- APRESENTAÇÃO -

O objetivo deste Blog é divulgar projetos, pesquisas, trabalhos, textos que abranjam o pensamento filosofal de diversas áreas e diversos pensadores, disponibilizando-os a quem assim quiser partilhar e precisar para suas próprias investigações e pesquisas. Grato a todos que me ajudaram: Professores, Tutores e Colegas.

sábado, 27 de março de 2010

SÓCRATES E O PROBLEMA SOCRÁTICO



UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD –POLO LONDRINA-PR
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura



AGUSTAVO CAETANO DOS REIS



LÓGICA E FILOSOFIA ANTIGA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA: SÓCRATES E O PROBLEMA SOCRÁTICO














LONDRINA
2009
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
Nº 161062






LÓGICA E FILOSOFIA ANTIGA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA: SÓCRATES E O PROBLEMA SOCRÁTICO







Trabalho apresentado ao curso de Filosofia 1º Período do módulo de Lógica e Filosofia Antiga, à disciplina História da Filosofia Antiga: Sócrates e o Problema Socrático. Em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Pólo Londrina.

Professor: Marcos Sidnei Pagotto-Euzebio







LONDRINA
2009




SUMÁRIO


1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................03

2 - APRESENTAÇÃO .......................................................................................04

3 – CONCLUSÃO...............................................................................................07

REFERÊNCIAS..................................................................................................08







































1 – INTRODUÇÃO

O presente texto que se segue, não tem o condão de querer efetivamente se aprofundar e identificar na vida de Sócrates seu mais íntimo e secreto objetivo. Através da Apologia de Sócrates feita por seu discípulo Platão, pudemos ter acesso a uma parcela pífia da magnitude do ser chamado Sócrates. Sua eticidade, sua coragem, seu desejo imperioso de mostrar ao próximo algo que ele havia descoberto e cujo trabalho maior era tornar isso compreensível através de palavras, e mais, palavras que brotassem da boca de seus ouvintes para assim serem transformadas em saber autóctone.
O objetivo do texto é trazer luz à indagação “Se Sócrates admite nada saber, e faz profissão de fé de sua ignorância, como pôde ser considerado a mais perfeita descrição de filósofo?”






















2 – APRESENTAÇÃO

Pelo que se sabe, Sócrates nasceu em Atenas 469 anos antes de Cristo (aproximadamente). Seu pai era escultor e sua mãe, parteira. Filósofo grego foi considerado um dos fundadores da filosofia Ocidental. Iniciou os estudos sobre a natureza da alma humana e a busca do conhecimento. Tido em sua época como o mais sábio dos homens, julgou-se imbuído da missão divina de converter os cidadãos de Atenas à sabedoria e à virtude por força de uma predição do oráculo de Delfos em resposta a uma pergunta feita por Querofonte (seu amigo de infância) o qual indagou se havia alguém mais sábio que Sócrates, a cuja pergunta a Pítia lhe respondeu que não havia ninguém mais sábio.
Todo o magistério socrático surge após essa resposta feita à pergunta por seu amigo.
Sócrates foi considerado o marco fundante da Filosofia, ele marca o começo da forma de pensar racional voltada para o homem. O que havia antes de Sócrates não era a Filosofia que passou a existir posteriormente.
A primeira aparição de Sócrates na literatura foi trágica, através da peça As Nuvens de Aristófanes, onde Sócrates é considerado um físico (naturalista) e sofista execrado e satirizado.
Todavia, Xenofonte de Atenas, que, por sua vez não foi filósofo, mas sim soldado e historiador, - conta-se que chegou a ser discípulo de Sócrates, mas não se sabe se é verdade - já fala melhor de Sócrates. A tarefa socrática segundo Xenofonte:

[...] discutia constantemente tudo o que ao homem diz respeito, examinando o que é o piedoso e o ímpio, o belo e o vergonhoso, o justo e o injusto, a sabedoria e a loucura, o valor e a pusilanimidade, o Estado e o homem de Estado, o governo e o governante e mais coisas deste teor, cujo conhecimento lhe parecia essencial para ser virtuoso e sem o qual se merece o nome de escravo. (Slides tele aula).

Para Platão, Sócrates é considerado o pai da filosofia, um modelo de filósofo, dialético, herói do pensamento. A diferença entre Sócrates (para Platão) com relação aos outros filósofos é que ele se ocupa de uma sophia antropológica, a sabedoria humana!
Filosofar para Sócrates era advertir, exortar, ensinar os homens a cuidarem da razão, da verdade e de melhorar sua alma - psyché - acima dos bens materiais.
Sócrates é o que traz para a tradição Ocidental a contribuição que o homem é um sujeito dotado de alma e a alma permanece no próprio homem.
Para Sócrates o sujeito e o estado devem ser livres.
Sócrates era um homem simples e um cidadão humilde, sem muitas posses e não recebia para dar seus conhecimentos. Conhecimentos esses os quais ele próprio não considerava como tais, pois buscava provar ao deus oracular que ele não poderia ser o mais sábio de todos, pois ele tinha certeza que sabia que nada sabia, e assim buscava na polis um outro que o ultrapassasse no saber – missão ingrata, por sinal.
O método socrático tinha um pouco das qualidades das profissões de seus pais. Sócrates não impunha o conhecimento, mas à maneira da profissão materna, ajudava para que ele viesse à tona de dentro do discípulo, que o produzia por si mesmo. Sua arte de dialogar, conhecida como maiêutica, provocava aquilo que ficou conhecido como "a parturição das ideias". Por outro lado, sua intenção era a formação autônoma da pessoa. Era converter, à maneira da profissão paterna, uma massa natural e sem forma em uma bela representação individual do espírito. Daí resultava que o conhecimento primordial do homem deve ser o conhecimento de si mesmo.
Sócrates questionava as tradições gregas, entre elas costumes dos cidadãos e suas crenças, inclusive nos deuses. A inteligência para pensar e o talento para a oratória o tornam popular entre os jovens atenienses, o que desperta a atenção dos cidadãos poderosos e conservadores da cidade.
No conhecido texto de Platão “A Defesa de Sócrates”, (PLATÃO, 1980) Sócrates através da escrita de seu discípulo, externiza o ensinamento maior que era exatamente o de que não deveria escapar ao julgamento e mais ainda da pena lhe imposta. Raciocinando assim, pôde passar para a humanidade uma sabedoria maior, que foi, com o preço de sua vida, provar que seus acusadores, julgadores e executores estavam equivocados em pensar da forma como imaginavam ao processar Sócrates como o fizeram, eis que o mais difícil seria o agir depois desse tribunal; se Sócrates se tornasse livre, certamente o seria através de alguma espécie de punição restritiva que implicaria em se calar ou até mesmo exilar-se, mas isso não seria possível, pois onde quer que ele estivesse, seria procurado por aqueles que tinham sede de saber. Se escapasse – como estava programado por seus seguidores – ele, Sócrates, poria tudo a perder, indo contra seus próprios ensinamentos que preceituavam a liberdade de falar e se defender perante a lei dos homens. Se, como o foi, condenado à morte, acabaria convertendo-se num mártir do saber, pois aqueles que o queriam bem e o ouviam para aprender, dali em diante fariam uma revolução cultural em sinal de apostasia e prova cabal do saber livre e dinâmico que o grande sábio discorria, a começar pelo próprio Platão e Xenofonte que fizeram suas apologias à Sócrates.
Na Wikipedia encontramos o seguinte trecho:

“Modernamente (filosofia) é a disciplina, ou a área de estudos, que envolve a investigação, a argumentação, a análise, discussão, formação e reflexão das ideias sobre o mundo, o homem e o ser. Originou-se da inquietude gerada pela curiosidade em compreender e questionar os valores e as interpretações aceitas sobre a realidade dadas pelo senso comum e pela tradição. As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento. Essas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração.” (Grifos nosso).

É maravilhoso pensar que um único homem, uma pessoa de parcos recursos e de família simplória, pudesse ter acesso a um nível de saber imanente tão profundo e claro e ao mesmo tempo inquietante e complexo, que repercutisse de forma tão estrondosa na posteridade a ponto de ser a base de todo o conhecimento que hoje, sendo redundante, se conhece!
As ciências, as políticas, as religiões, devem a Sócrates os alicerces estruturais de seus conceitos. Entretanto é imprescindível denunciar que seu saber foi torcido tal como cipó numa árvore ao olhar e aos interesses de todos os que vieram depois e que ergueram a bandeira socrática como pálio do saber e fizeram do mesmo seu palanque de opiniões próprias...
Isto não importa. Sócrates não foi o único que padeceu por querer mostrar a liberdade do homem e nem será o último.
Parece que os milhares de anos que nos separam são apenas um tênue véu que separa o tempo e o espaço das mentes ávidas para esboçar um sorriso brilhante ao saber – mesmo através daqueles que o divulgaram – um pouco da nossa ignorância e com ela ultrapassar os limites da singeleza de sermos humanos.










3 – CONCLUSÃO

Percebemos em poucas linhas que justificar como o sábio maior pode ser considerado a mais perfeita descrição de filósofo é algo paradoxalmente simples e difícil... Diria simples, pois não precisa ir muito longe para se compreender sua descoberta magna: a alma do homem e que o homem deve se ocupar dela e não das coisas terrenas – importante que isso não tem conotação mística tampouco religiosa, mas algo mágico e espiritual “[...] uma inspiração que me vem de um deus ou de um gênio [...]” (PLATÃO, 1980). Difícil, pois para quem não tem a mônada propulsora do questionar e do descobrir, conciliar esse ideal tão prático com o sistema que esmaga o indivíduo só pode ser considerado uma utopia distante e impraticável, alcançada, quiçá, somente por ascetas e ermitãos isolados em cavernas nas montanhas, longe dos desafios e do conforto da vida moderna.
Sócrates passeou pelos confins do ser e voltou aos espaços mais profundos do homem descobrindo valores (e defeitos) que somente um incansável Filósofo o faria, por tal, por essa obstinação ele provou com sua vida e com sua morte que o Filósofo deve perseguir seu intento até a última instância, pois ele não amealhou nenhum recurso financeiro para si com esse ato – quando muitos o fizeram -, e sua triste expiação foi a máxima atestação da veracidade de suas sábias palavras.
















REFERÊNCIAS

http://pt.wikipedia.org/wiki/filosofia. Acesso em 15 abr. 2009.

Apresentação de slides da tele aula do dia 14 abr. 2009.

Ilustração 1 – Busto de Sócrates. Disponível em: http://www.algosobre.com.br/biografias/socrates-filosofo.html . Acesso em 15 abr. 2009.

PLATÃO. A defesa de Sócrates. Tradução de Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Ed. Abril Cultural. 1980.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A LÓGICA COMO INSTRUMENTO E COMO ANDAIME DO MUNDO

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD – LONDRINA-PR
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura



AGUSTAVO CAETANO DOS REIS



INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E LÓGICA
A LÓGICA COMO INSTRUMENTO E COMO ANDAIME DO MUNDO















SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2009
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
Nº 161062






INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E LÓGICA
A LÓGICA COMO INSTRUMENTO E COMO ANDAIME DO MUNDO







Trabalho apresentado ao módulo Introdução à Filosofia e Lógica sob o tema “A concepção de lógica de Wittgenstein no Tractatus”. Em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Pólo Londrina.

Professor: José Fernando da Silva







SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2009
SUMÁRIO


1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................03

2 – APRESENTAÇÃO........................................................................................04

3 – CONCLUSÃO...............................................................................................07

NOTAS REFERENCIAIS...................................................................................08







































1 – INTRODUÇÃO

“Quando terminou de escrever o Tratado Lógico Filosófico, em meados do século XX, Wittgenstein enviou correspondência para Bertrand Russell afirmando que os problemas dele haviam acabado, pois não haveria mais o que escrever sobre lógica.” É evidente que não podemos pensar que Ludwig Joseph Johann Wittgenstein sanou definitivamente todos os problemas de lógica que assolam a humanidade, eis que são complexos e profundos demais para uma simples existência solvê-los, tanto que o próprio Wittgenstein entendia que enquanto não escrevesse algo do gênero, não teria solucionado seus próprios problemas, mas talvez o vienense não esperasse ter se aprofundado tanto assim no assunto desde Platão e Aristóteles trazendo à lume uma nova proposta de raciocínio distinta daquela poética que pululava a cabeça dos filósofos de até então; um raciocínio duro e rígido nascia com sua obra e também uma nova ótica se deitava no leito intelectivo do pensar filosófico contribuindo com diversas inovações nos campos da lógica, filosofia da linguagem, epistemologia, dentre outros. Para o autor, no prefácio do Tractatus, “o que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e daquilo sobre o que não se pode falar, deve-se calar”. Aqui ele mistifica ao mesmo tempo que busca desfazê-lo dilenando o caminho que trataria de seguir e indicar para a humanidade buscadora da verdade: existem coisas qeu a lógica não consegue resolver.
Wittgenstein mesmo se considerava uma placa indicadora do caminho: “Assim, pois, eu devo colocar sinais em todos os lugares em que existem caminhos equivocados para ajudar aos que seguem por pontos perigosos”. Com seu Tractatus Lógico-Philosophicus ele quis agraciar aqueles que buscam um novo horizonte dentro da Filosofia, um horizonte que pode alcançar de uma forma epistemológica e até mesmo empírica aqueles que não se adequam aos aspectos internos de uma Filosofia do Ser mas que não abandona o devir ontológico.









2 – APRESENTAÇÃO

Embora tivesse forte raiz judia , Wittgenstein era católico e seu tratado teve tendências éticas e religiosas. Um contrasenso para quem imagina encontrar apenas e tão somente raciocínios matemáticos e físicos em seu trabalho. Ele se valia de aspectos comuns do dia a dia, com grande ênfase – senão a primordial ênfase – na forma como as pessoas se utilizam para se compreender umas às outras: a linguagem. A relação entre linguagem e mundo é um tema importante em sua obra como um todo, em especial a questão da natureza da realidade e da forma através da qual ela se faz inteligível. Era incrível como um livro complexo e intrincado que buscava nortear os estudos racionais - contemporâneo e vindouros - estava necessariamente ancorado em entidades abstratas, em construções geométricas, em conceitos sem características individuadoras ou ainda em objetos da experiência imediata. É fácil de se perceber que o foco principal que permeia todo o livro magno de Wittgenstein é o encontro da verdade absoluta, assim como os pensadores predecessores e porque não, dos atuais.
Wittgenstein deslocou o eixo da investigação filosófica ao reduzir drasticamente o papel da verdade como determinante do sentido das expressões. Aquilo que parecia ser uma condição de verdade das proposições é para ele uma condição de sentido. Mas o mais fascinante era que ele conseguia realizar suas constatações sobre a realidade do mundo buscando distanciar-se da metafísica, tocando a esfera do ontológico. A exclusão radical da metafísica de toda esfera do conhecimento humano partiu da fixação de um amplo campo de significação para o termo metafísica, com pretensão de esboçar normas à realidade. A metafísica não poderia realizar comparações com a realidade. Wittgenstein buscava traçar limites excludentes a toda esfera axiológica em relação ao âmbito das ciências, demarcação esta que ele se esmerou em realizar delimitando a linguagem de um ponto de vista interno, ou lógico. Segundo Wittgenstein, “O místico não está em como o mundo é, mas que o mundo seja”. (Tractatus, 6.44). Esse sentimento de espanto vivenciado pelo sujeito que percebe, que enxerga o mundo como uma totalidade ordenada é o Místico. Percebe-se como ele é ontológico em sua lógica rígida? Afinal, ele perpassa toda a reflexão inicial sobre o mundo e seus componentes para nos trazer uma lógica prática e racional.
No Tractatus existem componentes essenciais do mundo, tais como os objetos, os estados de coisas e os fatos. Os objetos se constituem para Wittgenstein a substância do mundo, aquilo que dá sustentação independente de outras coisas. Quando o autor falava de objetos, buscava retratar o “objeto lógico”, se assim posso me referir, mas não meramente de suas propriedades materiais, mas sim de suas propriedades “internas” bem como sua relação com os outros objetos. Como ele mesmo dizia: “não podemos pensar em nenhum objeto fora da possibilidade de ligação com outros” (WITTGENSTEIN, § 2.011) . Havia o entendimento de que era essencial para a coisa – ou o objeto – poder ser parte constituinte de um estado de coisas. A coisa não poderia estar desvinculada dos estados das coisas que lhe estão como subjacentes eis que os objetos têm a possibilidade de todas as situações. Os fatos e os estados de coisas estavam num patamar muito próximos para Wittgenstein, tanto que se o estado de coisa é uma possível ligação entre objetos que poderia ser diferente, o fato é algo já consumado, algo ocorrido, de tal modo que um fato nada mais seria do quem um estado de coisa já existente, por isso a verdade seria encontrada dentro de uma proposição perfeita, construída com uma linguagem clara e correta, pois em o fato já tendo sua existência como certa, o objeto da busca seria encontrado trilhando a vereda da proposição apresentada valendo-se do raciocínio lógico.
Sua obra tencionou traçar um limite ao pensar, mapeando o conjunto de “objetos” que nossa linguagem e pensamento podem interagir.
A ontologia que delineia a obra do autor do Tractatus parte da noção de atomismo. Em linhas gerais, esta se efetiva sobre três postulados: toda estrutura é composta por elementos simples; os elementos que constituem uma estrutura não são analisáveis e as propriedades internas dos elementos determinam as estruturas de todos os complexos. Para Wittgenstein “a solução de todos os meus problemas deve ser extremamente simples.” (Wittgenstein, p. 32. 1971)
O cerne da verdade deveria ser encontrado quando se buscasse a resposta dentro do problema, mas a mesma – a verdade – só poderia ser localizada a partir do instante crucial em que o próprio problema fosse adequadamente construído, caso contrário, se houvesse falha na linguagem da problemática, a busca pela verdade restaria prejudicada. Wittgenstein procurava uma linguagem científica que não se abastecesse de subjetivismos, que fosse imparcial, ela deveria ter uma figuração da realidade como algo possível.
Wittgenstein desenvolve os signos proporcionais ou sinal proposicional para poder descobrir a veracidade ou até mesmo a falsidade de uma proposição. Um signo é diferente de um símbolo. O signo é uma marca no papel ou um som audível que isoladamente carece de sentido. Somente quando usado como expressão tendo algo comum com estados de coisas, é que um signo também vira um símbolo. Tal método é o comparativo do signo proposicional e a realidade factual, ou seja, entre o enunciado e a realidade. “Possuidoras de uma estrutura lógica fundamental, as proposições apenas podem mostrar tal estrutura [...] como as coisas acontecem no mundo” , mas nunca dizer o que acontece, pois a própria linguagem possui uma forma lógica, por isso a preocupação de Wittgenstein com o raciocínio adequado fundado em uma lógica racional e uma linguagem perfeita. Só assim, pensava o autor, poder-se-ia encontrar a verdade tanto buscada por todos os Filósofos.
Aristóteles reelabora uma tese, já presente em Platão, de que a proposição possui duas características essênciais: sua complexidade e sua bipolaridade, por isso, enunciar é visar o alvo. Uma enunciação falsa não deixa de ser uma enunciação, só não tem seu valor de verdade. O diferencial da lógica está no pensamento. Um pensamento denota um conjunto de modelos ou figuras que construímos visando à representação factual, assim sendo, elucubrações poéticas não compõem o termo.
Segundo José Fernando da Silva, “A única tarefa que cabe à filosofia é apontar os mal-entendidos a que se submetem os filósofos em virtude da incompreensão da lógica da linguagem; uma vez esclarecido esse ponto, desaparecem todas as interrogações filosóficas.” (SILVA, 2006) . Ocorre que, ao lado desse juízo totalmente negativo da Filosofia, há um sentido diferente apresentado no Tractatus: a Filosofia pode ser instrumento determinante à compreensão do mundo: se após galgarmos os degraus da mesma, conseguirmos contemplar de modo mais lúcido o mundo, terá ela cumprido seu papel.
Eis a magia oculta na ciência da obra de Wittgenstein. Mostrar àqueles céticos da Filosofia e crentes da ciência, que mesmo nos valendo da valorosa e poderosa ciência, existe a necessidade ímpar de utilizarmos a Filosofia como ferramental precursor do descobrimento de uma resposta: “o que é?”.













3 – CONCLUSÃO

Para os incautos viajores da leitura wittgensteiniana um lembrete de cunho informativo: não se perca nos labirínticos caminhos pensantes e tampouco nos retorcidos cipós da intelecção de seus pensamentos silogísticos que perspassam da lógica para a matemática e física que assustam e fazem fugir à galope os menos avisados, mas busque verificar através de seu raciocíonio ontológico, aquilo que ele procura como essência escondida na confusão da irracionalidade da ausência de resposta. Wittgenstein queria medir o grau de legitimidade das pretensões filosóficas que lhe pareciam distantes e aquém de uma posição definitiva, conclusiva. E ele estava certo nesse buscar. Uma Filosofia que não serve para nada, para nada serve. Evidente que ele imaginava que o que estivesse além do limite seria considerado um contra-senso, pois ele queria passar à nós, meros mortais do intelecto, um limite para se encontrar a verdade através da linguagem. Compreende-se aqui sua profunda paixão e carinho pelo saber e pelos que, assim como Sócrates, sabem que não sabem? Explicar o inexplicado, através de palavras, linhas escritas, símbolos e fazer com que o outro o compreenda foi algo que Ludwig Wittgenstein tentou passar para a humanidade, pois as questões lhe eram consideradas como de difícil compreensão e através da lógica formal ele procurou resolver todos os problemas da Filosofia. Entretanto é bom recordar que alguns problemas tratam-se de questões sem sentido e que não são necessáriamente problemas, apenas não são exprimíveis pela nossa lógica e linguística.
O índio do período do descobrimento, que jamais em sua curta existência havia visto uma embarcação do porte de uma caravela, nunca poderia conceber em sua ilimitada mente a mesma; tudo aquilo que é pensável é possível, mas aquilo que é ilógico, não pode ser pensado. Das coisas ocorrem os fatos e destes temos as relações de lógica. Wittgenstein buscou mostrar a estrutura do mundo e não a estrutura de nosso conhecimento. É o mundo em si mesmo, não nosso conhecimento que se resolve em fatos. Encontrando o mundo, encontramos a realidade total, encontrando a realidade total, encontramos a verdade!








NOTAS REFERENCIAIS
http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/061128logica.php. Em 01/05/2009.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wittgenstein. Em 30/04/2009.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/viewFile/3670/3296. Em 30/04/2009.
http://www.uvanet.br/rhet/artMar2008/linguagem.pdf. Em 01/05/2009.
http://www.ipep.edu.br/portal/publicacoes/revista/Revista%20Fipep2007/Artigo%206.pdf. Em 03/05/2009.
WITTGENSTEIN, L. Carnets. 1914-1916. Paris: Gallimard, 1971.
http://www.uvanet.br/rhet/artMar2008/linguagem.pdf. Em 01/05/2009.
http://gegelianos.blogspot.com/2005/06/0-tractatus-logico-philosophicus-uma.html. Em 26/04/2009.
SILVA, José Fernando da. Revista Técnica IPEP, São Paulo, SP, v. 6 n. 2, p.61-74. ago./dez., 2006.

quinta-feira, 18 de março de 2010

HÍPIAS MAIOR DE PLATÃO

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura


AGUSTAVO CAETANO DOS REIS







INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – FILOSOFIA E MÉTODO








LONDRINA
2009
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
Nº 161062






INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – FILOSOFIA E MÉTODO





Pensar a filosofia e o filosofar a partir do método intuitivo e do pensamento de Bérgson. Resumo do diálogo Hípias Maior de Platão destacando 10 definições de Belo acompanhadas de suas refutações.

Professor: João Epifânio Regis de Lima









LONDRINA
2009
SUMÁRIO


APRESENTAÇÃO..................................................................................................03


REFERÊNCIAS.......................................................................................................08



























APRESENTAÇÃO

O alimento da alma pode ser encontrado de diversas maneiras e também pode ser questionado profundamente e até mesmo irritantemente como o fez Sócrates com seu colega Hípias. A obra de Platão nos brinda com um jogo interessante do intelecto e ao mesmo tempo brinca com nossa razão a ponto de querer que ambos deem um nó. Sutis detalhes do diálogo em questão (PLATÃO) passam à margem do foco da conversa e ao mesmo tempo querem mostrar o quanto o estudo de um problema filosófico pode ser apresentado de formas distintas ao leitor atento.
Exemplificando o exposto, temos logo na primeira linha do texto uma exclamação de Sócrates em prol de Hípias: “Oh! O belo e sábio Hípias!”. Na página 06, 287 a, Sócrates exclama: “Por Hera! Belas palavras, Hípias, [...]”. Na página 10, 291, a, Sócrates responde a uma colocação de Hípias com o seguinte dizer: “[...] nem fica bem preocupar-se com nomes tão vulgares um indivíduo como tu, de vestes tão bonitas e com esses calçados, [...]. Infelizes quanto ao andamento do raciocínio, na página 14, 297, d, Sócrates reclama: “[...] é bem possível que nossa bela conclusão, [...]”. Falando em nome de seu inquisidor, Sócrates, à página 16, 299, c, interpreta: “Bela resposta, ele diria.” E assim segue sempre abordando questões do próprio belo entre as lisonjas e ironias, trocadas.
O diálogo trata de uma busca pela explicação do que seria “o belo”, mas o autor nos coloca diversas variantes do belo enquanto habilmente desloca a atenção do leitor do cerne do problema com o qual os protagonistas se debatem para uma conversa informal e mais suave, na qual o belo é sempre presente e implanta, subliminarmente, na psique do inadvertido leitor, intenções afáveis do que se poderia concluir em cumplicidade com os dois, o que seria efetivamente “o belo”.
Um outro exemplo que entendo importante apontar, antes de adentrar propriamente no resumo da obra com as indicações do belo e suas respectivas refutações, e que salta aos olhos podendo ser considerado uma formidável forma do belo, é o carinho e afeto que ambos buscam se tratar refletido no respeito mútuo. Senão vejamos: na página 2, 291, b, Sócrates jubila-se: “Isso sim, Hípias, é que é ser homem verdadeiramente sábio e perfeito!”. À altura final da página 6, 297, e, Hípias responde a uma posição de Sócrates com a seguinte frase: “Compreendo, bom homem, e vou responder [...]”. Página 10, 291, e, Sócrates exulta: “Oh, oh! Hípias! Isso é que é linguagem admirável, sublime e verdadeiramente digna de ti.” O mesmo praticamente ocorre à página 14, 297, b, com Hípias: “É muito certo, Sócrates, falaste admiravelmente.” Outro elogio se apresenta à página 16, 300, d, quando Hípias expõe a fraternidade entre ambos: “Ninguém, Sócrates, como tu, se acha em condições de saber se estou ou não brincando.” Sem contar os aspectos já primeiramente lançados e outros tantos que não merecem ser mencionados, não por não serem de valor, mas por amor à brevidade da apresentação, todavia não maculam em nada a idéia do diálogo Hípias Maior, onde dois grandes sábios se unem na esperança de que, juntos, possam desvendar o mistério de qual seria o critério para reconhecer o que é belo e o que é feio. A proposta, em princípio, apresenta-se como uma espécie de brincadeira elaborada por Sócrates onde imagina que um cidadão, ouvinte de suas palestras, o indagaria e o refutaria sucessivamente consoante já o teria feito. Sócrates tenta, assim, aquinhoar de seu amigo Hípias uma resposta fiel ao intelecto e lógica ao raciocínio.
Perquirido constantemente por Hípias quem seria tal cidadão, Sócrates apenas escapa dizendo que o homem é “[...] sem polimento nenhum, grosseirão e só preocupado com a verdade.” (Página 7, 288, d). Em outra oportunidade, o próprio Hípias, já cansado de tanto ser refutado em suas observações, acrescenta novamente sobre as qualidades do dito homem: “Porém uma coisa eu sei: que é um tipo ignorante.” Ao que Sócrates confirma: “É um sujeito terrível, Hípias.” (Página 8, 290, e). O que termina por complicar a conversa, pois Hípias demonstra querer findar o assunto com uma mera e singela resposta àquilo que lhe parecia fútil e tolo, mas, quando Sócrates mostrava que o “terrível” homem não passava de um indolente, mas que, apesar disso, buscava a verdade, Hípias não tinha recursos que não seguir encontrando novas respostas para as refutações concebidas por Sócrates fingindo ser seu algoz. Essa postura complicava-se diante do fato que Hípias desmerecia sempre o homem, sempre apoiado em outros tantos adjetivos pejorativos, mas quando ele, na pele de Sócrates, encontrava uma falha nas respostas apresentadas pelo sábio Hípias, um paradoxo se apresentava: Como poderia uma figura ignorante ser capaz de refutar tão sagazmente dois cérebros pensantes do porte de Hípias e de Sócrates? É somente mais adiante, quando seus questionamentos que sempre refutam as respostas do amigo já começam a tirá-lo de seu estado sério, é que ele (Sócrates) opta por trazer à lume a identidade do “questionador” como sendo Sócrates, filho de Sofronisco.
Assim, prosseguem o diálogo sempre encontrando pontos que são identificados como belos, mas que logo Sócrates derruba habilmente; senão vejamos agora uns dez desses itens analisados.
Sócrates apresenta algumas definições do belo em si e, dentre outros, dá o exemplo de uma bela jovem sendo a mesma por efeito o que deixa belo todas as coisas (página 7, 288, a). Hípias concorda de plano, mas Sócrates, fazendo-se por seu cruel interlocutor, expõe que ele diria que uma égua, por ser algo criado por Deus, também pode ser bela. Logo em seguida, explica que o belo poderia ser uma bela panela feita por um exímio oleiro, bem polida e redonda e devidamente cozida, e esse pensamento levou à conclusão de que as demais panelas seriam feias, ou uma égua, ou uma donzela, comparadas a ela e a todas as outras coisas verdadeiramente belas. Então, passa a existir um ponto para se avaliar o belo: a comparação!
Logo, a raça das virgens (considerada antes bela) passa a ser comparada com a dos deuses, e assim conclui-se que as virgens já não seriam belas, portanto, o parâmetro não havia sido alcançado, pois se comparassem a raça dos deuses com os homens, não estariam os homens no nível de belo.
Outro inciso que se levanta é que o belo então seria o que orna todas as coisas, e assim as faz parecerem belas; ao que Hípias alega ser então o ouro o próprio belo. Mas o inquisidor de Sócrates questiona então se uma escultura de Fídias seria menos bela por não ter ouro? Ao que, derrotados, compreendem que o ouro não seria o que torna bela as coisas.
Seguem, contudo encontrando que o que convém seria o que deixaria as coisas belas; logo Sócrates indaga o impaciente sábio se o que conviria para uma panela com alimentos: uma colher de pau ou uma de ouro? Ao que, derrotado um vez mais, percebem que o que convém nem sempre é o ouro que orna, por tal, a conveniência não faria belas as coisas. A colher de pau passa ser indicada para mexer o alimento, eis que a indicação do bem, da coisa adequada a um fim não pode ser comparada a outra similar em sua forma como sendo bela.
Hípias, sob aplausos animadores de Sócrates, busca nova resposta: “o que há de mais belo é ser rico, gozar saúde, ser honrado pelos Helenos, chegar à velhice e, assim como sepultou condignamente os pais, ser sepultado pelos filhos, por maneira bela e suntuosa.” Mas Sócrates lembra que buscam o belo em si, que confere beleza a todas as coisas a que se agrega, seja esta pedra, madeira, homem, deus, ação ou conhecimento e é deslocado quando Sócrates faz ruir a idéia imediatamente acima de que não seria belo então o mesmo ato realizado por um herói ou deus.
Sócrates conduz o amigo a crer que o belo seria então a conveniência em si mesma, por isso, o belo seria o que convém. Mas ele próprio refuta a sua idéia que parecia adequada para Hípias, quando mostra que a conveniência faz parecer belos os objetos a que se junta, ante isso, seria uma burla com relação à beleza, se alguém usasse manto ou calçados adequados e fosse ao mesmo tempo ridículo. Por isso, belo não seria o que faz as coisas apenas o parecerem, mas sim as que as deixa belas de verdade.
Caminhando para novas veredas mentais, Sócrates encontra novo pensamento de que não seriam belos os olhos que não enxergam, mas sim os que estejam aptos para esse fim, e acrescenta o mesmo com relação ao corpo que estaria apto a correr e lutar, bem como um cavalo, vasos, veículos, navios, instrumentos, ocupações e instituições, partindo do pressuposto que todos, nessas condições, sejam úteis e por assim ser, belos. Segundo o pensamento socrático exposto no diálogo, o que seria capaz de fazer alguma coisa útil, seria belo e feio o incapaz. Entusiasmado, Hípias valoriza o raciocínio, dando como exemplo de belo via capacidade, a política bem administrada.
Mas, para desespero de seu colega, Sócrates refuta o próprio pensamento, quando atribui à capacidade, poder aos homens de fazer o bem e/ou o mal, por isso, quando a capacidade dá poder ao homem de realizar uma maldade, tal gesto jamais poderia ser considerado belo.
Sem desistirem da incessante busca, ambos parte para novo juízo: os belos corpos, as belas instituições, a sabedoria e tudo o mais que se referiram até então, seriam belos por serem vantajosos. Em prol disso, o belo seria o vantajoso. Assim seguindo, encontraram que o vantajoso seria o que produz o bem, e mais, que produzir alguma coisa seria a causa dessa coisa, dessa forma, a causa do bem seria o belo. Mas concluem, depois de um grande esforço, que a causa não poderia ser efeito, tampouco o efeito a causa, ou seja, a causa não poderia ter como efeito o bem, por reflexo, a causa não poderia ser o belo e por conseguinte, o bom não pode ser o belo.
Incansavelmente partem para um novo prumo, de que seria belo aquilo que nos proporciona prazer, mas só aquele alcançado pelas vistas e pelo ouvido. O que nos deleita pela vista e pelo ouvido seria o belo. Caem em nova armadilha, quando o próprio Sócrates conclui que não fariam parte desse conceito alcançado, o alimento, a bebida, o amor, por não serem possíveis de serem vistos ou ouvidos, conquanto as demais sensações também proporcionam muito prazer. Sendo assim, todos os prazeres que existem, mas que não viessem dos ouvidos e da vista, não poderiam figurar como belos, assim, como um outro prazer qualquer sendo maior ou menor, não poderia ser considerado belo?
Negado o último encadeamento de juízo, chegam a outra reflexão, de que o belo seria o prazer útil, mas, já esgotados, percebem que o útil seria aquilo que produz o bem, mas o produtor e o produto são diferentes, por tal, voltavam ao ponto de partida já abordado, de que o bem não pode ser o belo, nem o belo pode ser o bom, se cada um deles for algo diferente.
Hípias, já parecendo exausto do infindável questionário e já percebendo não ter um fim aquela conversa, mostra, de forma um tanto rude, a Sócrates que seria belo poder alguém dizer bem um ótimo discurso num tribunal, num conselho, diante de um autoridade pública, a tal ponto de persuadi-la e que a mesma leve dali a salvação de si próprio, de seus haveres e de seus amigos, devendo Sócrates se aplicar a isso, abandonando as futilidades a que estava se dedicando, como tolices e palavrório vazio.
Calmo, mas sem deixar de mostrar que havia ficado um tanto quanto ressentido por ter sido maltratado com expressões rudes, Sócrates optou por concluir o diálogo, mas não sem antes deixar claro ao amigo Hípias, que era sim admirável realizar tais gestos com uma oratória e um discurso bem feito, mas que o filho de Sofronisco, lhe mostraria, finalmente, que Sócrates deveria se envergonhar de falar a respeito das belas maneiras de viver, sendo ignorante, visto Sócrates não saber até mesmo o que venha a ser beleza. De que modo poderia saber se um discurso está bem ou mal composto se sequer sabe o que é belo?
Assim, ainda respeitosamente, voltando-se ao seu amigo, alegou já ter ouvido diversas injúrias e repreensões dele, assim como acabara de ouvir do amigo, não sabendo se seria melhor morrer ou viver, numa espécie de premonição, mas concluiu que talvez fosse merecedor delas, mesmo sem saber se isso seria de alguma utilidade. Mas, sabiamente deu a volta por cima, quando optou por encerrar o diálogo com Hípias, dando conta de que terminaria pelo menos por compreender o significado de um provérbio, o de que “o belo é difícil”.
Assim Platão encerra esse episódio.

REFERÊNCIAS

PLATÃO. Hípias Maior. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná, 1980.

terça-feira, 16 de março de 2010

A ÉTICA MODERNA E SUA CRÍTICA

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS – EAD – LONDRINA-PR
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
Filosofia Licenciatura



AGUSTAVO CAETANO DOS REIS



FUNDAMENTOS DA ÉTICA E DA FILOSOFIA POLÍTICA
A ÉTICA MODERNA E SUA CRÍTICA














SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2009
AGUSTAVO CAETANO DOS REIS
Nº 161062






FUNDAMENTOS DA ÉTICA E DA FILOSOFIA POLÍTICA
A ÉTICA MODERNA E SUA CRÍTICA








Trabalho apresentado ao módulo: Fundamentos da ética e da filosofia política, à disciplina: A ética moderna e sua crítica. Em cumprimento às exigências do curso de Licenciatura em Filosofia, da Faculdade Metodista de São Paulo - Pólo Londrina.

Professor: Daniel Pansarelli







SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP
2009
SUMÁRIO


1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................03

CAPÍTULO 1
A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO, ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES...................................................................................................05

CAPÍTULO 2
A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO E MORAL NA MODERNIDADE.................09

CONCLUSÃO.....................................................................................................13

REFERÊNCIAS..................................................................................................16

































INTRODUÇÃO

A proposta que se apresenta é assustadora e ao mesmo tempo maravilhosa: passear pelos grandes pensadores do vulto de Aristóteles, Kant, Nietzsche e dos atuais é um risco de sanidade e concomitantemente um prazer profundo e ímpar. Uma possibilidade que poucos têm de poder desbravar.
Busca-se com o primeiro capítulo deste texto, apresentar uma relação entre a razão, ética e política sob o ponto de vista de Aristóteles, estudando trechos de seu livro “Ética a Nicômaco”, e outros textos de apoio.
No segundo capítulo há uma breve apresentação entre razão e moral na Modernidade, vista depois de se beber textos maravilhosos de grandes pensadores do porte de Kant e Nietzsche.
Muitos podem buscar apenas detalhes que ligam ou que desconectam este ou aquele autor, mas a ideia que permeia este trabalho é uma tentativa de ilustrar as opiniões que favorecem uma postura para os tempos atuais, onde deveria existir uma unidade entre ética e política, muito embora o distanciamento com a Antiguidade seja grande, mas, como se buscará demonstrar, talvez apenas pelo tempo, pois fatores éticos e morais na política sempre foram o mote de todos os gênios da Filosofia, tanto antiga quanto moderna. Afinal, o bem maior, o bem comum continua sendo a felicidade.
Na modernidade todos querem agradar dizendo “sim”, acolhendo os absurdos da ilusão, algo inviável e não funcional. A sombra oculta por trás disso tudo pode ser identificada por um nome: medo! Um espírito que é livre torna-se o que é e tornar-se o que é seria a reunião de afetos de comando necessários para essa elevação. O espírito seria uma “construção”, uma estilização de experiências e vivências. Acreditam-se que na Modernidade a política é decadente, pois cabe aos espíritos mais seletos a obra de realizar-se, fazerem-se criadores, espiritualizar-se. Nossa política/justiça não pune com a intenção de correção , mas simplesmente pelo prazer e afirmação de autoridade.
A sugestão seria ter amor ao necessário e esse necessário seria na visão de Nietzsche “tornar-te o que és”: acima de tudo, “ama-te como és”, ou como diria a sabedoria popular: “Cuida de ti!” O Professor Nobre ressalta que “o ‘torna-te o que és’ é, antes de tudo, um mote de ‘distinção’; é o correspondente positivo do: ‘Não sigas por onde vai um outro.’”
O que se busca com o resultado do trabalho é colocar uma sugestão, uma proposta de que o grande diferencial na ética, moral, razão, política é a experimentação de uma nova necessidade, superando-se a moralidade escrava, “libertar para criação”. Kant (assim como Aristóteles) acreditava que o ser humano esta fadado a viver num ambiente social e político e para tal precisa fazer uso da razão para conviver com os demais, “civilizando-se” nessa sociedade e esse caminho seria a educação cujo objetivo é a moralização que, por sua vez molda, forma o caráter do ser humano. O homem sem regras não inspira confiança é uma pessoa que não sabemos como lidar. Pode ter reações imprevisíveis e livres de toda e qualquer lei ou norma de conduta, chegando a beirar o conceito de loucura.
As características que se observarão no texto são de que precisamos ter em conta que cada um é individualmente inédito. Tratar as pessoas como a medicina que atribui remédios em massa que são universais pode ser um equívoco. O ser humano acredita que as convenções e conceitos da Modernidade são verdades inabaláveis, dogmas pétreos e ao citá-las não percebe que está mentindo inconscientemente.
Não se quer com o texto valorar este ou aquele, como já dito, Kant quis trazer potência à razão, e Nietzsche quis transvalorar as convenções. O que se buscará expor – da compreensão dos textos lidos – é que existe uma maneira limitante de pensar e é exatamente no uso frágil da razão que se encontram os grilhões da liberdade. Essa ruptura com o universal pasteurizado e que nos leva a desconfiar de nossas avaliações atuais é uma seta que indica um Norte: o domínio de si, ou seja, crítico de si próprio.

















CAPÍTULO – 1

A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO, ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES

Realizar uma dissertação sobre o trabalho de alguém já não é tarefa grata para pessoas devidamente habilitadas. Realizar uma dissertação sobre o trabalho de um alguém do vulto do grande Aristóteles não é tarefa grata para muitos, em especial para incipentes neófitos à Filosofia... Como lançar uma opinião sobre temas tão profundos e de ordem social tão importantes quanto razão, ética e política? Necessário se faz ter uma base e minha base é singela e pífia para querer demonstrar conhecimento sobre a temática. Todavia, procurarei esboçar uma opinião fundada em textos me ofertados e pesquisas realizadas.
Aristóteles precisava sair do mundo das ideias para o mundo concreto, onde pessoas de carne e osso viviam, sentiam, amavam, guerreavam, comercializavam. A polis crescia e com ela a necessidade de uma vida em comum a necessidade de reger a vida do cidadão para que o cosmos pudesse reinar era imprescindível. Para tal a mente brilhante de Aristóteles fremia de pensamentos que trouxessem a ordem e evitasse um caos.
Para isso não bastava unicamente nascer e ser um fruto do divino, mas sim manter-se reto e dedicado em um foco, uma meta, cujo objetivo era ser o exemplo vivo de sua obra viva. Como postular aos demais que compreendessem suas posturas e seus ensinamentos se ele mesmo não vivesse de modo a corroborar suas colocações? Ora, se não nascemos virtuosos, tal capacidade necessita unicamente de nossa postura, pois, segundo destaca o Professor Paulo Ferreira da Cunha em seu texto “Aristóteles – Filosofia do Homem, Ética e Política”, “As virtudes estão assim nos homens [...] em potência” (CUNHA. 2003). Ou seja, é colocando em prática a própria virtude que se alcança cada vez mais e mais os degraus da mesma. Isto, porém, só pode ocorrer quando se sabe o que se faz e para tal é necessário valer-se do uso da razão! Um exemplo do Professor que abrilhanta seu texto é o do paciente que não pode se curar apenas e tão somente concordando com o diagnóstico médico sem dar conta das receitas lhe indicadas para o tratamento. É ilógico.
É por isso que Aristóteles foi considerado o primeiro sistematizador das coisas políticas (dentre outras, como um estimável pedagogo sociólogo, fundador do direito constitucional com seus diferentes ramos, histórico, nacional, geral e comparativo; que criou a ciência política no sentido de que, estabelecendo a dinâmica e medindo o rendimento das instituições, ela ultrapasse o direito). (ATEUS.NET). Sua visão era a de que a natureza humana era exclusiva, senão necessariamente uma natureza social e política, com dimensões irrecusavelmente jurídicas. O Homem é um ser da cidade, um animal político.
Aristóteles raciocinou concluindo que cidadão, em suma, seria o homem, mas não apenas por sê-lo, mas sim o politicamente ativo. E diferenciava essa condição ativa dos demais trabalhadores. Por exemplo, um artesão não poderia ser um autêntico cidadão, eis que não poderia ser um político ativo, ou melhor, não encontrava tempo suficiente para dedicar-se à cidadania política, tendo em conta que precisava cuidar de suas tarefas profissionais.
Mas o que conduziria uma pessoa a rumar para as questões de ordem ética e política? A mola propulsora seria a felicidade! Essa felicidade que Aristóteles não compreendia no acúmulo de riquezas ou bens externos – muito embora os considerasse úteis – mas sim o que realmente valia: a inteligência, costumes excelentes, os bens da alma. Ora, a felicidade pública não difere da felicidade privada, em assim sendo, conclui-se que na política, o homem deve encontrar-se feliz, mesmo sem riquezas, apenas com “os bens da alma”. Que exemplo para os políticos de hoje! E isso fica claro em sua “Ética a Nicômaco” quando ele destaca que “[...] a política utiliza as demais ciências e [...] legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano”. (ARISTÓTELES. p. 49; 2; 1094b; 5). (Grifo meu).
De nada vale teorizar sobre isso sem a razão, base para os frutos a serem colhidos – ou o único fruto: felicidade. Cito outro trecho da obra “Ética a Nicômaco” que traz luz ao exposto:

[...] o defeito não depende da idade, mas do modo de viver e de seguir um após outro cada objetivo que lhe depara a paixão. A tais pessoas, [...] a ciência não traz proveito algum; mas aos que desejam e agem de acordo com um princípio racional o conhecimento desses assuntos fará grande vantagem. (ARISTÓTELES. p. 50; 3; 1095a; 5 e 10). (Grifo meu).

Nesse sucinto e brevíssimo trecho encontra-se a alma de dois dos pontos necessários à vida na polis politizada: “princípio” e “racional”. A ética e a razão espelham-se no Homem da polis, no homem da política que busca o bem do próximo sem pensar em extrair proveitos de sua atividade. Outros confiam no legislador e querem o melhor para si e para os seus, por tal imagina-se que os que elaboram leis para serem cumpridas sejam exímios conhecedores de virtudes e praticantes das mesmas. Hesíodo já dizia:

Ótimo é aquele que de si mesmo
[conhece todas as coisas; Bom, o que escuta os conselhos
[dos homens judiciosos.
Mas o que por si não pensa, nem
[acolhe a sabedoria alheia,
Esse é, em verdade, uma criatura [inútil.
(ARISTÓTELES, p. 51. 4. 1095b, 10).

A virtude, para Aristóteles estava acima da própria honra e ela em si mesma seria a finalidade da vida política. Nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Esse era o conceito que ele fazia da felicidade, a auto-suficiência, aquilo que em si mesmo torna a vida desejável e carente de nada e a finalidade da ação, do Homem de ação, do animal político, da Política em si.
Mas isso é um objeto de escolha, da ética, do princípio inato. A política não pode - e não deveria – se converter em objeto de prazer, não poderia se tornar mais desejável do que o bem comum; não que não se possa encontrar prazer no ato de politicar, mas esse prazer então deveria ser completo, em todo e qualquer momento, pois assim esse prazer seria cabal e perfeito na “atividade”. Infelizmente o próprio Aristóteles concorda que “todos os seres humanos são incapazes de uma atividade contínua, e essa é a razão de não ser contínuo também o prazer, pois ele acompanha a atividade”. (ARISTÓTELES, p. 224. 4, 1175a, 5).
O Professor Cunha tem sua própria posição a respeito e, ao que parece, Aristóteles também chega a esse corolário: “[...] a vida virtuosa pode ser mais ativa ou mais contemplativa. E aí não há unanimidade entre os que louvam a virtude em geral”. Por isso há diferenças, e ele completa com Aristóteles:

Uns não dão nenhuma importância aos cargos políticos e consideram a vida de um homem livre muito superior à que se leva na confusão do governo; outros preferem a vida política, não acreditando que seja possível não fazer nada, nem portanto ser feliz quando não se faz nada, nem, que se possa conceber a felicidade na inação. [...] Uns e outros têm razão até certo ponto e se enganam sobre o resto. (CUNHA. 2003)

Penso humildemente que se o homem é um animal político, não importa se um artesão, um militar, ou um filósofo, todos somos e temos o direito de politizar, diria mais, a obrigação, eis que todos esses elementos estão envolvidos numa busca, seja essa busca contemplativa ou ativa, consciente ou não: a felicidade, que é, na ótica de Cunha “tanto nos particulares como nas sociedades políticas, fruto de uma ação ponderada, previamente refletida. De uma ação fruto da virtude, e de uma virtude pensada.” (CUNHA. 2003). (Grifos meus). E isso na contemporaneidade não se alcança meramente fazendo uso do voto.
Façamos um jogo de palavras para fechar esse trecho.
Se a felicidade é a expressão do bem e o bem é a finalidade de todas as coisas, então a felicidade é o fim de todas as coisas. Bem, se a razão é o caminho para o bem (felicidade), logo a razão é o caminho para a felicidade e todas as coisas. E, o homem tem como função dele mesmo o caminho para o fim de todas as coisas. Se a felicidade, ou seja, o fim de todas as coisas tem sua excelência no intelecto e o homem é o intelecto, logo podemos concluir que a felicidade está no homem!




















CAPÍTULO 2

A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO E MORAL NA MODERNIDADE

“Dependendo das respostas que obtivermos, em cada sistema filosófico, há um mundo possível a ser vivido.” Assim dizem os Professores Sardi e Müller em seu artigo “Questões que afetam nossa vida” (SARDI; MÜLLER. 2009, p. 01). Hoje, com a quantidade de material que temos acesso dos grandes pensadores da antiguidade e da contemporaneidade, fica complexa a elaboração de uma opinião formada sem cairmos na tentação de defender este ou aquele. “Nas questões filosóficas é a existência que se põe em decisão. Por isso é preciso refletir sobre as nossas potências, sobre os nossos limites, sobre o próprio ato de conhecer.” (SARDI; MÜLLER. 2009, p. 01). Nietzsche parece querer nos preencher com isso, com o próprio ato de conhecer. Sem o conhecimento não há possibilidade de sequer iniciar-se um questionamento. E o conhecimento só é intelectível através da razão e o questionamento seria a busca pela verdade, caminho que o próprio Nietzsche nunca abandonou e que os Filósofos atentos também trilham.
Entretanto, para Nietzsche o intelecto era fugidio, transitório e com um horizonte muito limitado, ele nada mais era do que um elemento fingidor que oculta, ilude, dissimula, forja, tudo com o fito de esconder um fundo trágico e assim, enganando o indivíduo intelectualóide, continua vivendo. Para Nietzsche o homem de verdade deveria escapar do rebanho social que enquadra e molda a forma de viver. A forma é a fôrma que nos molda. Mas escapar dessa conduta bitolada é um risco, um perigo, tal como uma rês que escapa ao abate: causa problemas! Dizer a verdade (mesmo que autônoma) é algo subjetivo e tergiversado, a verdade do indivíduo passa pelo seu intelecto, por sob sua ótica pessoal e assim, ao ser exprimida, nada mais é do que uma alteração do real, por tal, como a rês que escapa, causa tumulto.
A verdade que se busca dizer hoje em dia – e quiçá também em outrora – e que enche os consultórios de psicanalistas e psicólogos, é sempre dita através da palavra ou da escrita – experiência de outrem - e nesse momento tudo o que o pretenso auxiliar da mente alheia pretende, ingenuamente sob o pálio de ajudar, é fazer com que o “paciente” compreenda a si mesmo através da sua própria visão de médico, do próprio entendimento pessoal do profissional da área “patológica” e não encontrar a vivência pessoal, individual e íntima; assim como Nietzsche preconiza: “[...] o homem mais arrogante, o Filósofo, imagina ter também os olhos do universo focalizados, como um telescópio, sobre suas obras e seus pensamentos.” (NIETZSCHE. 1975, p. 17). (Grifos meus).
O que o ser humano quer nada mais é do que uma “razão” para defender sua “moral” e assim vive de dia como de noite, se enganando através de sonhos sem que o seu sentido moral jamais tente impedi-lo pois é covarde ou medroso, sempre ditado pela forma interna que leva a desculpa chamada “consciência” ética ou moral. Tudo para continuar a ser o animal-político, ou a rês da vez. Assim, ele se pergunta: “[...] haveria no mundo um lugar de onde pudesse surgir o instinto da verdade?” E a resposta pode ser sim! Na transvaloração, no pensamento abismal, na ideia de eterno retorno, ou melhor ainda, o que culmina em Nietzsche ainda em uma ética, eis que o eterno retorno é um pensar ativo, um desejo, uma vontade, uma leveza, um prazer de se viver intensamente cada instante, sentindo acontecer um traço característico do que se é (NOBRE, 2006, p. 191).
Kant defendia a moral de forma tal que o homem precisaria dela para aprender a ser um homem e atribuía a não ausência de liberdade, mas sim uma responsabilidade por ela, mas sempre vinculado a um agir precedente de uma lei moral. Kant vai mais longe quando afirma que “se pode fazer a razão objetivamente prática também subjetivamente prática.” (OLIVEIRA. 2006, p. 70). À época de Kant, para ele, a ética se dividia em ética pura e a antropologia prática ou moral, ou seja, o direito e a educação como forma de moldar o caráter da pessoa. Como já dito, a forma é a fôrma que nos molda, molda na forma que é preconcebida pelos conceitos morais e cívicos, pela educação construída para enganar e calar a boca dos “olhos que tudo vêem”, a moral. Mas quem, pergunto-me, na ordem do dia, teria o condão de saber o que é moral e ético nos dias de hoje? Na América do Norte, na China, no Vietnã, na Alemanha, no Paraguai, no Brasil, na “minha” cidade, na “minha” casa? Talvez o poder, o poder financeiro. Quem ganha para o sustento teria o poder de ditar as normas e quem se submete a esse jugo, seja por conformismo, conforto ou medo, obedece. Onde estaria a liberdade, então? Na subjetividade. Os escravos quando libertos encontraram-se em situações horríveis, pois da noite para o dia, eram livres do jugo da cangalha e do chicote e ao mesmo tempo de um teto para se proteger das intempéries e do alimento para saciar a fome... Pontos de vista. Quem teria “razão”?
A vivência, a experiência são aspectos que flutuam tanto em Nietzsche quanto em Kant e em diversos outros pensadores equilibrados. Sem ela não há experimento, não há necessidade do intuir, calcular, normatizar.
Penso que Nietzsche não era um crítico de Kant, mesmo porque este também nunca negou o estudo empírico do homem na sua ética. Kant condenava outros moralistas que ignoravam a natureza humana: “[...] as pregações nos púlpitos são vazias em seu conteúdo, se o pregador não observa simultaneamente a humanidade.” (OLIVEIRA. 2006. p. 72). Nietzsche parecia demonstrar seu descontentamento com a “forma” como se defendia a moral como estandarte de uma polis politizada, civilizada, ordenada, presa, bitolada.
É importante frisar que existe uma espécie de cabo-de-guerra no interior do ser humano que não aceita e não quer expor sua “imoralidade”, talvez pelo receio de adorá-la, de gozar profundamente em seu secreto de instintos “animalescos” tidos como imorais. Instintos estes que ele tão forçosamente busca esconder como um pecado dos demais e de si próprio, com temor de que os conceitos morais construídos o excluam da sociedade, a exemplo de um Don Juan, de um Marquês de Sade, de uma Lucrécia Bórgia. O que separava Nietzsche de Kant não era a ideia de dever, mas sim a reinterpretação em um conteúdo anti-humanista e antiuniversalista. Onde Kant condenava o espírito e sua vontade ao universo genérico do humano como base de sua liberdade e pessoalidade, Nietzsche afirmava que o si próprio era um ato explicitamente egoísta em que não se busca o universal humano mas sim o particular cósmico (NOBRE. 2006. p.190).
Por tal, como vivermos numa modernidade onde tudo seria permitido? Em que mundo poder-se-ia viver assim? Existem pesquisas ufológicas – e aqui quero entrar num campo com grandes parênteses – que dizem existir raças espaciais que desconhecem os sentimentos e por tal agem sem remorsos, sem o fator “consciência”. Se assim o é, seria possível vivermos assim no singelo Planeta Terra? Devemos buscar o universal humano ou o particular cósmico? Não seria melhor àqueles ditos seres conscientes, repletos de phatos, que buscassem o “particular” para só então nos solidarizarmos com o “humano”?
Um cachorro ataca um gato e aquele chacoalha este até sua vida extinguir-se; então larga os restos para trás e, com sua cauda balançando parece demonstrar alegria em ter cumprido sua missão instintiva enquanto se afasta. Nós somos ditados pela supressão, pelo enquadramento moral e ético, desse mesmo impulso instintivo e damos a isso no nome de consciência...
A grande “sacada” de Nietzsche é a experimentação de uma nova “necessidade”, ligada à superação da moralidade escrava: a necessidade da liberação para criar, e talvez assim ser taxado de imoralista. Como meio de conservar o indivíduo na sociedade, o intelecto, a razão age só que se vale da dissimulação que gera a ilusão. À nossa volta, a natureza não dissimula nenhuma das coisas, o homem debilmente se entrega apegado aos prazerosos sonhos atrativos de um “segredo” qualquer.
É preciso regras as quais funcionem e que sejam conscientemente seguidas para se viver, em especial na polis. Caso contrário, o caos humano se instala e tudo vira anarquia. Mesmo um ermitão na fuga solitária de sua caverna distante e oculta precisa de uma rotina a seguir, um método para viver bem, ele sabe onde e quando colher, pescar e caçar; sabe onde defecar e certamente não o fará no interior de seu reduto, eis que sequer um animal o faria.
A própria Terra gira, metodicamente, numa sincronia espacial e numa órbita que chamamos de “sistema” solar. Se um dia ela inventasse de deixar seu compromisso galáctico e parar de girar, simplesmente pelo fato anárquico de fazê-lo, será que gostaríamos? O problema não está na moral ou na ética imposta pela política moderna mas sim na sua forma corrompida e contaminada. “Afirmar incondicionalmente a vida, com toda a maldade, incertezas, experimentações e perigos que lhe são inerentes, é a condição niestzschiana para a criação de novos valores. E o grande valor é a criação de si mesmo.” (NOBRE. 2006. p. 196.)






















CONCLUSÃO

Tanto Nietzsche quanto Aristóteles viveram o que postularam sob seus aspectos até mesmo radicais. Aristóteles terminou por romper com Platão e Nietzsche praticamente com seus amigos todos. Mas ambos fizeram história ao trazerem à lume suas opiniões revolucionárias sobre ética, moral, política, razão e felicidade.
Aristóteles verificou a necessidade de o homem ser feliz através de normas e éticas morais que adviriam de pessoas conscientes as quais conduziriam os demais através de uma política correta. Nietzsche também busca o homem perfeito, mas através de uma nova ordem de questionamentos que quer erradicar do indivíduo o conformismo com as rédeas de um poder contaminado.
Na visão do Filósofo estagirita, na sua ética ou na sua política um bem deveria contribuir para um fim profundamente humano: a felicidade, esse deveria ser o primeiro pensamento dos legisladores. Contudo, parafraseando o Professor Cunha, mesmo na nossa sociedade moderna encontramos pessoas de perfis psicológicos que são adeptas da auto-escravidão por natureza, mesmo estando livres.
Aristóteles, no final do Livro X de Ética a Nicômaco, esclarece que as constituições devem ser elaboradas pelos pensadores atuais de forma que se examinadas observem-se as espécies de influências que elas exercem, ou seja, quais preservam o Estado e quais as destroem, por que algumas são bem aplicadas e outras não. Com isso em vista, ter-se-á uma perspectiva de quais leis (através dos costumes locais) convém utilizar a fim de ser a melhor possível.
Nietzsche participava da opinião de que cada um deveria inventar para si a sua virtude e o seu imperativo categórico, o que não foge muito da que postulava Aristóteles acima destacado, qual seja, uma lei deve ser apoiada na ética e na moral de seu povo. Na modernidade já há não muito espaço para a criação. O que vale é a “lei” da cópia. Se funcionar em um lugar, deve ser universal. Mas não é bem assim. As cópias de leis devem ser analisadas, pesquisadas consoante os costumes do local onde serão aplicados. Temos em nosso um país um exemplo destoante desse tipo de cópia mal elaborada. O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma tentativa moral e ética de se ordenar a vida dos jovens através de estatutos vindos de outro país e que não se adequaram perfeitamente à nossa nação onde, até hoje, opiniões divergem quanto ao fato de uma criança na faixa de seus 12 a 17 anos não ter nenhuma atividade que lhe oriente na vida, excetuando os estudos convencionais.
O ser humano usava seu intelecto a seu próprio favor, para seu bem; agora ele é escravo do intelecto que faz o que quer e engana o indivíduo para sobreviver, como um elemento denso agregado em seu espírito. Kant dizia “se a razão não quer se submeter à lei que ela se dá a si própria, tem de se curvar ao jugo das leis que um outro lhe dá”. (EUZÉBIO. 2007. p. 65).
Verifica-se que na modernidade o ser humano passou a ter suas percepções das coisas e da natureza restritas aos “retângulos”. Tudo lhe advém através de um livro, de uma revista, jornal, TV, monitor de um computador, ou seja, através da ótica experimentada, copiada, plagiada de uma pessoa para outra, sem o gosto do viver aquela informação cultural. Nietzsche era categórico a esse respeito. Inclusive no que se diz à observação do verdadeiro, da busca pela verdade. Essa não pode ser transmitida ao outro, sequer sermos um orientador para o curso da mesma, pois assim estaremos induzindo o próximo sob o meu ponto de vista já digerido e mastigado internamente. Contam as histórias bíblicas que quando Pilatos indagou a Jesus sobre a verdade este se calou; quando os discípulos indagaram a Buda sobre a verdade este deu as costas aos mesmos, aí está! Mesmo este insignificante texto pode querer demonstrar sabedoria e conhecimento, mas olho todo o material que pesquisei, o que li, os insights que tive ao me aprofundar em suas leituras, e todas minhas notas ao pé dos mesmos e percebo que não consegui transmitir tudo o que senti e vivi e acabo ficando com uma espécie de nó em minha garganta, uma vontade de dizer, de escrever mais, de tentar explicar a verdade que percebi, que captei. Mas assim estaria sendo um egoísta... E me pergunto: isso seria uma covardia ou um ato sábio de revolução? E mais, tudo isso é uma porção enganosa ou autêntica, levando em conta que o que “vivi” não passa de experimentos de outros?...
Acredito que todos busquemos a felicidade e a verdade. Qual seria então a moral, a ética, a questão religiosa que nos conduziria para uma mentira quando a verdade pode nos conduzir a resultados destrutivos ou perniciosos? Meu pai, no alto de seus 81 anos de idade, sempre me orienta: “Existem mil formas de se dizer uma coisa.” Estaria ele próprio me passando uma sabedoria da mentira, da manipulação das palavras, um falso amor? Ou deveríamos voltar a viver na “matrix” eis que Sião não promete a felicidade que se espera?
O Professor Nobre apresenta uma proposição: “A crença na origem não pode ser recuperada depois que se experimentou o desencanto com as tentativas de se conferir um sentido para a vida.” (NOBRE. 2006. p. 194).
Kant deposita sua fé na educação ao passo que Nietzsche busca uma liberdade louca como um “andarilho que sabe que, para avaliar sem preconceito os preconceitos morais, é necessário ‘abandonar a cidade’ e ‘ir para fora’ e ir ‘para cima.’” (NOBRE. 2006. p. 199).
Precisamos da inteligência nos tempos que vivemos, esta é a razão, pois se tudo é permitido dentro da busca pela verdade, pela liberdade e pela felicidade, implica uma razão lógica que nos conduza individualmente dentro do sistema conceitual em que vivemos que nos possibilite a possibilidade de visões e experiências outras.
Professor Nobre cita Fernando Pessoa em uma passagem poética de cunho auto-explicativo e com ela concluo este texto: “Todo mal do mundo advém de nos incomodarmos uns com os outros.”



























REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Danilo Di Manno de. Uma ética para o corpo. Cidadania e educação transformadora. Disponível em: Acesso em 2008.


ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I e Livro X. [S.l:s.n.:s.d.] Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Ross.


_____. A política. Disponível em: Acesso em 17 maio 2009.

CUNHA, Mariana P. S. da. Sucedâneos à ética clássica: Reflexões sobre o agir humano e o além do homem nietzscheano. Disponível em: Acesso em 17 maio 2009.


CUNHA, Paulo Ferreira da. Aristóteles. Filosofia do Homem: ética e política. Disponível em: Acesso em 20 maio 2009.


EUZEBIO, Marcos Sidnei Pagotto-. Considerações acerca da Fundamentação da metafísica dos costumes de I. Kant. Liberdade, dever e moralidade. Disponível em: Acesso em 18 maio 2009.


NASCIMENTO, Rodnei. A política no mundo moderno: Autonomia da política em o príncipe de Maquiavel. Guia de Estudos. Ed. Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo - SP. 2009. 91 pp.


_____. Introdução à filosofia política: A unidade entre ética e política na antiguidade clássica. Guia de Estudos. Ed. Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo - SP. 2009. 91 pp.


NIETZSCHE, Friedrich. Verdade e mentira no sentido extramoral. Extraído de Oeuvres Philosophiques Complètes, I, 2, Écrits Posthumes: 1870-1873; Paris: Ed. Gallimard,1975, pp. 275-290. Tradução, apresentação e notas por Noéli Correia de Melo Sobrinho. Disponível em: Acesso em 17 maio 2009.


NOBRE, Renarde Freire. Nietzsche e a estilização de um caráter. Disponível em: Acesso em 20 maio 2009.


OLIVEIRA, Mário Nogueira de. Para inspirar confiança: considerações sobre a formação moral em Kant. Disponível em: Acesso em 20 maio 2009.
PANSARELLI, Daniel. Ética filosófica: conceito e origem. Guia de Estudos. Ed. Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo - SP. 2009. 91 pp.


SANTOS, Rosângela Firmino dos. Breves considerações em “verdade e mentira no sentido extra-moral” em Nietzsche. Disponível em: Acesso em 18 maio 2009.


SARDI Sérgio Augusto; MÜLLER, Felipe de Matos. Questões que afetam nossa vida. Jornal Mundo Jovem. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS. Junho de 2009. Ano 1, número 3.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A RELAÇÃO ENTRE RAZÃO, ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES

Realizar uma dissertação sobre o trabalho de alguém já não é tarefa grata para pessoas devidamente habilitadas. Realizar uma dissertação sobre o trabalho de um alguém do vulto do grande Aristóteles não é tarefa grata para muitos, em especial para incipentes neófitos à Filosofia... Como lançar uma opinião sobre temas tão profundos e de ordem social tão importantes quanto razão, ética e política? Necessário se faz ter uma base e minha base é singela e pífia para querer demonstrar conhecimento sobre a temática. Todavia, procurarei esboçar uma opinião fundada em textos me ofertados e pesquisas realizadas.
Aristóteles precisava sair do mundo das ideias para o mundo concreto, onde pessoas de carne e osso viviam, sentiam, amavam, guerreavam, comercializavam. A polis crescia e com ela a necessidade de uma vida em comum a necessidade de reger a vida do cidadão para que o cosmos pudesse reinar era imprescindível. Para tal a mente brilhante de Aristóteles fremia de pensamentos que trouxessem a ordem e evitasse um caos.
Par isso não bastava unicamente nascer e ser um fruto do divino, mas sim manter-se reto e dedicado em um foco, uma meta, cujo objetivo era ser o exemplo vivo de sua obra viva. Como postular aos demais que compreendessem suas posturas e seus ensinamentos se ele mesmo não vivesse de modo a corroborar suas colocações? Ora, se não nascemos virtuosos, tal capacidade necessita unicamente de nossa postura, pois, segundo destaca o Professor Paulo Ferreira da Cunha em seu texto “Aristóteles – Filosofia do Homem, Ética e Política”, “As virtudes estão assim nos homens [...] em potência”. Ou seja, é colocando em prática a própria virtude que se alcança cada vez mais e mais os degraus da mesma. Isto, porém, só pode ocorrer quando se sabe o que faz e para tal é necessário valer-se do uso da razão! Um exemplo do Professor que abrilhanta seu texto é o do paciente que não pode se curar apenas e tão somente concordando com o diagnóstico médico sem dar conta das receitas lhe indicadas para o tratamento.
É por isso que Aristóteles foi considerado o primeiro sistematizador das coisas políticas (dentre outras, como um estimável pedagogo sociólogo, fundador do direito constitucional com seus diferentes ramos, histórico, nacional, geral e comparativo; que criou a ciência política no sentido de que, estabelecendo a dinâmica e medindo o rendimento das instituições, ela ultrapasse o direito). (http://ateus.net/ebooks/geral/aristoteles_a_politica.pdf. Acesso em 17/05/2009). Sua visão era a de que a natureza humana era exclusiva, senão necessariamente uma natureza social e política, com dimensões irrecusavelmente jurídicas. O Homem é um ser da cidade, um animal político.
Aristóteles raciocinou concluindo que cidadão, em suma, seria o homem, mas não apenas por sê-lo, mas sim o politicamente ativo. E diferenciava essa condição ativa dos demais trabalhadores. Por exemplo, um artesão não poderia ser um autêntico cidadão, eis que não poderia ser um político ativo, ou melhor, não encontrava tempo suficiente para dedicar-se à cidadania política, tendo em conta que precisava cuidar de suas tarefas profissionais.
Mas o que conduziria uma pessoa à rumar para as questões de ordem ética e política? A mola propulsora seria a felicidade! Essa felicidade que Aristóteles não compreendia no acúmulo de riquezas ou bens externos – muito embora os considerasse úteis – mas sim o que realmente valia: a inteligência, costumes excelentes, os bens da alma. Ora, a felicidade pública não difere da felicidade privada, em assim sendo, conclui-se que na política, o homem deve encontrar-se feliz, mesmo sem riquezas, apenas com “os bens da alma”. Que exemplo para os políticos de hoje! E isso fica claro em sua “Ética a Nicômaco” quando ele destaca que “[...] a política utiliza as demais ciências e [...] legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano”. (Grifo meu).
De nada vale teorizar sobre isso sem a razão, base para os frutos a serem colhidos – ou o único fruto: felicidade. Cito outro trecho da obra “Ética a Nicômaco” que traz luz ao exposto:
[...] o defeito não depende da idade, mas do modo de viver e de seguir um após outro cada objetivo que lhe depara a paixão. A tais pessoas, [...] a ciência não traz proveito algum; mas aos que desejam e agem de acordo com um princípio racional o conhecimento desses assuntos fará grande vantagem. (Grifo meu).
Nesse sucinto e brevíssimo trecho encontra-se a alma de dois dos pontos necessários à vida na polis politizada: “princípio” e “racional”. A ética e a razão espelham-se no Homem da polis, no homem da política que busca o bem do próximo sem pensar em extrair proveitos de sua atividade. Outros confiam no legislador e querem o melhor para si e para os seus, por tal imagina-se que os que elaboram leis para serem cumpridas sejam exímios conhecedores de virtudes e praticantes das mesmas. Hesíodo já dizia: “Ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas; bom, o que escuta os conselhos dos homens judiciosos. Mas o que por si não
pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, esse é, em verdade, uma criatura inútil.” (ARISTÓTELES, p. 51). A virtude, para Aristóteles estava acima da própria honra e ela em si mesma seria a finalidade da vida política. Nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Esse era o conceito que ele fazia da felicidade, a auto-suficiência, aquilo que em si mesmo torna a vida desejável e carente de nada e a finalidade da ação, do Homem de ação, do animal político, da Política em si.
Mas isso é um objeto de escolha, da ética, do princípio inato. A política não pode - e não deveria – se converter em objeto de prazer, não poderia se tornar mais desejável do que o bem comum; não que não se possa encontrar prazer no ato de politicar, mas esse prazer então deveria ser completo, em todo e qualquer momento, pois assim esse prazer seria cabal e perfeito na “atividade”. Infelizmente o próprio Aristóteles concorda que “todos os seres humanos são incapazes de uma atividade contínua, e essa é a razão de não ser contínuo também o prazer, pois ele acompanha a atividade”. (ARISTÓTELES, p. 224).
O Professor Cunha tem sua própria posição à respeito e, ao que parece, Aristóteles também chega a esse corolário: “[...] a vida virtuosa pode ser mais ativa ou mais contemplativa. E aí não há unanimidade entre os que louvam a virtude em geral”. Por isso há diferenças, e ele completa com Aristóteles:
Uns não dão nenhuma importância aos cargos políticos e consideram a vida de um homem livre muito superior à que se leva na confusão do governo; outros preferem a vida política, não acreditando que seja possível não fazer nada, nem portanto ser feliz quando não se faz nada, nem, que se possa conceber a felicidade na inação. [...] Uns e outros têm razão até certo ponto e se enganam sobre o resto.
Penso humildemente que se o homem é um animal político, não importa se um artesão, um militar, ou um filósofo, todos somos e temos o direito de politizar, diria mais, a obrigação, eis que todos esses elementos estão envolvidos numa busca, seja essa busca contemplativa ou ativa, consciente ou não: a felicidade, que é, na ótica de Cunha “tanto nos particulares como nas sociedades políticas, fruto de uma ação ponderada, previamente refletida. De uma ação fruto da virtude, e de uma virtude pensada.” (Grifos meus).
Façamos um jogo de palavras para fechar esse trecho.
Se a felicidade é a expressão do bem e o bem é a finalidade de todas as coisas, então a felicidade é o fim de todas as coisas. Bem, se a razão é o caminho para o bem (felicidade), logo a razão é o caminho para a felicidade e todas as coisas. E, o homem tem como função dele mesmo o caminho para o fim de todas as coisas. Se a felicidade, ou seja, o fim de todas as coisas, tem sua excelência no intelecto e o homem é o intelecto, logo a felicidade está no homem!