidos, os sindicatos, um ladrão ou uma amante possuem poderes políticos, o que nos resta saber é como esses mesmos potenciais serão utilizados.




CONCLUSÃO

O Professor Nascimento faz menção sobre o poder e sabedoria em seus objetivos preambulares ao texto no Guia de Estudos: “O uso da força e da violência na política, que em princípio parece imoral, pode revelar-se como uma virtude se aplicado com sabedoria.” (NASCIMENTO, 2009, P.71), a questão maior é quem ousaria ter essa pretensa sabedoria a fim de aplicar a força com equidade? O político de carteirinha? O cidadão que somente conhece os problemas da porta de sua casa quando o lixeiro não recolhe seu saquinho de restos? Os professores, os atletas, os miseráveis, os empresários, os jornalistas, os estudantes? Quem assumiria essa responsabilidade? Afinal, virtudes não se encontram em árvores! Mas a resposta talvez esteja exatamente aí! Tendo em conta que todos possuímos defeitos, somos propensos ao egoísmo, à pensar somente em mim, em mim, qualquer um de nós com vontade pode chegar a ser um político com voz de mando, afinal somos um “animal político” em potência.
Virtu e fortuna podem estar ao alcance de todos e de “qualquer um”. Tendo em conta que a capacidade de discernir sobre a melhor ação a ser tomada diante das circunstâncias sempre em constante devir ocorrem sempre que se pretende um fim desejado, nós, você, ele, ela, podem e são políticos a todo instante. Diz um provérbio árabe antigo mais ou menos assim: “Nunca chame de honesta uma pessoa que não teve oportunidade de roubar.” A política, infelizmente, hoje é sinônimo de ladroagem. Infelizmente, pois nem todos querem reger uma Nação, um Estado, uma Cidade, até mesmo sua sala de aula - muito embora tenhamos potencial para isso -, e exatamente por essa falta de anelo é que se elege alguém com vontade voltada para esse fim, e espera-se dele, como gestor de nossa própria vontade, que ele administre coesamente. Ocorre que todos somos egoístas e só pensamos em nós. Quando um governante pensa no coletivo, muitas vezes não agrada certas minorias e assim ele se converterá em tema nas conversas de bares de esquina.
Misturarmos ética, moral e política é um caminho tortuoso, Maquiavel já havia profetizado: “Na verdade, aquele que, num mundo cheio de perversos, pretende seguir em tudo os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a própria perdição.” (MAQUIAVEL, 2001, p. 37). (Grifo nosso). Não se pode na política, agradar a “gregos e a troianos” simultaneamente. Pactos são selados, conchavos entabulados, alianças realizadas, viagens para estes e aqueles rincões com fito sempre de “levar vantagem”, em nome dos governados – mas se tiver uma comissão por fora e ninguém souber, tudo bem, afinal o que os olhos não veem o coração não sente.
Será que estamos realmente presenciando os dias do viva e deixe viver? Urge que tomemos consciência política e mais, individual! Respondendo à nossa indagação inicial desta conclusão, conciliar nossa liberdade individual com uma vida política se faz premente, mais ainda quando se compreende uma sociedade igualitária em desejos, necessidades e vontades de poder, esse “poder” não é só estar num gabinete com terno e gravata ou um tailleur, mas um poder comprar uma TV a cabo; poder adquirir um plano de saúde; poder pagar uma faculdade; poder realizar uma viagem ao Egito; poder simplesmente ficar filosofando. Ninguém pode salvar-nos, nenhum recurso exterior que nos possa trazer a liberdade; a liberdade não pode vir senão – sendo um pouco poético - do fundo de nossos corações, do esforço de nossa vontade, assim o animal-político pode governar e ser governado.



REFERÊNCIAS


ARRUDA, José Maria. Disponível em: http://www.unifor.br/notitia/file/1557.pdf. Acesso em: 27 maio 2009.


BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar: o ser; o conhecimento, a linguagem. 33. ed. Ed.: Vozes. Petrópolis-RJ. 2007. pp. 260.


CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. Ed.: Ática. São Paulo-SP. pp. 439.


Dicionário de filosofia de Cambridge. Ed. Paulus. [S.l.]. 2006.


FILOSOFIA 10º ANO. Disponível em: http://ocanto.esenviseu.net/novo10/etica3.htm. Acesso em: 27 maio 2009.


FURTADO, Pedro Calabrez. Disponível em: http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_9/contemporanea_n9_pcalabrez.pdf. Acesso em: 27 maio 2009.


LEBRUN, Gerard. O que é poder? Ed.: Brasiliense. São Paulo. 1980.


MAQUIAVEL, N. O príncipe. Ed.: Martins Fontes. São Paulo. 2001.


MARIOTTI, Humberto. Disponível em: http://www.geocities.com/pluriversu/espinosa.html. Acesso em: 27 maio 2009.


NASCIMENTO, Rodnei. A política no mundo moderno: Autonomia da política em O Príncipe de Maquiavel. Guia de Estudos. Ed.; Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo-SP. 2009. pp. 91.


PECORARO, Rossano. Os filósofos clássicos da filosofia. Volumes: I, II e III, Ed. Vozes. [S.l.].2009.


RIBEIRO, Renato Janine. Um pensador da ética. Disponível em: http://www.renatojanine.pro.br/filopol/pensador.html#topo. Acesso em: 25 maio 2009.


ICONOGRAFIAS


Figura: 01. O Pensador. Disponível em: http://blog.educastur.es/pipa333/2009/03/17/concurso-de-imagenes-filosoficas/. Acesso em: 31 maio 2009.


Figura: 02. Nicolau Maquiavel. Disponível em:
http://www.duplipensar.net/artigos/200x/principe-continua-atual-nicolau-maquiavel.html. Acesso em: 03 jun 2009.


Figura: 03. - Gerard Lebrun. Disponível em: http://veja.abril.com.br/221299/imagens/datas2.jpg. Acesso em: 04 jun 2009.

terça-feira, 16 de março de 2010

A ÉTICA MODERNA E SUA CRÍTICA

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD – LONDRINA-PR
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura



AGUSTAVO CAETANO DOS REIS



FUNDAMENTOS DA ÉTICA E DA FILOSOFIA POLÍTICA
A ÉTICA MODERNA E SUA CRÍTICA














SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2009
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
Nº 161062






FUNDAMENTOS DA ÉTICA E DA FILOSOFIA POLÍTICA
A ÉTICA MODERNA E SUA CRÍTICA








Trabalho apresentado ao módulo: Fundamentos da ética e da filosofia política, à disciplina: A ética moderna e sua crítica. Em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Pólo Londrina.

Professor: Daniel Pansarelli







SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2009
SUMÁRIO


1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................03

CAPÍTULO 1
A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO, ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES...................................................................................................05

CAPÍTULO 2
A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO E MORAL NA MODERNIDADE.................09

CONCLUSÃO.....................................................................................................13

REFERÊNCIAS..................................................................................................16

































INTRODUÇÃO

A proposta que se apresenta é assustadora e ao mesmo tempo maravilhosa: passear pelos grandes pensadores do vulto de Aristóteles, Kant, Nietzsche e dos atuais é um risco de sanidade e concomitantemente um prazer profundo e ímpar. Uma possibilidade que poucos têm de poder desbravar.
Busca-se com o primeiro capítulo deste texto, apresentar uma relação entre a razão, ética e política sob o ponto de vista de Aristóteles, estudando trechos de seu livro “Ética a Nicômaco”, e outros textos de apoio.
No segundo capítulo há uma breve apresentação entre razão e moral na Modernidade, vista depois de se beber textos maravilhosos de grandes pensadores do porte de Kant e Nietzsche.
Muitos podem buscar apenas detalhes que ligam ou que desconectam este ou aquele autor, mas a ideia que permeia este trabalho é uma tentativa de ilustrar as opiniões que favorecem uma postura para os tempos atuais, onde deveria existir uma unidade entre ética e política, muito embora o distanciamento com a Antiguidade seja grande, mas, como se buscará demonstrar, talvez apenas pelo tempo, pois fatores éticos e morais na política sempre foram o mote de todos os gênios da Filosofia, tanto antiga quanto moderna. Afinal, o bem maior, o bem comum continua sendo a felicidade.
Na modernidade todos querem agradar dizendo “sim”, acolhendo os absurdos da ilusão, algo inviável e não funcional. A sombra oculta por trás disso tudo pode ser identificada por um nome: medo! Um espírito que é livre torna-se o que é e tornar-se o que é seria a reunião de afetos de comando necessários para essa elevação. O espírito seria uma “construção”, uma estilização de experiências e vivências. Acreditam-se que na Modernidade a política é decadente, pois cabe aos espíritos mais seletos a obra de realizar-se, fazerem-se criadores, espiritualizar-se. Nossa política/justiça não pune com a intenção de correção , mas simplesmente pelo prazer e afirmação de autoridade.
A sugestão seria ter amor ao necessário e esse necessário seria na visão de Nietzsche “tornar-te o que és”: acima de tudo, “ama-te como és”, ou como diria a sabedoria popular: “Cuida de ti!” O Professor Nobre ressalta que “o ‘torna-te o que és’ é, antes de tudo, um mote de ‘distinção’; é o correspondente positivo do: ‘Não sigas por onde vai um outro.’”
O que se busca com o resultado do trabalho é colocar uma sugestão, uma proposta de que o grande diferencial na ética, moral, razão, política é a experimentação de uma nova necessidade, superando-se a moralidade escrava, “libertar para criação”. Kant (assim como Aristóteles) acreditava que o ser humano esta fadado a viver num ambiente social e político e para tal precisa fazer uso da razão para conviver com os demais, “civilizando-se” nessa sociedade e esse caminho seria a educação cujo objetivo é a moralização que, por sua vez molda, forma o caráter do ser humano. O homem sem regras não inspira confiança é uma pessoa que não sabemos como lidar. Pode ter reações imprevisíveis e livres de toda e qualquer lei ou norma de conduta, chegando a beirar o conceito de loucura.
As características que se observarão no texto são de que precisamos ter em conta que cada um é individualmente inédito. Tratar as pessoas como a medicina que atribui remédios em massa que são universais pode ser um equívoco. O ser humano acredita que as convenções e conceitos da Modernidade são verdades inabaláveis, dogmas pétreos e ao citá-las não percebe que está mentindo inconscientemente.
Não se quer com o texto valorar este ou aquele, como já dito, Kant quis trazer potência à razão, e Nietzsche quis transvalorar as convenções. O que se buscará expor – da compreensão dos textos lidos – é que existe uma maneira limitante de pensar e é exatamente no uso frágil da razão que se encontram os grilhões da liberdade. Essa ruptura com o universal pasteurizado e que nos leva a desconfiar de nossas avaliações atuais é uma seta que indica um Norte: o domínio de si, ou seja, crítico de si próprio.

















CAPÍTULO – 1

A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO, ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES

Realizar uma dissertação sobre o trabalho de alguém já não é tarefa grata para pessoas devidamente habilitadas. Realizar uma dissertação sobre o trabalho de um alguém do vulto do grande Aristóteles não é tarefa grata para muitos, em especial para incipentes neófitos à Filosofia... Como lançar uma opinião sobre temas tão profundos e de ordem social tão importantes quanto razão, ética e política? Necessário se faz ter uma base e minha base é singela e pífia para querer demonstrar conhecimento sobre a temática. Todavia, procurarei esboçar uma opinião fundada em textos me ofertados e pesquisas realizadas.
Aristóteles precisava sair do mundo das ideias para o mundo concreto, onde pessoas de carne e osso viviam, sentiam, amavam, guerreavam, comercializavam. A polis crescia e com ela a necessidade de uma vida em comum a necessidade de reger a vida do cidadão para que o cosmos pudesse reinar era imprescindível. Para tal a mente brilhante de Aristóteles fremia de pensamentos que trouxessem a ordem e evitasse um caos.
Para isso não bastava unicamente nascer e ser um fruto do divino, mas sim manter-se reto e dedicado em um foco, uma meta, cujo objetivo era ser o exemplo vivo de sua obra viva. Como postular aos demais que compreendessem suas posturas e seus ensinamentos se ele mesmo não vivesse de modo a corroborar suas colocações? Ora, se não nascemos virtuosos, tal capacidade necessita unicamente de nossa postura, pois, segundo destaca o Professor Paulo Ferreira da Cunha em seu texto “Aristóteles – Filosofia do Homem, Ética e Política”, “As virtudes estão assim nos homens [...] em potência” (CUNHA. 2003). Ou seja, é colocando em prática a própria virtude que se alcança cada vez mais e mais os degraus da mesma. Isto, porém, só pode ocorrer quando se sabe o que se faz e para tal é necessário valer-se do uso da razão! Um exemplo do Professor que abrilhanta seu texto é o do paciente que não pode se curar apenas e tão somente concordando com o diagnóstico médico sem dar conta das receitas lhe indicadas para o tratamento. É ilógico.
É por isso que Aristóteles foi considerado o primeiro sistematizador das coisas políticas (dentre outras, como um estimável pedagogo sociólogo, fundador do direito constitucional com seus diferentes ramos, histórico, nacional, geral e comparativo; que criou a ciência política no sentido de que, estabelecendo a dinâmica e medindo o rendimento das instituições, ela ultrapasse o direito). (ATEUS.NET). Sua visão era a de que a natureza humana era exclusiva, senão necessariamente uma natureza social e política, com dimensões irrecusavelmente jurídicas. O Homem é um ser da cidade, um animal político.
Aristóteles raciocinou concluindo que cidadão, em suma, seria o homem, mas não apenas por sê-lo, mas sim o politicamente ativo. E diferenciava essa condição ativa dos demais trabalhadores. Por exemplo, um artesão não poderia ser um autêntico cidadão, eis que não poderia ser um político ativo, ou melhor, não encontrava tempo suficiente para dedicar-se à cidadania política, tendo em conta que precisava cuidar de suas tarefas profissionais.
Mas o que conduziria uma pessoa a rumar para as questões de ordem ética e política? A mola propulsora seria a felicidade! Essa felicidade que Aristóteles não compreendia no acúmulo de riquezas ou bens externos – muito embora os considerasse úteis – mas sim o que realmente valia: a inteligência, costumes excelentes, os bens da alma. Ora, a felicidade pública não difere da felicidade privada, em assim sendo, conclui-se que na política, o homem deve encontrar-se feliz, mesmo sem riquezas, apenas com “os bens da alma”. Que exemplo para os políticos de hoje! E isso fica claro em sua “Ética a Nicômaco” quando ele destaca que “[...] a política utiliza as demais ciências e [...] legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano”. (ARISTÓTELES. p. 49; 2; 1094b; 5). (Grifo meu).
De nada vale teorizar sobre isso sem a razão, base para os frutos a serem colhidos – ou o único fruto: felicidade. Cito outro trecho da obra “Ética a Nicômaco” que traz luz ao exposto:

[...] o defeito não depende da idade, mas do modo de viver e de seguir um após outro cada objetivo que lhe depara a paixão. A tais pessoas, [...] a ciência não traz proveito algum; mas aos que desejam e agem de acordo com um princípio racional o conhecimento desses assuntos fará grande vantagem. (ARISTÓTELES. p. 50; 3; 1095a; 5 e 10). (Grifo meu).

Nesse sucinto e brevíssimo trecho encontra-se a alma de dois dos pontos necessários à vida na polis politizada: “princípio” e “racional”. A ética e a razão espelham-se no Homem da polis, no homem da política que busca o bem do próximo sem pensar em extrair proveitos de sua atividade. Outros confiam no legislador e querem o melhor para si e para os seus, por tal imagina-se que os que elaboram leis para serem cumpridas sejam exímios conhecedores de virtudes e praticantes das mesmas. Hesíodo já dizia:

Ótimo é aquele que de si mesmo
[conhece todas as coisas; Bom, o que escuta os conselhos
[dos homens judiciosos.
Mas o que por si não pensa, nem
[acolhe a sabedoria alheia,
Esse é, em verdade, uma criatura [inútil.
(ARISTÓTELES, p. 51. 4. 1095b, 10).

A virtude, para Aristóteles estava acima da própria honra e ela em si mesma seria a finalidade da vida política. Nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Esse era o conceito que ele fazia da felicidade, a auto-suficiência, aquilo que em si mesmo torna a vida desejável e carente de nada e a finalidade da ação, do Homem de ação, do animal político, da Política em si.
Mas isso é um objeto de escolha, da ética, do princípio inato. A política não pode - e não deveria – se converter em objeto de prazer, não poderia se tornar mais desejável do que o bem comum; não que não se possa encontrar prazer no ato de politicar, mas esse prazer então deveria ser completo, em todo e qualquer momento, pois assim esse prazer seria cabal e perfeito na “atividade”. Infelizmente o próprio Aristóteles concorda que “todos os seres humanos são incapazes de uma atividade contínua, e essa é a razão de não ser contínuo também o prazer, pois ele acompanha a atividade”. (ARISTÓTELES, p. 224. 4, 1175a, 5).
O Professor Cunha tem sua própria posição a respeito e, ao que parece, Aristóteles também chega a esse corolário: “[...] a vida virtuosa pode ser mais ativa ou mais contemplativa. E aí não há unanimidade entre os que louvam a virtude em geral”. Por isso há diferenças, e ele completa com Aristóteles:

Uns não dão nenhuma importância aos cargos políticos e consideram a vida de um homem livre muito superior à que se leva na confusão do governo; outros preferem a vida política, não acreditando que seja possível não fazer nada, nem portanto ser feliz quando não se faz nada, nem, que se possa conceber a felicidade na inação. [...] Uns e outros têm razão até certo ponto e se enganam sobre o resto. (CUNHA. 2003)

Penso humildemente que se o homem é um animal político, não importa se um artesão, um militar, ou um filósofo, todos somos e temos o direito de politizar, diria mais, a obrigação, eis que todos esses elementos estão envolvidos numa busca, seja essa busca contemplativa ou ativa, consciente ou não: a felicidade, que é, na ótica de Cunha “tanto nos particulares como nas sociedades políticas, fruto de uma ação ponderada, previamente refletida. De uma ação fruto da virtude, e de uma virtude pensada.” (CUNHA. 2003). (Grifos meus). E isso na contemporaneidade não se alcança meramente fazendo uso do voto.
Façamos um jogo de palavras para fechar esse trecho.
Se a felicidade é a expressão do bem e o bem é a finalidade de todas as coisas, então a felicidade é o fim de todas as coisas. Bem, se a razão é o caminho para o bem (felicidade), logo a razão é o caminho para a felicidade e todas as coisas. E, o homem tem como função dele mesmo o caminho para o fim de todas as coisas. Se a felicidade, ou seja, o fim de todas as coisas tem sua excelência no intelecto e o homem é o intelecto, logo podemos concluir que a felicidade está no homem!




















CAPÍTULO 2

A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO E MORAL NA MODERNIDADE

“Dependendo das respostas que obtivermos, em cada sistema filosófico, há um mundo possível a ser vivido.” Assim dizem os Professores Sardi e Müller em seu artigo “Questões que afetam nossa vida” (SARDI; MÜLLER. 2009, p. 01). Hoje, com a quantidade de material que temos acesso dos grandes pensadores da antiguidade e da contemporaneidade, fica complexa a elaboração de uma opinião formada sem cairmos na tentação de defender este ou aquele. “Nas questões filosóficas é a existência que se põe em decisão. Por isso é preciso refletir sobre as nossas potências, sobre os nossos limites, sobre o próprio ato de conhecer.” (SARDI; MÜLLER. 2009, p. 01). Nietzsche parece querer nos preencher com isso, com o próprio ato de conhecer. Sem o conhecimento não há possibilidade de sequer iniciar-se um questionamento. E o conhecimento só é intelectível através da razão e o questionamento seria a busca pela verdade, caminho que o próprio Nietzsche nunca abandonou e que os Filósofos atentos também trilham.
Entretanto, para Nietzsche o intelecto era fugidio, transitório e com um horizonte muito limitado, ele nada mais era do que um elemento fingidor que oculta, ilude, dissimula, forja, tudo com o fito de esconder um fundo trágico e assim, enganando o indivíduo intelectualóide, continua vivendo. Para Nietzsche o homem de verdade deveria escapar do rebanho social que enquadra e molda a forma de viver. A forma é a fôrma que nos molda. Mas escapar dessa conduta bitolada é um risco, um perigo, tal como uma rês que escapa ao abate: causa problemas! Dizer a verdade (mesmo que autônoma) é algo subjetivo e tergiversado, a verdade do indivíduo passa pelo seu intelecto, por sob sua ótica pessoal e assim, ao ser exprimida, nada mais é do que uma alteração do real, por tal, como a rês que escapa, causa tumulto.
A verdade que se busca dizer hoje em dia – e quiçá também em outrora – e que enche os consultórios de psicanalistas e psicólogos, é sempre dita através da palavra ou da escrita – experiência de outrem - e nesse momento tudo o que o pretenso auxiliar da mente alheia pretende, ingenuamente sob o pálio de ajudar, é fazer com que o “paciente” compreenda a si mesmo através da sua própria visão de médico, do próprio entendimento pessoal do profissional da área “patológica” e não encontrar a vivência pessoal, individual e íntima; assim como Nietzsche preconiza: “[...] o homem mais arrogante, o Filósofo, imagina ter também os olhos do universo focalizados, como um telescópio, sobre suas obras e seus pensamentos.” (NIETZSCHE. 1975, p. 17). (Grifos meus).
O que o ser humano quer nada mais é do que uma “razão” para defender sua “moral” e assim vive de dia como de noite, se enganando através de sonhos sem que o seu sentido moral jamais tente impedi-lo pois é covarde ou medroso, sempre ditado pela forma interna que leva a desculpa chamada “consciência” ética ou moral. Tudo para continuar a ser o animal-político, ou a rês da vez. Assim, ele se pergunta: “[...] haveria no mundo um lugar de onde pudesse surgir o instinto da verdade?” E a resposta pode ser sim! Na transvaloração, no pensamento abismal, na ideia de eterno retorno, ou melhor ainda, o que culmina em Nietzsche ainda em uma ética, eis que o eterno retorno é um pensar ativo, um desejo, uma vontade, uma leveza, um prazer de se viver intensamente cada instante, sentindo acontecer um traço característico do que se é (NOBRE, 2006, p. 191).
Kant defendia a moral de forma tal que o homem precisaria dela para aprender a ser um homem e atribuía a não ausência de liberdade, mas sim uma responsabilidade por ela, mas sempre vinculado a um agir precedente de uma lei moral. Kant vai mais longe quando afirma que “se pode fazer a razão objetivamente prática também subjetivamente prática.” (OLIVEIRA. 2006, p. 70). À época de Kant, para ele, a ética se dividia em ética pura e a antropologia prática ou moral, ou seja, o direito e a educação como forma de moldar o caráter da pessoa. Como já dito, a forma é a fôrma que nos molda, molda na forma que é preconcebida pelos conceitos morais e cívicos, pela educação construída para enganar e calar a boca dos “olhos que tudo vêem”, a moral. Mas quem, pergunto-me, na ordem do dia, teria o condão de saber o que é moral e ético nos dias de hoje? Na América do Norte, na China, no Vietnã, na Alemanha, no Paraguai, no Brasil, na “minha” cidade, na “minha” casa? Talvez o poder, o poder financeiro. Quem ganha para o sustento teria o poder de ditar as normas e quem se submete a esse jugo, seja por conformismo, conforto ou medo, obedece. Onde estaria a liberdade, então? Na subjetividade. Os escravos quando libertos encontraram-se em situações horríveis, pois da noite para o dia, eram livres do jugo da cangalha e do chicote e ao mesmo tempo de um teto para se proteger das intempéries e do alimento para saciar a fome... Pontos de vista. Quem teria “razão”?
A vivência, a experiência são aspectos que flutuam tanto em Nietzsche quanto em Kant e em diversos outros pensadores equilibrados. Sem ela não há experimento, não há necessidade do intuir, calcular, normatizar.
Penso que Nietzsche não era um crítico de Kant, mesmo porque este também nunca negou o estudo empírico do homem na sua ética. Kant condenava outros moralistas que ignoravam a natureza humana: “[...] as pregações nos púlpitos são vazias em seu conteúdo, se o pregador não observa simultaneamente a humanidade.” (OLIVEIRA. 2006. p. 72). Nietzsche parecia demonstrar seu descontentamento com a “forma” como se defendia a moral como estandarte de uma polis politizada, civilizada, ordenada, presa, bitolada.
É importante frisar que existe uma espécie de cabo-de-guerra no interior do ser humano que não aceita e não quer expor sua “imoralidade”, talvez pelo receio de adorá-la, de gozar profundamente em seu secreto de instintos “animalescos” tidos como imorais. Instintos estes que ele tão forçosamente busca esconder como um pecado dos demais e de si próprio, com temor de que os conceitos morais construídos o excluam da sociedade, a exemplo de um Don Juan, de um Marquês de Sade, de uma Lucrécia Bórgia. O que separava Nietzsche de Kant não era a ideia de dever, mas sim a reinterpretação em um conteúdo anti-humanista e antiuniversalista. Onde Kant condenava o espírito e sua vontade ao universo genérico do humano como base de sua liberdade e pessoalidade, Nietzsche afirmava que o si próprio era um ato explicitamente egoísta em que não se busca o universal humano mas sim o particular cósmico (NOBRE. 2006. p.190).
Por tal, como vivermos numa modernidade onde tudo seria permitido? Em que mundo poder-se-ia viver assim? Existem pesquisas ufológicas – e aqui quero entrar num campo com grandes parênteses – que dizem existir raças espaciais que desconhecem os sentimentos e por tal agem sem remorsos, sem o fator “consciência”. Se assim o é, seria possível vivermos assim no singelo Planeta Terra? Devemos buscar o universal humano ou o particular cósmico? Não seria melhor àqueles ditos seres conscientes, repletos de phatos, que buscassem o “particular” para só então nos solidarizarmos com o “humano”?
Um cachorro ataca um gato e aquele chacoalha este até sua vida extinguir-se; então larga os restos para trás e, com sua cauda balançando parece demonstrar alegria em ter cumprido sua missão instintiva enquanto se afasta. Nós somos ditados pela supressão, pelo enquadramento moral e ético, desse mesmo impulso instintivo e damos a isso no nome de consciência...
A grande “sacada” de Nietzsche é a experimentação de uma nova “necessidade”, ligada à superação da moralidade escrava: a necessidade da liberação para criar, e talvez assim ser taxado de imoralista. Como meio de conservar o indivíduo na sociedade, o intelecto, a razão age só que se vale da dissimulação que gera a ilusão. À nossa volta, a natureza não dissimula nenhuma das coisas, o homem debilmente se entrega apegado aos prazerosos sonhos atrativos de um “segredo” qualquer.
É preciso regras as quais funcionem e que sejam conscientemente seguidas para se viver, em especial na polis. Caso contrário, o caos humano se instala e tudo vira anarquia. Mesmo um ermitão na fuga solitária de sua caverna distante e oculta precisa de uma rotina a seguir, um método para viver bem, ele sabe onde e quando colher, pescar e caçar; sabe onde defecar e certamente não o fará no interior de seu reduto, eis que sequer um animal o faria.
A própria Terra gira, metodicamente, numa sincronia espacial e numa órbita que chamamos de “sistema” solar. Se um dia ela inventasse de deixar seu compromisso galáctico e parar de girar, simplesmente pelo fato anárquico de fazê-lo, será que gostaríamos? O problema não está na moral ou na ética imposta pela política moderna mas sim na sua forma corrompida e contaminada. “Afirmar incondicionalmente a vida, com toda a maldade, incertezas, experimentações e perigos que lhe são inerentes, é a condição niestzschiana para a criação de novos valores. E o grande valor é a criação de si mesmo.” (NOBRE. 2006. p. 196.)






















CONCLUSÃO

Tanto Nietzsche quanto Aristóteles viveram o que postularam sob seus aspectos até mesmo radicais. Aristóteles terminou por romper com Platão e Nietzsche praticamente com seus amigos todos. Mas ambos fizeram história ao trazerem à lume suas opiniões revolucionárias sobre ética, moral, política, razão e felicidade.
Aristóteles verificou a necessidade de o homem ser feliz através de normas e éticas morais que adviriam de pessoas conscientes as quais conduziriam os demais através de uma política correta. Nietzsche também busca o homem perfeito, mas através de uma nova ordem de questionamentos que quer erradicar do indivíduo o conformismo com as rédeas de um poder contaminado.
Na visão do Filósofo estagirita, na sua ética ou na sua política um bem deveria contribuir para um fim profundamente humano: a felicidade, esse deveria ser o primeiro pensamento dos legisladores. Contudo, parafraseando o Professor Cunha, mesmo na nossa sociedade moderna encontramos pessoas de perfis psicológicos que são adeptas da auto-escravidão por natureza, mesmo estando livres.
Aristóteles, no final do Livro X de Ética a Nicômaco, esclarece que as constituições devem ser elaboradas pelos pensadores atuais de forma que se examinadas observem-se as espécies de influências que elas exercem, ou seja, quais preservam o Estado e quais as destroem, por que algumas são bem aplicadas e outras não. Com isso em vista, ter-se-á uma perspectiva de quais leis (através dos costumes locais) convém utilizar a fim de ser a melhor possível.
Nietzsche participava da opinião de que cada um deveria inventar para si a sua virtude e o seu imperativo categórico, o que não foge muito da que postulava Aristóteles acima destacado, qual seja, uma lei deve ser apoiada na ética e na moral de seu povo. Na modernidade já há não muito espaço para a criação. O que vale é a “lei” da cópia. Se funcionar em um lugar, deve ser universal. Mas não é bem assim. As cópias de leis devem ser analisadas, pesquisadas consoante os costumes do local onde serão aplicados. Temos em nosso um país um exemplo destoante desse tipo de cópia mal elaborada. O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma tentativa moral e ética de se ordenar a vida dos jovens através de estatutos vindos de outro país e que não se adequaram perfeitamente à nossa nação onde, até hoje, opiniões divergem quanto ao fato de uma criança na faixa de seus 12 a 17 anos não ter nenhuma atividade que lhe oriente na vida, excetuando os estudos convencionais.
O ser humano usava seu intelecto a seu próprio favor, para seu bem; agora ele é escravo do intelecto que faz o que quer e engana o indivíduo para sobreviver, como um elemento denso agregado em seu espírito. Kant dizia “se a razão não quer se submeter à lei que ela se dá a si própria, tem de se curvar ao jugo das leis que um outro lhe dá”. (EUZÉBIO. 2007. p. 65).
Verifica-se que na modernidade o ser humano passou a ter suas percepções das coisas e da natureza restritas aos “retângulos”. Tudo lhe advém através de um livro, de uma revista, jornal, TV, monitor de um computador, ou seja, através da ótica experimentada, copiada, plagiada de uma pessoa para outra, sem o gosto do viver aquela informação cultural. Nietzsche era categórico a esse respeito. Inclusive no que se diz à observação do verdadeiro, da busca pela verdade. Essa não pode ser transmitida ao outro, sequer sermos um orientador para o curso da mesma, pois assim estaremos induzindo o próximo sob o meu ponto de vista já digerido e mastigado internamente. Contam as histórias bíblicas que quando Pilatos indagou a Jesus sobre a verdade este se calou; quando os discípulos indagaram a Buda sobre a verdade este deu as costas aos mesmos, aí está! Mesmo este insignificante texto pode querer demonstrar sabedoria e conhecimento, mas olho todo o material que pesquisei, o que li, os insights que tive ao me aprofundar em suas leituras, e todas minhas notas ao pé dos mesmos e percebo que não consegui transmitir tudo o que senti e vivi e acabo ficando com uma espécie de nó em minha garganta, uma vontade de dizer, de escrever mais, de tentar explicar a verdade que percebi, que captei. Mas assim estaria sendo um egoísta... E me pergunto: isso seria uma covardia ou um ato sábio de revolução? E mais, tudo isso é uma porção enganosa ou autêntica, levando em conta que o que “vivi” não passa de experimentos de outros?...
Acredito que todos busquemos a felicidade e a verdade. Qual seria então a moral, a ética, a questão religiosa que nos conduziria para uma mentira quando a verdade pode nos conduzir a resultados destrutivos ou perniciosos? Meu pai, no alto de seus 81 anos de idade, sempre me orienta: “Existem mil formas de se dizer uma coisa.” Estaria ele próprio me passando uma sabedoria da mentira, da manipulação das palavras, um falso amor? Ou deveríamos voltar a viver na “matrix” eis que Sião não promete a felicidade que se espera?
O Professor Nobre apresenta uma proposição: “A crença na origem não pode ser recuperada depois que se experimentou o desencanto com as tentativas de se conferir um sentido para a vida.” (NOBRE. 2006. p. 194).
Kant deposita sua fé na educação ao passo que Nietzsche busca uma liberdade louca como um “andarilho que sabe que, para avaliar sem preconceito os preconceitos morais, é necessário ‘abandonar a cidade’ e ‘ir para fora’ e ir ‘para cima.’” (NOBRE. 2006. p. 199).
Precisamos da inteligência nos tempos que vivemos, esta é a razão, pois se tudo é permitido dentro da busca pela verdade, pela liberdade e pela felicidade, implica uma razão lógica que nos conduza individualmente dentro do sistema conceitual em que vivemos que nos possibilite a possibilidade de visões e experiências outras.
Professor Nobre cita Fernando Pessoa em uma passagem poética de cunho auto-explicativo e com ela concluo este texto: “Todo mal do mundo advém de nos incomodarmos uns com os outros.”



























REFERÊNCIAS

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