- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.

domingo, 15 de agosto de 2010

RELIGIÃO E FILOSOFIA MEDIEVAL

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD – LONDRINA-PR
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura



AGUSTAVO CAETANO DOS REIS




FILOSOFIA
RELIGIÃO E FILOSOFIA MEDIEVAL





SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2010
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS - Nº 161062






FILOSOFIA
RELIGIÃO E FILOSOFIA MEDIEVAL








Trabalho apresentado ao módulo Religião e Filosofia Medieval à atividade de Avaliação Modular. Em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Polo Londrina.

Professor: Wesley Fajardo Pereira



SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2010
SUMÁRIO


1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................03

2 – APRESENTAÇÃO........................................................................................06

3 – CONCLUSÃO...............................................................................................08

4 - REFERÊNCIAS.............................................................................................10




INTRODUÇÃO

A presente avaliação modular tem como proposta de trabalho explicar o que é a crítica de Martin Heidegger à onto-teo-logia e como ela atinge a Filosofia Medieval e seus conceitos principais.
Para tanto importa que façamos um breve intróito para que se possa compreender melhor o tema que irá ser abordado, a começar pela Metafísica e seus primórdios, sua passagem conturbada pela Idade Média e o neo cristianismo, e sua chegada até os tempos atuais onde existe a necessidade premente de se distinguir Metafísica de Ontologia e ainda Teologia.
Em assim sendo, importa saber, assim como destaca Marilena Chauí, que atualmente a Metafísica também é conhecida por Ontologia e ela procura superar tanto a “antiga” Metafísica que buscava o conhecimento da realidade em si, independente de nós, bem como quer superar também a concepção construída por Kant, que via a Metafísica como conhecimento da realidade como aquilo que é para nós, apresentado pela razão.
Chauí ainda destaca as principais características da ontologia, como o estudo que investiga os diferentes modos como os entes ou os seres existem; investiga a essência ou o sentido e a estrutura desses entes ou seres; investiga ainda a relação necessária entre a existência e a essência dos entes. (CHAUÍ, p. 208. 1999).
Lembremos que a palavra Metafísica, ainda segundo Chauí, foi empregada pela primeira vez por Andrônico de Rodes, por volta do ano 50 a.C., após classificar as obras de Aristóteles, e assim, Metafísica era considerada a Filosofia Primeira, cujo estudo era o “Ser enquanto Ser” – importante esse fundamento, pois com o passar do tempo ele é esquecido, e a Filosofia sofre com isso, necessitando de pensadores do quilate de Martin Heidegger para resgatá-lo novamente de forma revolucionária como veremos.
Ontologia passa a ser então o estudo ou conhecimento do Ser, dos entes, ou ainda das coisas, tidas como são em si próprias, reais e verdadeiras. E Metafísica seria aquilo que é condição fundamental de tudo o que existe e de tudo o que puder ser conhecido.
Voltemos um pouco para a Metafísica de Aristóteles.
Chauí destaca que a Metafísica mesmo havia começado com Parmênides e com Platão, mas foi com Aristóteles que tomou forma distinta.
Para o discípulo de Platão, o mundo não era ilusório e sim real, cuja essência é a multiplicidade dos seres e a mudança sem-cessar. Ele considera ainda que a essência verdadeira do mundo natural e dos entes não estaria localizada no mundo inteligível, mas no sensível. Assim, ele afirmava que a Filosofia Primeira (Metafísica) estuda os primeiros princípios e as causas primeiras de todas as coisas e ainda investiga o Ser enquanto Ser.
Assim avança o tempo e inicia-se a Idade Média e com ela o neo cristianismo, neo, pois era nada mais que uma entre as várias religiões orientais, encontrando raízes na religião judaica . Seu foco principal era a distribuição de seu conhecimento Crístico e a conversão dos pagãos, buscando tornar-se uma religião universal.
Em princípio o cristianismo não precisava de uma filosofia, pois buscava a salvação, seu interesse estava na prática e não na teoria. Mas como converter e convencer os intelectuais gregos e os chefes e imperadores romanos, uma elite intelectual, forjada na filosofia? Através da Metafísica.
Encontramos conceitos tradicionais incrustados na Metafísica cristã, vindos do neoplatonismo, do estoicismo e do gnosticismo. As primeiras elaborações cristãs não conseguiram fugir dessas tradições e então manipularam as mesmas em seu favor.
Marilena Chauí demonstra graficamente que do neoplatonismo o cristianismo trouxe o conteúdo espiritualista e místico, onde três mundos (o mundo sensível – matéria ou corpos); o mundo inteligível das puras formas imateriais e acima desses uma realidade suprema inalcançável pelo intelecto de esplendor imaterial.
Do estoicismo absorveu a existência de uma razão universal que produz e governa toda a realidade, via Providência, que seria leis que regem a Natureza.
Do mais criticado de todos, o gnosticismo, aproveitou dois princípios supremos de onde vinha toda realidade: o Bem e o Mal! Através do conhecimento se alcança a verdade plena e total do Bem.
Para começar estava de bom tamanho adaptar os três apenas. Mas percebeu que era o bastante, precisava mais e por isso aprofundou conhecimentos sobre as obras de Platão e Aristóteles, reorganizando a Metafísica grega consoante as necessidades da religião cristã.
É aí que o cristianismo inventa a divisão da Metafísica em três tipos de conhecimento:
A Teologia: que se referia ao Ser como ser divino ou deus. A Psicologia Racional: que se referia ao Ser como essência da alma humana e a Cosmologia Racional, que, por sua vez, se referia ao Ser como essência das coisas naturais ou do mundo. Na Idade Média, começou-se a fragmentar um conhecimento de forma tal que não mais se conhecesse sua própria origem...
Chegamos a David Hume com a Metafísica Clássica ou Moderna onde o intelecto humano podia conhecer o Ser. Depois chega Immanuel Kant e para a Metafísica passa a ser possível o objeto da investigação dos conceitos usados pelas ciências, de todo conhecimento e experiência humana possível. Ou seja, não mais o Ser enquanto Ser – a morte finalmente da essência da Metafísica –, mas a condição universal e necessária da objetividade em geral, é o conhecimento do conhecimento humano.
Em Edmund Husserl a Ontologia passa por nova transformação, surge a Fenomenologia que separa a Psicologia da Filosofia; mantém a consciência reflexiva diante dos objetos e amplia o conceito de fenômeno. Husserl descreve todos os fenômenos ou essências, materiais, naturais, ideiais, culturais. Ainda caminhando pelo sepultamento definitivo da Metafísica na sua base primordial, ele propõe mais, que a Metafísica, o Ser enquanto Ser e as substâncias cedessem lugar a estudos diferenciados com essências próprias e irredutíveis, conhecidas por Ontologias Regionais.
Bem, com essa pá de cal em cima da Metafísica, encerramos esta introdução para enveredar pelo caminho absolutamente revolucionário e admirável que Martin Heidegger propõe para reabilitar o patamar da Metafísica.



APRESENTAÇÃO

Martin Heidegger, (1889-1976) filósofo alemão, se dedica a pesquisar se efetivamente há ou não uma separação ou ainda uma junção entre metafísica, ontologia e teologia dentro da ramificação que a Filosofia vinha sofrivelmente apresentando. Heidegger, um dos renomes do pensamento filosófico do século XX, passou por um conflito de posição. Ora defendeu a fundição entre Teologia e Ontologia como áreas que se dedicam a estudar o ente e deus numa mesma sintonia ambígua, tal como na Idade Antiga já propunha Aristóteles, ora mudou de postura ao passar a defender que essa proximidade não era tamanha a ponto de se misturarem. Uma atitude digna de ser vista com honra, não pela defesa, mas pela coragem de mudar.
Heidegger vem para distinguir Ôntico de Ontológico. Onde Ôntico seria a estrutura de um ente, o que ele é em si mesmo e Ontológico o estudo filosófico dos entes. Ele se esforça para liberar a Ontologia do velho problema deixado pela Metafísica: o dilema do realismo e do idealismo.
No realismo, para termos uma breve ideia de seu trabalho, se eliminar o sujeito ou a consciência restam as coisas, a verdade, o Ser em si. Já no idealismo o cenário se inverte, se eliminarmos as coisas, resta a consciência que põe a realidade. Heidegger, afirma bravamente que ambas estão erradas!
E justifica: se eliminar a consciência nada sobra, pois as coisas existem em nós. Se eliminarmos as coisas, também nada resta, eis que não podemos viver sem o mundo... (CHAUÍ, p. 306-7, 1999).
Na nova Ontologia estamos no mundo e o mundo é mais antigo que o ente, mas o ente é capaz de dar sentido a esse mundo antigo, conhecê-lo e até transformá-lo. Não somos pensamento puro, pois somos um corpo. Somos seres temporais. Transitórios.
Heidegger considera transcendental "toda a manifestação do ser no seu ser transcendente" entende que é um caráter que só pertence ao conhecimento na medida em que revela o mundo. Heidegger critica o conceito do eu como "sujeito isolado". "O conhecer, é um modo de ser do estar no mundo.", afirma Heidegger.
Heidegger surge depois com sua onto-teo-logia. Que seria um neologismo – do qual é fã – onde se construiria um estudo ontológico da teologia. Surgem dúvidas: Como deus e o pensamento lógico se articulam na constituição da ontologia no pensamento metafísico? Heidegger passa a caracterizar o pensamento metafísico como teológico. (PIRES, p. 24, 2010).
Como nos mostra em seu texto no Guia de Estudos, o Professor Pires demonstra que Heidegger percebe a necessidade de superação da Metafísica da forma como vinha se apresentando, urgindo a necessidade de se retornar à tradição. Era imprescindível abandonar os conceitos criados para a Metafísica no curso da história, durante a Idade Média e a Modernidade, tais como adoração, cultuação, métodos, regras, separações naturais, física e voltar ao principal: o Ser enquanto Ser.
Destruir a Ontologia e a Teologia era fundamental para Heidegger a fim de voltar a ser livre e pensar e perceber com liberdade o Ser.
Para Heidegger O ser acabado é sempre projeto, um vir a ser. Neste sentido, o homem é problema para si mesmo. E, pelo fato de ser problema, é barreira a ser superada. Ser mais é o desafio que se coloca à sua frente. Ao mesmo tempo, ele é um ser no mundo, como diria Martin Heidegger, ou melhor, um ser social.
A discussão que envolve deus é exatamente a questão da discussão sobre o Ser. Deus não é uma exigência lógica, não se pode cultuar ou adorar, ou ter com ele qualquer relacionamento. Quando se proclama deus como um valor supremo, isso significa uma degradação de deus e impede o pensar do ser-aí. Este deve ultrapassar a Metafísica. Deus se desvela com o ser do ente. Esse ser não se deixa representar e produzir objetivamente à semelhança do ente. Analisando deus conforme é concebido pela teologia cristã judaica, o pensamento não se aproxima do deus divino, segundo Heidegger; quando abandonamos essa forma tradicional de pensar deus, tal pensamento, então livre, se sente impelido a abandonar deus e, desta forma, o pensar atua isento de conceitos para o divino do que a onto-teologia queira reconhecer.
Um pensar livre de adoração e cultuação não quer dizer ser ateu, mas sim aproximar-se verdadeiramente do divino.


CONCLUSÃO

Acredito que Kant estava equivocado... Somente em Heidegger é que despertamos do sono dogmático. Em Heidegger, não se pode falar nem em teísmo, tampouco em ateísmo. Nem crente, nem ateu. Não é possível falar de deus, com todos seus atributos, nem negar esse deus. Fazer isso é objetivá-lo, é colocá-lo sob os paradigmas do ente. Pois o SER “é ele mesmo”. A metafísica, ao falar do Ser como Deus, tematizou não o Ser, mas o ente. O “ser não se deixa representar e produzir objetivamente à semelhança do ente.” Qualquer representação do Ser também como deus, seria reduzi-lo a ente.
Conforme nos ensina o Professor Pereira em sua tele-aula, quando se proclama deus como o valor supremo, significa degradá-lo, pois o pensar através de valores humanos é uma blasfêmia. Deus só pode ser pensado enquanto o outro do ente. Isto é, o nada – deus não pode ser tematizado, é o nada. De certa forma este outro é um véu do Ser, o nada, não o vazio, mas o nada que dadifica, que esconde a verdadeira realidade do Ser, mas ao mesmo tempo o revela como o Nada. Não se pode tematizar deus segundo os padrões do mundo ôntico, a não ser a partir de referenciais que se desconhece. Em Heidegger, Deus se apresenta se ocultando.
O Ser não se deixa representar e produzir objetivamente à semelhança do ente. Não se pode objetivar o ser, pois ele não é um Ente, e a relação sujeito-objeto se dá num plano ôntico, entre os Entes, se o Ser foge do plano dos seres, ele não pode ser objetivado nesse sentido. Só se pode objetivar as coisas que permitem no plano ôntico, no mundo lógico racional, o Ser foge desse plano. Caso contrário seria entificado e assim seria degradado, menor do que é.
Magistralmente para Heidegger o pensamento ateu está mais próximo do ser divino. Pois, o teísmo tenta falar de deus, o que crê nele ao falar de deus o reduz ao mundo ôntico.
O esquecimento do Ser, próprio do começo da filosofia ocidental, fez com que esse ser fosse o não-pensado. Ou seja, a Metafísica não mais pensasse o ser nele mesmo, apenas através do plano ôntico. A Metafísica trouxe um legado, aquilo que ela não pensou sobre o Ser. Essa é a dica para pensar nesse novo começo em Heidegger. Esse esquecimento do Ser é o que não foi pensado sobre ele. Ela continua sendo uma indicação do caminho que agora o Ser-aí, o ente, o homem deve fazer na busca de sua essencialização.
Nas Contribuições para a Filosofia Heidegger pretende a manifestação essencial a partir do próprio Ser. Heidegger quer a essência do Ser, a partir do Ser, não mais a partir do ente!
Na primeira fase, como dissemos, Heidegger trata do fato do homem como o único ser que se abre para o Ser e ele busca assim se aproximar do Ser através do Ente.
Na segunda fase ele busca o Ser na essencialidade não mais a partir do ser-aí, do ser mesmo.
Em Heidegger Ser é fundamento. O fundamento do Ser permanece fora do Ser. Então o Ser com fundamento não pode ser o Ser como fundamento da Metafísica, que é um ser definido, determinado, criado pelo ente. O fundamento é a partir do próprio Ser.
O último deus para Heidegger, que abre a possibilidade do Ser se manifestar no Ser-aí, depende do acontecimento-apropriador (que não é o último deus, mas que permite o acesso a ele), com ele este sinal coloca a lente no mais extremo abandono do Ser e irradia, por sua vez, com a verdade mais íntima do brilhar desse abandono. O acontecimento-apropriador coloca o ente no total abandono do Ser enquanto Ser da Metafísica. Assim esse abandono traz o plano íntimo desse Ser. (PEREIRA, 2010).
Uma pessoa que tem a coragem de chegar ao limiar do ateísmo para provar o teísmo da maneira como ele se propôs a fazer merece aplausos.


REFERÊNCIAS


CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. Ed. Ática. São Paulo-SP. 1999.

GUIA DE ESTUDOS. Meafísica, Espistemologia e Linguagem. Organização de Daniel Pansarelli. Universidade Metodista de São Paulo. Ed. do Autor. São Bernardo do Campo-SP. 2010.

PASCAL, Georges. Compreender Kant. Ed. Vozes. 2ª Edição. Petrópolis-RJ. 2005.

PEREIRA, Wesley Fajardo. Teleaula. 13 abr 2010.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média. Vol. I. – Vol. II – Do Humanismo a Kant. – Vol. III – Do Romantismo até nossos dias. 3ª Ed. Coleção Filosofia. Ed. Paulus. São Paulo-SP. 1990.