- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.

sábado, 30 de outubro de 2010

O PROBLEMA DO MAL NO MUNDO SEGUNDO O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO; LIVRE-ARBÍTRIO, GRAÇA E VONTADE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

FILOSOFIA - LICENCIATURA


RICARDO LUÍS DO PRADO
RODRIGO FONTOURA MASSI
VANDERLEI DOS SANTOS AMORIM
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS


PATRÍSTICA: O PROBLEMA DO MAL NO MUNDO SEGUNDO O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO; LIVRE-ARBÍTRIO, GRAÇA E VONTADE.


SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP
2010


RICARDO LUÍS DO PRADO – 163325
RODRIGO FONTOURA MASSI – 161094
VANDERLEI DOS SANTOS AMORIM – 161080
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS - 161062
PÓLO: LONDRINA - PR


PATRÍSTICA: O PROBLEMA DO MAL NO MUNDO SEGUNDO O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO; LIVRE-ARBÍTRIO, GRAÇA E VONTADE.


Este trabalho de cunho filosófico tem como objetivo abordar o tema referente desta disciplina; visando a devida análise de correção ao tutor do curso de Filosofia da Universidade Metodista de são Paulo.

Docente: Luís Fernando Weffort
Tutor: Hermiton de Oliveira Freitas



SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP
2010

Índice Sistemático




Introdução:...................................................................................................................... 3

1. Filosofia cristã:............................................................................................................. 5

1.2. O Problema do mal no mundo na filosofia Teológica de Santo Agostinho:........................................................................................................................ 5

Conclusão:....................................................................................................................... 9

Referências:................................................................................................................... 10


Introdução


Podemos dizer que, em Santo Agostinho a patrística alcança o seu ponto mais alto em se tratando de filosofia cristã. Santo Agostinho consegue chegar com as suas elaborações filosófico-cristãs, aonde o pensamento Patrístico do antes e do depois dele, não tinha conseguido chegar até então. Neste trabalho, apresentaremos de forma breve, o que este autor, tão estudado na história da filosofia e da teologia mundial, nos apresenta sobre as inquietações a respeito do mal no mundo. Quem nunca se perguntou: O porquê do sofrimento humano, se Deus é a própria essência da bondade? Veremos como Santo Agostinho elabora em sua obra: Confissões, uma filosofia que tem sua influência em Plotino, e que engendrou um pensamento que nos deu um modo novo de olhar a criação como sendo aparentemente, digo, quando olhamos de forma superficial a criação, - não percebemos que tudo concorre para a harmonia e tudo tem uma razão de ser. Como poderemos observar neste trabalho, em Santo Agostinho encontramos três formas de examinar o mal no mundo; a primeira seria o mal metafísico-ontológico; depois temos o mal moral; e por último o mal físico.

Santo Agostinho acrescenta ainda que, existem graus inferiores de ser no mundo em comparação ao Ser Supremo que é o próprio Deus. E o homem, com o seu livre-arbítrio, muitas vezes escolhe pela má vontade as coisas inferiores do que as superiores, voltando-se assim, para a criatura ao invés do criador. Para Santo Agostinho, o mal não é entendido como um ser substancial, como entende o pensamento maniqueísta ao qual ele pertencia antes de sua conversão; pois se o mal fosse uma substância, ele se igualaria a Deus, porque, substância é entendida por Santo Agostinho e sua tradição filosófica anterior a ele, como sendo a plenitude das coisas criadas. Isso remete Santo Agostinho a dizer que, é incabível e impensável o mal ser originado do Bem, pois se fosse assim, o bem não seria bem, mas seria mal. O pecado original que enfraqueceu o conceito de verdade no mundo, fez com que Deus oferecesse a graça santificante para que o homem arrependido de suas faltas e debilitado pela culpa original, pudesse alcançar o perdão. Veremos que o ser humano não pode andar só, mas a graça divina é necessária para que o homem possa tomar suas decisões em fazer o bem. Pois quando o homem quer fazer o bem com suas próprias forças, dependendo somente de si mesmo, ele é vencido pelo pecado e fracassa em seu engendro.


1. Filosofia Cristã

1.2. O Problema do mal no mundo na filosofia teológica de Santo Agostinho



Quem nunca se perguntou: porque há o mal no mundo? E esta questão nos remete a uma outra correlativa à anterior; se Deus criou o mundo, como afirma os cristãos e religiosos, e se este Deus é o Bem Supremo, pois a sua criação não deveria ser desprovida de sofrimentos? Em meados do século IV d.C., houve um filósofo que se debruçou sobre esta questão, e não somente esta, mas de outras pertinentes a essa, questões que acompanharam toda a trajetória da trama da existência humana; estamos falando de: Aurélio Agostinho, mais conhecido como: Santo Agostinho de Hipona, que foi o expoente mais estudado e influente e influenciado da Era Patrística. Apesar de Santo Agostinho não ser o único a tratar deste tema tão feroz que rasga o coração humano durante séculos de história, somente iremos nos prender ao que este homem tem para nos dizer sobre esse assunto tão importante e obscuro de nossas vidas.

Para início de diálogo, em Santo Agostinho, o problema do mal está totalmente ligado ao problema da criação, e como a entendemos. Vamos entender melhor o que Santo Agostinho quer dizer com isso, partindo do princípio de que se toda a criação, ou melhor, dizendo, se tudo o que existe na criação (as coisas criadas) provém de um Deus que é o Bem Supremo, de onde vem o mal que encontramos no mundo que é obra de Suas mãos? Para resolver essa questão, Santo Agostinho encontrou em Plotino a argumentação necessária para sanar essa dúvida inquietante e latente do coração do homem. Segundo Santo Agostinho, “o mal não é um ser, mas deficiência e privação de ser”. (REALE/ANTISERE; p. 455, 2007). O que o nosso filósofo quis dizer com essa afirmação? Vejamos então, o mal para Santo Agostinho não é entendido como uma “substância”, assim como é ensinado no pensamento maniqueísta - ao qual Santo Agostinho pertencia antes de se converter ao cristianismo - não, mas, uma transgressão à Substância Suprema (Deus). Isso porque, se o mal fosse uma substância, então o mal seria pleno e perfeito, porque é assim que o conceito de Substância era entendido no mundo grego; lembremos do conceito de substância em Platão: é plena, imutável e originador. Devido a este conceito de substância, se o mal fosse substancial, o mal teria os mesmos adjetivos que possui Deus que é a Substância Suprema ou o Bem Supremo. Então o mal não seria mal, mas, ao contrário, seria um bem. E é incabível no pensamento de um filósofo, principalmente da época anterior à época contemporânea de Santo Agostinho, conceber que do bem possa originar o mal, pois se assim fosse, o bem não seria bem e nem Deus seria Deus, porque não seria pleno e perfeito.

Ainda tratando do problema do mal, Santo Agostinho prossegue dizendo que, o mal deve ser examinado na criação em três níveis; a) metafísico-ontológico; b) moral; c) físico. O primeiro seria que: não existe o mal no cosmos, mas o que existe de fato são graus inferiores de ser em relação ao Ser Supremo. O que existe é o ser Supremo in-criado e infinito, e existe ser criado e dependente, e por isso, finito. Este modo de ser inferior depende de sua finitude e dos níveis diferentes dessa finitude. A condição finita pode ser considerada aqui como um defeito na criação, então um mal. Mas somente temos esta noção de mal em relação à finitude, se olharmos as coisas de forma superficial ou individualmente, pois se olharmos com uma ótica universal e em conjunto tais seres inferiores, eles deixam de ser finitos e inferiores, isso ocorre porque ao olharmos as coisas em conjunto, então se revela momentos de um grande conjunto harmonioso. Por mais que pareça, segundo Santo Agostinho, um defeito (mal) na criação, o fato de existir animais nocivos que podem levar um homem a óbito, isso não significa que seja um mal de fato, pois se olharmos em conjunto essa realidade, veremos que cada animal possui uma função específica e necessária na criação. “Medida com o metro do todo, cada coisa, mesmo aquela aparentemente mais insignificante, tem o seu sentido e a sua razão de ser e, portanto constituí algo positivo”. (REALE/ANTISERE; p. 455, 2007).

Em se tratando do segundo modo de observação, o mal moral, seria o pecado. E o pecado depende da má vontade do sujeito para ser praticado. Mas a má vontade, segundo Santo Agostinho, depende daquilo que ele chama de: causa deficiente. “A má vontade não tem uma causa eficiente, mas, muito mais, uma causa deficiente”. (REALE/ANTISERE; p. 455, 2007). A vontade humana em sua natureza, Santo Agostinho a entende que sempre deveria tender ao Bem Supremo, isto é, deveria ser vontade de fazer e se inclinar sempre a Deus (Bem). Mas como já vimos que existem na criação as formas de ser finitas e inferiores, a nossa vontade velada pela nossa liberdade pode tender aos bens criados e finitos ao Ser infinito e Supremo. Com esta atitude o sujeito escolhe a criatura ao criador. Então o pecado é realização da má vontade inclinada as formas de ser inferiores, que essas, por sua vez, são necessárias na criação. Para Santo Agostinho, escolher os bens inferiores ao Bem Supremo é realizar uma escolha incoerente entre esses bens. “Com efeito, afastar-se daquilo que é o bem Supremo para aproximar-se daquilo que possui o ser em grau inferior significa começar a ter má vontade”. (REALE/ANTISERE; pp. 456-457, 2007). Mesmo que um indivíduo tenha recebido de Deus uma vontade livre, isto é, um enorme bem, então o mal seria o mau uso deste bem. “O Bem em mim é obra tua, é dom; o mal em mim é o meu pecado”. (REALE/ANTISERE; p. 456, 2007).

Por fim, o terceiro nível se refere ao mal físico. Assim como as doenças; os tormentos da alma, os sofrimentos e até mesmo a morte, são entendidos por Santo Agostinho como consequência do pecado original que por sua vez, é consequência do mal moral que já mencionamos acima. O pecado original, diz Santo Agostinho, foi o pecado da soberba, que protagonizou e iniciou o primeiro desvio da vontade Suprema.

Os dois primeiros homens devem ter começado a ser maus interiormente, antes de caírem na rebelião aberta, pois não se pode chegar a cometer uma obra má se não houver antes a má vontade. (REALE/ANTISERE; p. 457, 2007).

A verdadeira liberdade para Santo Agostinho consiste em que, a liberdade deve sempre aderir ao bem Supremo, e, todavia, se trata de liberdade sempre livre. Portanto quando o espírito abandona o princípio ao qual deve sempre aderir, acreditando, tal o homem, ser principio de si mesmo, se torna auto-suficiente (soberba). Tendemos pela má vontade, voltar-se o espírito a nós mesmos do que ao bem supremo.

Mas devido o surgimento do pecado original, a verdade se enfraqueceu, e por causa disso, torna-se necessária a graça divina. Esta graça se torna necessária para toda e qualquer ação reta visando o bem. Mas quando o ser humano pensa poder viver de maneira “reta” por suas próprias forças, ou seja, sem o auxilio da graça divina que é libertadora, tal homem fracassa e é vencido pelo pecado. Portanto, todo ser humano tem “a capacidade de crer com o seu exercício de livre vontade e no seu libertador, acolhendo a graça”. (REALE/ANTISERE; p. 457, 2007). Fazer o bem é dom de Deus por sua graça e o homem acolhe pelo livre – arbítrio.

Conclusão


Em suma, podemos concluir que Santo Agostinho, entende o mal como “uma ausência do bem no mundo”. Quando tomamos decisões pela má vontade, inclinando o nosso coração as coisas finitas, desviamo-nos do Bem Supremo, e as consequências de tais atos, não alcançam as realizações em plenitude e excelênciariedade. Realizações estas, que, só encontramos em Deus. O mal é pura privação do bem, assim como as trevas é pura ausência da luz. De forma semelhante o mal aparece onde o bem é deixado de lado. Vimos também que o homem não pode viver só em si mesmo, se arrogando ser o suficiente para as suas realizações. Pois sem a graça divina, tudo o que ele faz, fracassa; porque acaba sendo vencido pelo pecado das más inclinações às coisas finitas que são modos de ser inferiores ao Ser Supremo que é o próprio Deus.

(...) este pecado não é apenas o primeiro pecado cometido nas origens, quando Adão e Eva viviam no paraíso. Ele é original no sentido de que designa o estado de pecado que marca a natureza humana em consequência de sua origem, ou seja, de um membro de um gênero de seres (o gênero humano) cuja origem encontra-se no pecado cometido pelo ancestral, pois o pecado do primeiro homem e da primeira mulher foi o pecado dos pais e poluiu para sempre toda a descendência humana. (CHAUÍ; pp. 260-261, 2009).

Deus, em Santo Agostinho, é princípio sem princípio, criador das coisas visíveis e invisíveis. O Bem, a realização de todos os homens, seus filhos. É o caminho seguro para alcançar a felicidade plena. Deus que enviou seu Filho único para que todos possam, através dele, entrar em comunhão profunda com o Criador e partilhar da felicidade que Deus tem para cada pessoa. Cristo é a graça em pessoa do Pai. A graça tão necessária para que o homem possa realizar suas atividades no mundo com êxito. Graça, quer dizer; inclinação de Deus para com os seus amados é um dedicar-se cuidadosamente aos que lhe buscam e contam com o auxilio Dele. O Amor amou primeiro. Antes da criação, Ele já existia, e também já sabia da queda do homem pelo pecado, devido ao mau uso de seu livre-arbítrio, mas, todavia, Deus de antemão, tinha um projeto de salvação ao qual seu Filho fazia parte e era o ápice deste projeto salvífico.

REFERÊNCIAS

CHAUÍ, Marilena; Convite à filosofia; Ed. Ática, 13ª edição São Paulo – SP – 2009.

REALE, Giovanni e ANTISERE, Dario: História da filosofia; volumes: I, II e III, Editora Paulus, São Paulo – 2007.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

ABBUD, Luiz Nelson: Filosofar é perguntar; Editora Rosograf, Londrina PR, 2ª edição – 2008.

AGOSTINHO; Confissões. São Paulo: Abril Cultural; 1980 (Os Pensadores).

Dicionário de filosofia de Cambridge; Editora Paulus, SP – 2006.

Guia de Estudos: Metafísica, epistemologia e linguagem; Universidade Metodista, São Bernardo do Campo SP, 2ª edição – 2010.

LENZENWEGER; Josef/ STOCKMEIER; Peter/ BAUER; Johannes B./ AMON; Karl e ZINHOBLER; Rudolf: História da Igreja Católica, Ed. Loyola – 1995.

PECORARO, Rossano (org.); Os filósofos clássicos da filosofia; Volumes I e II, Ed. Vozes Petrópolis e PUC Rio – 2008.

PIERRARD; Pierre; História da Igreja, Ed. Paulus, 5ª edição – 2008.

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